Assim a modos que bocados da nossa história
Vilar de pescadores sempre nos chamaram, a esse núcleo de gentes que vivia nas arribas de «Maçarellos», ocupando o espaço que lhe sobrava dos terrenos à beira da ribeira e os que bordejavam as salinas e o rio. Dividindo o seu tempo entre o amanho das leiras, a criação de algum - pouco - gado e o inevitável apelo ao rio e ao mar. Vivendo «fora de portas», como os seus vizinhos de Miragaia e os a caminho da foz do rio, era na convivência com as águas que se sentiam realizados.
iluminura do missal Antigo, de Lorvão (séc. XIV).
Quando D. Afonso Henriques doou «Maçarellos» à Colegiada de Cedofeita, em 1148, estas gentes ficaram muito longe do seu senhorio e tiveram de superar, por uma luta constante e diária, tal facto, bastando-se a si próprio. Lá no alto, o pinheiro manso, e, depois dele ter sido «assassinado» por um malandro que o secou, descas¬cando-o em 1534, se levantou a torre de pedra que servia de marca - e daí o nome porque ficou conhecida - «Torre da Marca» - era o ponto de guia de que se ser¬viam quando voltavam do mar. A água que corria pelo caudal da ribeira servia para regar os campos e as hortas, depois de aproveitada para mover as pás das azenhas, a que então se chamavam moinhos de água. As azenhas de Vilar (hoje Rua de D. Pedro V), que se foram edificando nas suas margens. E ainda a utilizavam para beber e para lavar as poucas roupas que usavam.
«Eu, Afonso, rei de Portugal, com a rainha D. Mafalda, minha esposa, doa¬mos à Colegiada ou Mosteiro de Cedo¬feita e ao abade, todas as herdades próximas à mesma igreja, e que confi¬nam com a igreja do Porto, pelo lado que se chama Monchique, por Germalde, pelo Monte do Cativo, por Paranhos, assim como estas terras que correm ao Douro, e todas estas herdades, e todo este território dentro dos limites notados o fazemos couto in perpetuum com todos os seus proventos e pertenças, para a Igreja de Cedofeita possuir, tudo em honra da Bem¬-Aventurada Maria Virgem, e do Bem-Aventurado S. Martinho, bispo de Tours, cujas santas relíquias se
conservam neste mosteiro, tudo para remédio de nossas almas, e remissão de nossos pecados. Ninguém, tanto dos nossos como de estranhos, poderá quebrar esta carta de doação. Se porém algum tentar romper esta carta de doação, e devassar este couto, primeiro que tudo seja afastado para todo o sempre da comunhão do Santíssimo Corpo de Cristo. Eu, Afonso, e minha esposa a rainha, mandamos escrever esta carta para memória dos presentes e futuros, e na presença de testemunhas firmamos e roboramos. Feita em Coimbra na era milésima centésima octogésima sexta, ano de 1148, mês de Julho.»
Iluminura do «Saltério de Lutre», do séc. XlII (Museu Britânico, Londres).
Da Foz à Ponte das Barcas, e a todas as que se lhe seguiram, naquele lugar, esta margem do rio era um permanente estaleiro e porto. Nas areias da praia os pescadores encalhavam os barcos ao lado das quilhas e cavernames que iriam dar forma às barcas com que teriam de enfrentar as ondas dos mares do Norte ou do Mar Interior, passando o estreito entre as Colunas de Hércules.
Iluminura de «Li faits des Romains», séc. XIV (Biblioteca Marciana, Veneza).
