Embora o compromisso da sua fundação date de 1499, a irmandade da Misericórdia de Vila do Conde foi fundada em 1510. A confraria instalou-se numas casas contíguas à capela do Espírito Santo, tendo decidido em 1522 edificar uma igreja para a irmandade, com respectiva casa do consistório e hospital.
O terreno onde iria ser edificado o templo foi doado por Álvaro Fernandes da Rua e sua mulher, localizando-se na área fronteira ao velho hospital de Vila do Conde. No entanto, as obras da Casa da Misericórdia só se iniciaram em 1559, depois de demolida a capela de São Miguel o Anjo, situada nesse mesmo terreno.
O conjunto edificativo existente, composto pela igreja e pela casa do consistório, apresenta um modelo maneirista, de linhas sóbrias e depuradas. A igreja, de planta rectangular é precedida por escadaria, com portal principal de moldura rectangular ladeado por dois pares de colunas jónicas, num modelo de inspiração serliana, encimado por um conjunto de imagens de vulto, o da esquerda representando Nossa Senhora da Conceição, o da direita figurando a Visitação. A fachada é rematada em empena.
O interior da igreja, de nave única, é revestido por painéis de azulejo de padrão, fabricados na oficina lisboeta de Domingos Francisco e colocados em 1692, no mesmo ano em que foi construído o coro e os caixotões de madeira do tecto, pintados com motivos florais. Os retábulos colaterais, executados em 1662, estão separados da nave por uma grade de pau preto, e decorados por um conjunto de pinturas executado entre 1663 e 1666.
No século XVIII a igreja sofreu algumas alterações na sua estrutura interior. Nos anos de 1743 e 1744 os irmãos patrocinaram a edificação de uma tribuna, desenhada pelo arquitecto Nicolau Nasoni e decorada com talha, da autoria do mestre Manuel Rocha, e encomendaram um novo retábulo-mor, de talha barroca, possivelmente obra do mesmo mestre.
O edifício do consistório, onde terá funcionado também o hospital da irmandade, desenvolve-se em planimetria quadrangular, estando dividido em dois pisos. A fachada, também precedida por uma escadaria, possui portal de moldura rectangular, ladeado por dois janelos. No segundo registo foram abertas três janelas de sacada, duas de moldura rectangular encimadas por friso, semelhantes à porta, outra com arco conopial, de gosto manuelino. Esta moldura, de execução anterior à edificação da casa, poderá ter sido aproveitada da capela situada neste local, demolida para dar início à construção da Misericórdia. A sineira da igreja foi colocada sobre a fachada do consistório.
O actual Auditório Municipal de Vila do Conde foi, outrora, a residência da família Vasconcelos, que habitou este imóvel desde o século XVIII, data da sua aquisição, até à década de 1970, quando os seus descendentes venderam a casa para aí ser construído um Centro Comercial. A intervenção da Câmara acabou por interromper o processo, transformando o imóvel em auditório, sob projecto do arquitecto Maia Gomes (1986), e conservando a antiga fachada.
Não são muitas as informações disponíveis sobre o solar dos Vasconcelos, mas sabe-se que esta construção nasceu da casa sobradada adquirida por Paulo Fernandes para sua habitação, no século XVIII, e do celeiro construído por Jacinto Vieira de Barros, em 1689. A intervenção em ambos os espaços ocorreu na década de 1770, por iniciativa de Paulo José de Lima, que herdara do pai a casa sobradada, e Mónica Esclástica Monteiro de Barros, herdeira do celeiro.
A casa de planta rectangular, desenvolve-se em dois pisos, com fachada seccionada por pilastras. No primeiro piso, abrem-se duas portas e duas janelas, encontrando-se a porta central flanqueada por óculos polilobados e encimada pela pedra de armas dos Vasconcelos. Esta, interrompe o ritmo das janelas e sacada do andar nobre, assentes sobre mísulas e formando uma espécie de friso que acentua a divisão entre os andares.
Esta edificação, que pretendia constituir uma marca de poder por parte de quem a habitava, e que assim impunha à vila a sua ascendência nobiliárquica, integra-se num conjunto de imóveis que, pela mesma época, surgiram em Vila do Conde. A vocação piscatória desta localidade, bem visível nas suas habitações de carácter modesto, passou então a ser pontuada por uma série de casas brasonadas, cujos proprietários tinham ligações de parentesco com as freiras que professavam em Santa Clara.
Texto: (Rosário Carvalho) / IPPAR
Situada junto ao rio, a capela do Socorro destaca-se pela configuração dos volumes que a compõem, e por se encontrar num plano ligeiramente mais elevado, limitado por um murete, a que se acede através de uma pequena escadaria. Este templo insere-se no conjunto de ermidas e capelas de planta centralizada, que surgiram no nosso país no decorrer do século XVII, em maior número na região de Aveiro e Coimbra. Contudo, e ao contrário do que aconteceu em boa parte dos exemplos subsistentes, em Vila do Conde foi utilizado um modelo de planta quadrada, coberto por uma abóbada semi esférica, de grandes dimensões.
A cornija, que remata o corpo quadrangular, exibe uma série de elementos de granito que decoram e animam o volume inferior e, no extremo esquerdo do alçado Norte, uma sineira. A entrada é definida, nesta fachada, por um vão de arco perfeito em granito.
Trata-se de uma edificação seiscentista, erguida no início do século XVII, mais precisamente, em 1603, a expensas do piloto-Mór da Carreira da Índia, Gaspar Manuel, e sua mulher, como atesta a inscrição existente no portal. É possível que o casal tenha patrocinado a construção deste templo com o objectivo de criar um mausoléu, onde ambos pudessem ser sepultados, o que veio a acontecer sete anos depois, em 1610, data em que faleceu Gaspar Manuel. A sua campa (e a sua mulher), rasa mas com brasão de armas e inscrição, mantém-se no interior do templo.
Todavia, neste espaço, é o conjunto azulejar barroco e o retábulo-mor, de talha branca e dourada, de gosto rococó, que se revestem de especial importância, emprestando à capela uma dinâmica e cenografia, próprias de uma época posterior à da sua edificação. Os azulejos encontram-se divididos em dois níveis, muito possivelmente executados em épocas distintas e por artistas diferenciados. Assim, no inferior observam-se cenas de paisagens enquadradas por anjos de grandes dimensões, a que se sobrepõem cenas da vida da Virgem: Adoração dos Magos, Fuga para o Egipto, Jesus entre os Doutores, Apresentação da Virgem, Casamento de Nossa Senhora, Anunciação e Adoração dos pastores. Os painéis figurativos foram atribuídos por Santos Simões ao Mestre P.M.P., o pintor de azulejo activo no primeiro quartel do século XVIII, mas do qual se desconhece o nome. Este, pertence ainda ao denominado "ciclo dos grandes mestres", revelando a ascendência dos Oliveira Bernardes, mas desenvolvendo a sua obra num sentido mais ingénuo e menos erudito. Nos estudos e biografias relativas a este pintor, José Meco tem vindo a manter os azulejos da capela do Socorro no acervo pictórico do Mestre P.M.P., mas sem avançar nenhuma data mais específica para a sua execução.
Texto: (Rosário Carvalho) - IPPAR
É muito provável que a capela de Nossa Senhora da Guia corresponda à ermida de São Julião, existente junto à foz do rio Ave, e referenciada na documentação do século XI, mais precisamente, no inventário dos bens pertencentes ao Mosteiro de Guimarães, com data de 1059. A sua edificação é, portanto, anterior à primeira metade do século XI, tendo incluído, posteriormente, um forte para assegurar a defesa da barra.
Não se sabe, ao certo, a época de construção da igreja que hoje conhecemos, mas tudo indica tratar-se de um imóvel Seiscentista, de arquitectura depurada, e que foi objecto de diversas campanhas de época barroca. Os azulejos da nave assim o indicam, pois o seu padrão de laçarias, identificado por Santos Simões, no seu corpus da azulejaria do século XVII, como P41, é próprio da primeira metade desta centúria, conhecendo-se outros exemplos da sua aplicação, datados de 1636.