A luta era dura e diária mas o senhorio estava atento e, em 1237, D. Nuno, pre¬lado de Cedofeita, deu aos seus foreiros a sua lei de bem viver. «Para conhecimento de quantos virem a presente carta de foral: Eu, Nuno Soares, prelado da Igreja de S. Martinho de Cedofeita, e os cónegos da mesma igreja, damos e concedemos às terras da Igreja de Cedofeita, a todos, quer pescadores, ou quaisquer homens, que quiserem aqui edificar casas ou quintas dentro destes limites, a começar no rio Douro no porto de Crastelo, e pelo caminho que vai por cima da casa de Lourenço Boi e daí para a vinha de Marco Garcia, e toca em Carrazedelo, debaixo deste foro: os pescadores que aí vierem habitar, de cada fogo pagarão anualmente um soldo da moeda do Porto, e um sável de cada barco à Igreja de Cedofeita, quando os caçarem por meio de Abril. Pagarão foro das primeiras lampreias e peixes reais, como costumam pagar à mesma igreja, e cada um deles fará uma viagem no rio Douro, sustentando-os a Igreja, e aqueles que não forem pescadores, de cada fogo pagarão anualmente um capão e um soldo, pelo S. Miguel. Se nestas terras habitar algum caseiro que tenha burro, que possa fazer caminho, fará com ele dois caminhos por ano às mesmas terras da Igreja, que lhes dará sustento. Se algum dos moradores cometer homicídio ou calúnia, a pagará pelo foro da cidade do Porto, assim como portatido. (?) Se o meirinho do couto desta Igreja quiser penhorar alguém, o penhore, segundo o foro da cidade do Porto. Se algum homem de fora vier a este porto com barco, e ali ancorar, pagará três dinheiros ao meirinho do couto, e se aí vender pescado, dará peixe do pescado que vender. Damos, e concedemos, dentro dos limi¬tes marcados a todos os povoadores, e aos que lhes sucederem, o que possuírem de juro per¬pétuo. Se alguém destes povoadores quiser vender a sua herdade, a poderá vender ou doar a quem continuar com o mesmo foro, sem que da venda resulte prejuízo para a Igreja. E se alguém, tanto da Igreja como dos moradores, quiser quebrar este novo foral, pague em dupli¬cado ao queixoso todo o dano, e as benfeitorias, e além disso duzentos áureos. Nós, acima dito, Nuno, prior de Cedofeita, e cónegos da mesma Igreja, mandamos escrever esta carta na pre¬sença de testemunhas idóneas, e por nossas próprias mãos roboramos; e para que o pre¬sente foral tenha força e valor, vai selado com o selo do prior e convento. Feita esta carta no mês de Setembro de 1237.»
Do «Livro de Horas», de D. Manuel (mês de Abril).
E depois havia o sal das salinas de Massa¬relos, o vinho verde do Minho, o vinho fino que manava do Douro, a própria carne salgada... A colegiada para fazer concorrência aos marnoteiros de Matosinhos e de Leça da Palmeira, mandou abrir, na praia de Massarelos (mais ou menos onde hoje termina a Rua da Restauração) uma série de talhos - tabuleiros onde se depositava o sal - o que deu logo lugar a inúmeras contendas, quer com os de Massarelos, quer com a Coroa e, por fim, entre os Cónegos e o Bispo. Foi D. Dinis, a 7 de Julho de 1280, que por alvará régio, terminou com a situação, concedendo ao Dom Prior de Cedofeita o privilégio do seu couto «sobre se não embargar pelos oficiais del-Rei tirar-se o sal das marinhas de Maçarellos».
Às vezes confundiam-se ou enganavam-se acerca do nome. Se calhar era fruto de os nossos primeiros reis até nem sabiam ler ou escrever. Mas o caso é de uma carta de D. Afonso IV, datada de Lisboa, 3 de Julho de 1325 (e publicada no Corpus Codicum Latinorum - 1.º volume), onde se diz: «couto de Cedofeyta ha uma aldeia que chamem Maçorellos(sic) e que os homens que moram na dita aldeia viveram sempre por pescaria e dos saveis e lampreias que pescam.» Bons tempos senhor D. Afonso, esse do rio com sáveis e lampreias...
Ainda antes de D. Afonso Henriques conquistar Lisboa aos mouros, já os homens do Burgo, os de Massarelos e os de Miragaia iam às feiras de S. Demétrio, na Tes¬salónica, ou à da Macedónia, ao fundo do golfo da Termaica. Foi lá que conheceram os produ¬tos do Oriente, que vinham de Constantinopla ou do Mar Negro. E, por certo, foi lá que os cristãos arménios os conheceram e deles se lembraram quando, fugindo aos turcos, em 1453, vieram até às nossas terras com as relí¬quias de S. Pantaleão, martirizado em 1305, em Nicodémia, e que haveria de ficar como patrono do Porto. E que viagem, e que con¬fiança... Passar por tantos reinos cristãos, para se virem acolher entre os amigos das águas do Douro... Pelos vistos já nessa altura se sabia, e lá nos confins do Mediterrâneo, que amigo do Porto é amigo de porta sempre franca e para sempre...
Iluminura do séc. XIII (Biblioteca Marciana, de Veneza).
Claro que para chegar às ilhas da Hélade tocavam os de Massarelos, e os outros das mar¬gens do Douro, em portos de escala catalães e maiorquinos e trocavam impressões sobre car¬gas e fretes e a maneira de se construírem barcos ou navegar no Mar Interior. E admi¬ravam as velas dos cáravos e os conhecimentos que só sarracenos tinham de orientação pelas estrelas e como falavam das viagens para o sul, para as medonhas zonas onde o mar fervia e a terra se acabava e cada qual ia acrescentando um ponto (ou mais ...) ao que tinha feito ou que sabia que o vizinho sabia que outros diziam ter efec¬tuado... ou vislumbrado...
E que contactos se estabeleciam com as gentes que adoravam a Alá... Anda¬vam os grandes senhores, com os reis à frente, à pancada com os muçulmanos, quando afinal eram homens como nós, sempre prontos a negociar e a trocar mercadorias. E as morabitinas almo¬rávidas e depois as dobras e os mas¬mudi almóadas eram de bom e leal oiro. Corriam melhor, e em qualquer feira, na Europa, que as moedas que os cris¬tãos cunhavam, a tentar imitá-los. E sem¬pre prontos a conseguir grandes cargas de açúcar para os de cá levarem para o Norte. Pena foi que, em 1194, tivesse naufragado um barco, nas costas da Flandres, com grande carga de açúcar muçulmano, algum até carregado no porto de Bugia.
No Mediterrâneo Oriental compravam tecidos e algumas especiarias caras e ouviam falar das Índias e das caravanas cameleiras, de monções e de riquezas que os genoveses e milaneses comemoravam e comercializavam nas feiras do Norte. Aliás os prazentins, os genoveses, os lombardos, os galos, os catalães, os corsins e outros também vinham até ao Douro e no século XIV haviam de se fundar verdadeiras colónias, entre nós. Os de cá também tinham contactos com os agentes dos ricos Bardi e também eles se havia de, em 1338, vir estabelecer em Lisboa.
Iluminura das «Cantigas de Santa Maria», de Afonso X, o Sábio (Mosteiro de S. Lourenço do Escoria).
Nas feiras do Norte, em Lille, em Gand ou em Bruges, também conviviam com os naturais dessas terras ou com outros mercadores. E grande foi a chacota que os nossos fizeram quando os outros pasmaram de ver a loira D. Teresa (depois cha¬mada Matilde), filha do nosso primeiro Rei, casar em 1194 com o Conde da Flandres. Aliás quase trinta anos depois, mais precisamente em 1211, D. Fernando, sobrinho de D. Teresa, viria a casar com D. Joana, condessa da Flandres, filha do conde Balduíno;
Em 1197 já os portugueses tinham ali criado uma feitoria que iria servir de ponto de apoio para outros contactos mais a Norte e, de certo modo, consolidar as invasões comerciais em terras de francos, à semelhança do que eles faziam no Porto. Já desde 1179 que os barcos franceses pagavam dízimo ao nosso primeiro Rei, quando entravam na Foz do Douro.
Em 1226 instalaram-se os de cá em La Rochelle e daqui há que percorrer toda a costa norte da França. Em 1242 vão até Baiona, nas águas do Adur, e Bordéus, na foz do Garona. Em 1253 os portugueses estão nos principais centros de língua franca - Abeville, Saint-Ouen, Chartres, Arras, Caen, Bruges, Ipres, Gand, Tournai, Ulle, os portos da Normandia ou da Bretanha - e a impor¬tação é tal que D. Afonso III, ele próprio casado em 1238 com D. Matilde de Bolonha, se vê obrigado a pôr, como rei, o assunto nas Cortes de Leiria, em 1254.