A grande reestruturação, ou reedificação do templo deverá remontar, então, a este período, muito embora a depuração arquitectónica que se observa em todo o edifício dificulte cronologias mais precisas. A sua estrutura, com duas naves, e sacristia ao lado da capela-mor, pode denunciar, exactamente, as adaptações e reaproveitamentos de que o imóvel foi alvo. Por outro lado, a abóbada que cobre a capela-mor, não deixa de recordar a próxima capela do Socorro, edificada no início de Seiscentos. Já do século XVIII são os azulejos figurativos da capela-mor, de fabrico coimbrão. Representam o Pentecostes e Nossa Senhora que, rodeada por anjos, protege um barco à deriva num mar revolto.
Não é possível determinar a ocorrência de mais do que uma campanha de obras, mas o corpo correspondente à sacristia deverá ser posterior ao da capela-mor, pois a parede Norte foi demolida, não apresentando os azulejos de padrão que originalmente teria possuído. Por seu turno, estas alterações estão presentes, também, no "(...) beiral de pedra, que hoje está dentro da sacristia, mas antes das obras deveria ter pertencido à parte exterior da capela, mostram que sofreu um grande aumento".
Se as fachadas exteriores não apresentam elementos dignos de nota, o interior surpreende pela profusão de azulejos, talha e pintura, definindo um espaço claramente barroco. O tecto da nave é coberto por caixotões com pinturas de episódios bíblicos, e do lado do Evangelho encontra-se um púlpito com balaustrada de madeira. O arco triunfal, com duas colunas e arco de volta perfeita, integra-se numa composição de talha dourada sobre fundo branco, que engloba os altares colaterais.
Na capela-mor, o retábulo apresenta as mesmas tonalidades, mas é mais tardio, pois a sua linguagem depurada aproxima-se já do neoclássico.
Por fim, o enquadramento envolvente foi alvo de beneficiações, em 1940, com a colocação da cruz no topo da escadaria de acesso a esta ermida, implantada junto ao rio.
Texto: (Rosário Carvalho) / IPPAR
"Do lado Norte da cidade, situada em terrenos arenosos", a pequena capela de Santa Catarina é um templo baixo-medieval ligado às populações piscatórias da zona. A sua história revela um passado de devoção sob a forma de romaria, efectuada ainda hoje a cada 25 de Novembro.
A arquitectura da capela reforça o carácter de edifício-destino de uma importante romaria. Com efeito, estamos diante de um templo de proporções singelas e sem importantes rasgos arquitectónicos ou estilísticos, dotado de alpendre lateral para albergar os romeiros e demais devotos, com um interior resumido aos espaços essenciais de celebração e de assistência.
A fachada principal é bastante simples, de pano único organizado em dois registos, abrindo-se inferiormente o portal, de arco apontado sem arquivoltas ou colunas, e superiormente, uma pequena fresta rectangular. A empena é triangular, truncada por pequena sineira de arco único assente em plataforma horizontal de leve cornijamento. Do lado Sul, em plano ligeiramente inclinado, acompanhando o declive do terreno, existe um alpendre, de telhado de água única prolongando o do corpo do templo e assente em quatro pilares de arestas chanfradas, estando as extremidades poente e nascente fechadas por muretes.
O interior é de planta longitudinal articulando dois espaços, o da nave e o da capela-mor, a que se associa, do lado Norte, uma pequena sacristia. O acesso é feito pelas portas poente e meridional da nave e, para além da relativa profundidade da capela-mor, cujas dimensões são praticamente idênticas às da nave, sobressaem três retábulos de talha: dois deles neoclássicos e localizados no corpo, e o último, barroco, provavelmente da segunda metade do século XVII, composto por quatro arquivoltas (a interior e a terceira assentes em colunas salomónicas) que ladeiam uma ampla tribuna dotada de trono onde se exibe a imagem do orago.
Apesar das escassas referências históricas acerca da capela, é possível estabelecer a sua construção pelos finais do século XV, uma vez que já é mencionada em 1518, num fólio do Tombo Verde do Mosteiro de Santa Clara. A confirmar-se esta cronologia relativa, estamos perante mais um exemplo da multiplicidade de edificações devocionais verificada no final da Idade Média, em particular as pequenas ermidas de romaria, localizadas em pontos chave da paisagem, e por isso mesmo exercendo um poderoso fascínio sobre as populações. As características arquitectónicas do monumento, ainda que sumárias, integram-se bem nesse lapso temporal e nas mais modestas edificações, em particular no Norte e Interior do país.