Pesca nocturna com candeia - Ilurninura do séc. XI (grega) [Biblioteca Nacional de Paris].
Quando Filipe, o Belo, proíbe os flamen¬gos de entrar nas feiras de Champagne e de Beaucaire, são os portugueses que beneficiam ocupando esses lugares, e, em 1290, instalam¬-se em força no porto de Harfleur, no estuário do Sena.
A sua forte presença é tal que são especial¬mente mencionados no tratado comercial fran¬cês, de 1309. Filipe, o Belo, em 1310, renova os privilégios aos «mercatoribus portus por¬tugalie», entre os quais «mercatoribus» havia gente de Massarelos e vizinhos.
Em 1315, em Ruão, os mercadores do Porto virão mesmo a manter correctores próprios para toda a Normandia. E, em 1341, é que é o bom e o bonito. O rei de França, Filipe VI, vai ao ponto de assinar um verdadeiro tratado comercial com os «marchands et gens de la cité du port de portingal», tratado esse que os seus sucessores, durante o século XV, irão ratificar, chegando mesmo a acrescentar maiores facilidades para que os do Porto não vão comerciar mais a Norte.
IIuminura do «Apocalipse», de Lorvão.
Mas, e apesar da decidida oposição dos francos e belgas, as gentes de «Massare¬los» seguiam a moda e iam percorrer os circuitos comerciais do Mar do Norte. Já em 1384 chegam, a Mildeburgo, umas vezes por conta própria, outras por conta de genoveses e afins. Em 1371 chegam a vários portos ingleses e em 1386 levam panos valencianos até Londres e vão buscar peles às Ilhas Sandwich para as levar para a Zelândia.
Bem, isto é o que era oficialmente declarado, mas os senhores reis não sabiam (ou se calhar até sabiam e até lhes convinha...) que eles já tinham ido a todos esses luga¬res e a outros lá do Norte, muito antes destas datas.
Charles Verlinden, esse extraordinário historiador de língua francesa, em 1949, escreverá na Revista Portuguesa de História, em Coimbra: «Mildeburgo se irá trans¬formar no centro de irradiação dos mercados da Zelândia, sobretudo durante toda a primeira metade do século XV.» Já antes lá tinham estado e foram dos que ajudaram a este desenvolvimento e a chegar até Arnemuiden e a Lubeck. Foi por isso que os de lá vieram ao Douro e ao Tejo, e também os de Dantzig, com quem também, aliás, já comercializávamos. Mas verdade, verdade, é que antes de aparecerem estas coisas em documentos, já os seus avós se tinham habituado a andar com os seus barquitos entre os «camones», como eles diziam. Logo no século XII por lá andavam a pescar e a comerciar - e aquele raio dos «camones» como gostavam do vinhinho que eles levavam nos seus pipitos para com¬bater o frio e a sede - e de tal maneira o faziam que o Rei João Sem Terra, em 1203, ver-se-á obrigado a permitir a livre circulação e até a fixação de mercadores portugue¬ses em terras de Albion, sob sua directa protecção. Em 1220 renova o privilégio, em especial para Londres. Bartolomeu de
Portugal e outros três portugueses vão¬-se aproveitar disso e fixam casa comer¬cial em Londres, até 1226. Aliás seráneste ano que o rei inglês irá passar mais de cem salvo-condutos a merca¬dores portugueses.
Retábulo de S. Nicolau de Bari, pintado em 1406, por Jaume Cabrena (Museu Histórico, Manresa).
Tudo leva a crer que, em 1283, havia já correctores próprios da gente portu¬guesa em Londres. Em 1294, D. Dinis procurará estabelecer um tratado comer¬cial entre Portugal e a Inglaterra a nível real, a tentar sanar as contendas que se iam levantando, por força das intrigas dos comerciantes franceses.