Mas se a data de edificação se pode genericamente estabelecer, pouco ou nada sabemos acerca do contexto sócio-económico que presidiu à sua edificação ou do próprio entorno urbanístico original. De 1578 é uma determinação municipal para se desafogar o edifício, o que sugere a existência de um aglomerado urbano anexo, a ponto de prejudicar a própria envolvência da capela. Mas pouco mais podemos adiantar.
Outro tema que nos é difícil abordar é a própria função da capela para além de pólo de romaria. Em 1721, as Memórias Paroquiais referem a existência de uma sepultura de clérigo no pavimento, facto que sugere uma função funerária, em particular ao longo da época moderna, altura em que grande parte dos interiores de edifícios religiosos foram cemitério privilegiado. Mas tal informação carece ainda de confirmação e a investigação arqueológica nunca foi aqui desenvolvida, pelo que esta é apenas mais uma hipótese de trabalho.
Restaurada parcialmente em 1992, numa campanha que privilegiou os elementos estruturais e exteriores, é necessário proceder-se a uma intervenção de restauro de património integrado, que permita travar a ruína das obras de talha.
O antigo concelho de Azurara, actualmente integrado no concelho de Vila do Conde, recebeu foral do conde D. Henrique (confirmado por D. Afonso) ainda em 1102. A localidade permaneceu durante séculos como um importante porto marítimo, a par da barra de Vila do Conde; a produção de embarcações nos seus estaleiros contribuía para o seu funcionamento como um centro de dinamização da expansão ultramarina. A importância estratégica de Azurara não lhe garantiu novo foral manuelino, mas da passagem de D. Manuel por estas terras, em 1502, resultou um forte impulso no avanço da edificação da então matriz, a Igreja de Santa Maria, no adro da qual se ergue o pelourinho, diante da fachada Norte e junto da entrada lateral.
O soco é constituído por dois degraus circulares, de parapeito. Sobre estes assenta uma singela base prismática, rematada em calote, sustentando o fuste, liso e de seção circular. O capitel é verdadeiramente o remate do pelourinho, em forma de urna, constituída por meia calote esférica decorada com dentículos de tipologia clássica, e por um pescoço sobre o qual se levanta um espigão de ferro. O conjunto inscreve-se geralmente entre as muitas picotas manuelinas que então se ergueram por todo o território; no entanto, e pese embora o apelo da proximidade da igreja referida, cuja construção contou com grande auxílio e interesse da parte de D. Manuel, será de considerar que pelo menos o remate do pelourinho é de elaboração posterior.
Desconhecem-se as origens exactas desta ponte. Em 1136, a povoação dos Arcos já existia e o topónimo não pode ser dissociado de uma primitiva estrutura de passagem que aqui existiu, cuja relevância regional, monumentalidade e, muito provavelmente, antiguidade, conferiu à localidade o seu próprio nome, confundindo-se ambas as realidades. Tal facto assegura que, logo nos inícios do século XII a ponte já existia, mas não conseguimos identificar a época precisa da sua primeira configuração, sendo certo que pode ter pertencido ao período romano, embora nenhum elemento material o sugira.
Na Baixa Idade Média, a estrutura integrou o principal caminho do entre-Douro-e-Minho que ligava o Porto à Galiza. "Por ter menos uma légua que a estrada por Braga com o mesmo destino, este parece ter sido, segundo alguns indicadores históricos, o caminho mais seguido para Compostela", sintomaticamente designado por karraria antiqua ou via veteris. Assim, o caminho até agora identificado ligava a cidade da foz do Douro à ponte sobre o rio Ave e ao Mosteiro da Junqueira. A partir daqui, precisamente pela ponte dos Arcos, o itinerário dirigia-se para Rates, local de um dos mais importantes cenóbios nacionais dos séculos XII e XIII e ponto central na densa malha de caminhos da região, seguindo depois para Barcelos. A vantagem desta estrada não era só sobre a de Braga, mas também em relação a um outro eixo viário ainda incipiente nesta altura (mas de grande sucesso nas épocas moderna e contemporânea), que privilegiava as zonas do litoral. Este caminho, conhecido como da "Beira-Mar", tinha várias desvantagens, entre as quais o clima mais ventoso, as dificuldades inerentes à passagem sobre as fozes dos rios e a inexistência de verdadeiros centros urbanos, como Braga, Guimarães ou Barcelos.
Provada a centralidade de São Miguel dos Arcos no contexto regional em que se insere, importa deixar claro que a estrutura que hoje observamos dificilmente corresponderá à referida em 1136. Muito menos parece ter tido a sua origem em 1144, segundo uma inscrição recente, gravada em silhar das guardas da estrutura, informação eventualmente lendária e transposta para a pedra "por ocasião de alguma reparação executada na ponte". As suas características construtivas são se afastam do período românico, mas é provável que date já do século XIII, centúria de grande actividade construtiva na área da pontística.
Tipologicamente, estamos perante uma estrutura harmónica e simétrica, com um arco maior central ladeado por outros dois, de menores dimensões e idêntico perfil entre si. Os vãos são volta perfeita, compostos por aduelas compridas e estreitas, de extradorso ligeiramente irregular e o arco médio apresenta algumas fissuras entre as aduelas e o núcleo de enchimento. Como sistemas de reforço estrutural existem dois talhamares triangulares a montante, a ladear o arco central, e outros dois a jusante, de secção rectangular. O enchimento é feito com silhares relativamente bem aparelhados, dispostos horizontalmente, apresentando algumas fiadas alguns sinais de desagregação. O tabuleiro é em cavalete de dupla rampa, com acentuado pronunciamento proporcionado pela composição harmónica dos vãos, e é protegido lateralmente por guardas em granito.
Em anos recentes, a parte superior da ponte foi alvo de melhoramentos, contando-se o revestimento do pavimento e o prolongamento das guardas com estruturas metálicas e grelha de arame. Antes disso, em 1908, erigiu-se, num dos acessos ao pavimento, um padrão comemorativo dos Viscondes de Faria Machado e um conjunto de alminhas. Classificada desde 1982, tem-se assistido, nos últimos anos, a um progressivo desgaste estrutural, a que a passagem de trânsito rodoviário de ligeiros não é alheio. Para além disso, as margens necessitam de melhor regularização de caudais e a própria ponte é ameaçada por arbustos, cujas raizes penetram fundo na estrutura.
As origens do convento de São Francisco de Azurara permanecem, ainda hoje, por esclarecer, não sendo possível confirmar a tradição sobre a eventual permanência nesta localidade dos templários, no local onde depois se ergueu o convento dos Capuchos. Certo é que esta instituição conventual existia já em 1518, mantendo-se como Casa de Noviços até 1588. Nesse ano, a ruína em que se encontrava levou à transferência dos noviços para São Frutuoso, em Braga, onde permaneceram até 1677. De facto, não sabemos como eram as primitivas instalações, que foram objecto de uma reedificação, iniciada em 1591.
As obras no convento prolongaram-se durante várias décadas e, em 1674, há notícia da demolição da igreja. As suas obras ficaram concluídas, apenas, entre 1750 e 1755, anos em que foram terminados o coro e a fachada, e colocadas as imagens nos respectivos nichos. O templo é antecedido por uma galilé, formada por três arcos de volta perfeita (de maiores dimensões o central) a que se sobrepõem dois nichos e, ao centro, uma janela para iluminação do coro alto. Entre o arco e esta última, encontra-se, em local de grande evidência, o brasão da Ordem. Remata o frontispício um frontão contracurvado, cujo nicho aberto ao centro do tímpano exibe a imagem de Nossa Senhora dos Anjos, a quem o templo foi dedicado. O corpo lateral corresponde ao acesso da sacristia, apresentando uma torre sineira de duplo sino, como remate. Será este o sino aí colocado em 1731, ano em que se procedeu à execução do próprio campanário, uma vez que o novo não cabia no espaço do antigo, cita documento do Cartório do Convento, do Arquivo Distrital do Porto).
No interior, o templo desenvolve-se em nave única com capela-mor rectangular. Apresenta dois púlpitos de talha dourada e, no coro alto, o cadeiral com três dezenas de lugares foi acrescentado em 1755. O altar-mor, também de talha dourada, exibe a imagem da invocação do templo, na tribuna (executada pelo entalhador João Correia da Silva), ladeada pelas de São João e de Santa Ana.