Eduardo I, de Inglaterra, procura, por seu lado, por cobro aos mesmos problemas,
pela «Carta Mercatória», de 1303. Em 1352 os mercadores portuenses Domingos Clérigo, João Rodrigues e Salvador Ferreira conseguem obter para si e para outros portugueses, na linha do que já tinham conseguido de Filipe, o Belo, em 1310, e de Filipe IV, em 1341, grandes facilidades (o primeiro a chamar-lhes «dilectis nostris mercatoribus Portus Portugaliae» e o segundo a incluí-los nos «marchans et genz des dit royaumes de Portugal et de Algarve»). E, em 1353, Eduardo II, de Inglaterra vai mesmo efectuar um tratado entre «gens, marchands, marineres et comunaultés de la marisme des cités et villes de Ulixbon et du Porto de Portugal». Bem as gentes cá do burgo tinham sido representadas, neste tratado, pelo mercador portuense Afonso Martins Alho, que hoje justa¬mente se homenageia em nome de rua no centro da cidade. Mas é bom tomar nota disto: não é com o Rei de Portugal que o Rei de Inglaterra quer estabelecer o tratado mas com os mercadores das cidades de Lisboa e Porto...
Relevo da época galo-romana.
E, para terminar de citar, e não porque não haja muito mais de onde o fazer, lembremos o Duque Alberto, da Baviera, também em 1390, ao incluir as nossas gentes entre os «marchands, maitres de navires et sujects portugais».
Claro que, por vezes, os de Massarelos exorbitavam e até contrabando de sal¬ - é verdade, de sal! - Iam fazendo para Harfleurs e outros portos franceses. Mas o risco era muito e, quantas vezes, se perdiam haveres e vidas em naufrágios ou apresados por piratas. Foi por isso que, em Maio de 1293, nasceu a nossa «Confraria das Almas e do Corpo Santo», mas isso são contas para outra parte deste rosário.
Atravessando o período medieval, a vida vai prosseguir remançosa por estes lados essas tratemos quando falarmos da «Confraria». No registo de Abril de 1758, a paró¬quia de Nossa Senhora da Boa Viagem, já considerada como freguesia do termo do Porto, era ainda e só constituída por 219 vizinhos, ou seja duzentos e deza¬nove agregados familiares - ou fogos como se dizia então (e ainda hoje)¬com uma população de 550 indivíduos de ambos os sexos presentes, 160 ausen¬tes, todos de maioridade e 90 de menori¬dade presentes também, o que dava um total de 800 pessoas. Bem os ausentes deviam ser os que andavam embarcados ou a comerciar lá fora, já que ainda não tínhamos sido atingidos pela necessidade de emigrar para sobreviver.
Cidade flamenga, da segunda metade do séc. XV, segundo uma iluminura de Jean le Tavemier, nas «Chroniques et Conquetes de Charlemagne» (Biblioteca Real de Bru¬xelas Como diz Pinho Leal no 7.2 volume do seu «Portugal Antigo e Moderno», em 1856, em pouco mais de um século a população aumentou 200 %. E Massa¬relos (ainda como paróquia de Nossa Senhora da Boa Viagem) é, juntamente com Cedofeita, anexada ao Porto em 1789 e, claro, não podia ficar isenta ao aumento verificado.
E as casas da Rua do Corpo Santo, do Cristelo, do Adro, da Calçada-sobre-o¬-Douro e da Viela da Praia (as que existiam junto ao rio) foram-se ligando às que existiam no Casal do Pedro, na Rua da Fonte de Massarelos, na Maceirinha (era assim que nesse tempo se escrevia), às da Rua da Flora, do Outeiro, dos Moinhos, das Escadas do Roleto, do Campo do Rou, da Viela das Pedras, e começam a subir as encostas pelas Azenhas de Vilar, pelo Gólgota, pela Pena, por Entre-Quintas, pela Rua da Boa-Viagem (hoje chama-se Capitão Eduardo Romero), pela Viela do Monte, pelo Picoto, do Zé da Mestra, da Galinha (hoje Trav. da Boa Viagem) e surgem já as casas dos planaltos que bordejam a antiga Massarelos.
Ponnenor da «Alegoria do Bom Governo», fresco de Ambrósio Lorenzeui, no Palácio Público de Sena.