No corpo da igreja situam-se os altares de São Francisco e Santo António, com as respectivas imagens dos santos franciscanos. Contudo, a capela de maior importância é a de São Donato, mártir de grande devoção por parte dos mareantes, e cujo corpo, "inteiro e incorrupto", foi trazido de Roma por Frei Francisco de Azurara, e depoistado nesta igreja a 28 de Abril de 1757. A capela, erguida a expensas do referido frade, ficou concluída em 1760, conforme se pode ler em duas inscrições existentes neste espaço.
Com a extinção das ordens religiosas, o convento de Azurara foi vendido a José Monteiro da Silva, natural de Vila do Conde que, mais tarde duou o imóvel a Ezequiel Carneiro Pizarro Monteiro, família na qual o convento se manteve até 1930, ano em foi novamente vendido. Actualmente e, desde 1990, é propriedade da Ordem Terceira de São Francisco de Azurara.
Texto: (Rosário Carvalho) / IPPAR
Enquadramento
Urbano, isolado, separado por muro e jardim.
Descrição
Planta rectangular, composta, com volumes articulados horizontalmente, cobertura exterior de telhado diferenciado em várias águas, possuindo ao centro torre amansardada com janelas de arco de volta perfeita, de duas folhas. Fachada principal com embasamento de granito, formado por três corpos separados por pilastras e de dois pisos separados por friso. No corpo central abrem-se, ao nível do 1º piso, dois portões de arco abatido nos extremos, seguidos por pequena janela gradeada, de uma porta de verga recta e duas outras janelas iguais; no 2º piso, oito janelas de sacada com arco abatido, guardas de ferro e bandeira superior com vidros formando flor. O corpo da direita possui portão de arco abatido ladeado por duas janelas gradeadas no 1º piso e três janelas de sacada iguais no 2º. O corpo da esquerda é rasgado por portal de arco abatido e ladeado por pilastras que apoiam frontão interrompido; lateralmente, ao nível do 2º piso, duas janelas de sacada. Ao nível do 1º piso, a fachada é ritmada por 14 vãos de janela com sacada. A E., na fachada principal, encontra-se um portal que, ao nível do 1º piso, remata com frontão interrompido. A fachada lateral O., de um só pano, apresenta ao nível do 1º piso duas portas e duas janelas de guilhotina. No 2º piso, existem quatro janelas de sacada. A fachada O. é prolongada em direcção S., por muro de vedação com porta entaipada. A fachada posterior, orientada a S. e com janelas de guilhotina, apresenta ao centro um corpo proeminente, também este com janelas de guilhotina. A entrada no edifício é feita através do portal, acedendo-se a um pátio com pavimento em lajeado de granito. Deste, acede-se ao piso nobre por escadaria de lanços opostos, rematada por volutas e suportada por colunas de granito e de ferro. Esta escadaria dá acesso a uma varanda. O interior ao nível do 2º piso tem pavimento de madeira, tectos de estuque ornamentados com motivos vegetalistas e geométricos. As portas são de madeira almofadadas. O logradouro, ocupado por jardim e horta, tem na extremidade S. um torreão de cariz romântico.
Época Construção
Séc. 18
Cronologia
Séc. 18 - Construção; pertenceu aos Viscondes da Beira; séc. 19 - modificações; séc. 19, meados - passou para a família Figueiredo Faria; séc. 20 - instalação da Biblioteca Municipal; 1995, 2 Outubro - Despacho de abertura do processo de instrução relativo à eventual classificação do imóvel.
Tipologia
Arquitectura civil, barroca e romântica. Palácio urbano barroco de planta rectangular e fachada principal de dois pisos, formada por três corpos separados por pilastras.
Características Particulares
De realçar a solução utilizada no friso separador dos pisos que, no corpo da esquerda, acompanha a curva do frontão, o qual, com a sua altura, interrompe a fenestração regular da fachada principal, mas não desarmoniza o conjunto.
Dados Técnicos
Estrutura autoportante e mista.
Materiais
Alvenaria de granito rebocado, granito aparente, telha marselha e telha aba e canudo, madeira, ferro, estuque.
Foto: Paulo Almeida Fernandes (2006) - IPPAR
Mandado edificar em 1318 por D. Afonso Sanches (filho bastardo de D. Dinis) e sua mulher, D. Teresa de Menezes, o Convento de Santa Clara é um templo fundamental do Gótico português a Norte do Douro, não obstante as numerosas alterações a que foi sujeito ao longo dos séculos. O conjunto monumental domina o centro histórico da vila - edificando-se no local onde se pensa ter existido o castelo dos Condes de Cantanhede, senhores do burgo, com a igreja a ser secundarizada pelo majestoso corpo sul neoclássico, construído em 1777 pelo arquitecto Henrique Ventura Lobo, um dos mais importantes nomes do chamado ciclo neoclássico portuense.
Logo em 1319 os fundadores doaram o espaço às clarissas, tendo sido este braço feminino dos franciscanos o responsável pela construção do complexo, um processo que conferiu à igreja a configuração que ainda mantém e que significou um exemplo pioneiro de implantação mendicante na região, a par das conturbadas histórias de S. Francisco do Porto e de S. Domingos de Guimarães. A austeridade e monumentalidade exteriores lembram, em parte, os primeiros exemplos de arquitectura mendicante clarissa do país, especialmente a fachada ocidental, onde o único elemento é a rosácea radiante, inscrita num enorme muro compacto, delimitado por dois contrafortes. A organização interna, no entanto, difere substancialmente. Enquanto que, por exemplo, no Convento de Santa Clara de Santarém a construção clarissa marca o triunfo do discurso mendicante numa cidade fortemente urbanizada, explicando-se por isso o longuíssimo corpo de três naves, a de Vila do Conde apresenta somente uma nave, de tal forma pequena que a construção do coro ocidental (verificada na época moderna) provoca uma sensação de planta em cruz grega interna.
A cabeceira e a sua implantação num terreno irregular é outro aspecto interessante da igreja. Exteriormente, apresenta-se como uma fortaleza, com as janelas muito altas e a estrutura coroada por ameias, sugestão reforçada pela existência de poderosos contrafortes, que ajudam a vencer o desnível do terreno. Interiormente, porém, a rigidez formal é assumida de forma proporcional, com os absidíolos bastante mais baixos que a capela-mor.
A marcha das obras góticas do Convento revelou-se bastante demorada, não estando o conjunto terminado em 1354, altura em que D. Afonso Sanches pede ao seu filho, por testamento, que as conclua. Deste último período é o que resta da Sala do Capítulo, organizada de forma tripartida, como era usual, com porta axial ladeada por duas janelas (aqui tratadas de forma idêntica, com finos colunelos e pequenos capitéis vegetalistas que provam a sua tardia cronologia) e alçado coroado de ameias.
Muitas foram as alterações que se efectuaram no conjunto ao longo dos séculos seguintes. A mais importante verificou-se nos primeiros anos do século XVI, sob o impulso das abadesas D. Isabel de Castro e D. Catarina de Lima. A elas se deve a construção da capela dos fundadores, aberta por arco apontado de moldura inferior cairelada, e coberta por abóbada polinervada estrelada. No seu interior, as abadessas mandaram colocar os túmulos dos fundadores, refeitos para o efeito, de acordo com a estética do tempo manuelino. Dotados de jacentes ainda plenamente medievais, com D. Afonso a segurar a espada e com um leão aos pés e D. Teresa vestindo o hábito de clarissa, são das mais impressionantes obras de tumulária manuelina, saídas da oficina de Diogo Pires-o-Moço.
Outros enterramentos existem neste convento, que evidenciam a deliberada procura de alguns poderosos nomes da sociedade baixo-medieval por instituições mendicantes. De c. 1415 é o túmulo de D. Brites, decorado com motivos heráldicos, e da década de 40 de Quatrocentos é o moimento duplo dos Condes de Cantanhede, D. Fernando de Meneses e sua mulher, D. Brites de Andrade, obra claramente filiada no modelo inaugurado por D. João I e D. Filipa de Lencastre na Batalha.
Foto: Paulo Almeida Fernandes (2006) - IPPAR
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