Que já pertenciam ao Porto verifica-se, por exemplo, pelo «Livro de Maneio» onde se lê «Lançamento da décima que hão-de pagar os moradores da freguesia de Nossa Senhora da Boa Viagem de Massarelos, pelos maneios e agências neste ano de 1783»:
Mas outra gente ia desco¬brindo a nossa gente. E os senho¬res ingleses - e alguns portugue¬ses de posses e não menos bom gosto - começam a encontrar lugar em Massarelos para instalar as suas quintas e casas, normal¬mente muradas e em locais pri¬vilegiados, de bons ares, boas águas, boas sombras e magníficas vistas, sobre o rio e o mar.
O Padre Agostinho Rebelo da Costa, na sua «Descrição Topo¬gráfica e Histórica da Cidade do Porto», e ao referir-se às quintas e vivendas de Massarelos, escreveu, em 1788 que «Raríssima haverá da qual não goze vista do rio e do mar, raríssima a que não tenha dentro dos seus muros copados bosques de frondosos castanheiros, carvalhos e outras árvores pomposas. As casas de campo são, pela maior parte, rodeadas de espessos arbustos que trepando até ao cume dos telhados, representam aos olhos agradáveis labirintos semeados de jasmins, martírios e de muitas outras flores, cuja variedade e cheiro suavíssimo é o encanto dos sentidos».
Bem, mas às quintas nos referiremos no seu lugar próprio.
As invasões francesas e as lutas liberais interrompem estes momentos de paragem, porque os de Massarelos não são gente para se ficar a ver no que paravam as modas. E, a exemplo do que tinha acontecido com D. João I, com os Filipes, voltam a estar do lado da liberdade e vão, como sempre, defendê-la com teres e haveres. E se estes são poucos, a preciosa vida é não menos pouca para em luta constante manter de pé o seu direito a serem portuenses livres e verticais.
Baixo-relevo de uma casa da Rua do Bicalho.
Guerras acabadas nova vida surge e, entre ingleses, alemães, barões e quejandos, vai surgir a indústria nesta zona e, com ela, os bairros operários que a tal estão inerentes em toda a cidade. A mão¬-de-obra barata tinha de viver ao lado dos locais de trabalho, que os orde¬nados não davam para grandes trans¬portes e as famigeradas ilhas por¬tuenses começam a surgir em força no Campo Pequeno, na Materni-dade, em Miguel Bombarda, em Vilar, no Campo do Rou, em Entre¬-Quintas, na Rua da Piedade, no Cru¬zinho, no Campo Alegre... e, vergo-nha das vergonhas, algumas ainda existem...
Baixo-relevo do Museu do Vaticano.
Massarelos já era freguesia do Porto, por Decreto de 4 de Dezembro de 1832, assinado por Rodrigues da Fonseca, e Ricardo Jorge no seu «Demografia e Higiene da Cidade do Porto», de 1899, considera-a uma das oito freguesias da cidade que se devem considerar urbanas, juntamente com a Sé, S. Nicolau, Vitória, Santo Ilde¬fonso, Miragaia, Bonfim e Cedofeita. Foz, Lordelo do Ouro, Paranhos e Campanhã, ainda são consideradas, em grande parte, do tipo rural. E, só em 1895, é que serão anexadas as três que vieram completarem o actual ramalhete das freguesias do Porto: Nevogilde, Ramalde e Aldoar.
E vamos parar aqui este bosquejo da história de Massarelos porque os vários capí¬tulos desta obra serão outros tantos bocados da nossa história (o mesmo é dizer da nossa vida) e que virão completar estes bocadinhos. Como é lógico há muito de nós misturado com o da nossa vizinha Miragaia e até com a cidade muralhada - e não só - mas isso era inevitá¬vel. Não somos, nem nunca o fomos, uma zona estanque sem contactos com O exterior, bem pelo contrário. Nem o Porto, e qualquer que seja das suas freguesias, teve uma vida tão autónoma que se possa dissociar da vida colec¬tiva desta Mui Nobre, Leal e Sempre Invicta Cidade do Porto.
Livro de Horas de D. Manuel (Fevereiro).
Estamos a tratar da freguesia de Massarelos e da sua monografia, mas não nos podemos separar - nem o queremos nunca fazer - e deixar de reivindicar o nosso naco de portuen¬ses que o somos e com muito orgulho.
Fotografia de Teófilo Rego.
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