Sexta-feira, 5 de Outubro de 2007

Muralhas Fernandinas - Porto

 

Imagem:PortoWalls1.jpg

Antes de, em 1336, D. Afonso IV ter ordenado a construção de uma nova muralha, que reflectisse o grande desenvolvimento do burgo, existiu uma primitiva cerca, de menores dimensões e rodeando uma área consideravelmente inferior. Esta muralha românica, construída no século XII, corresponde à consolidação administrativa e urbanística do Porto (REAL, 1993, p.48), depois de um longo período de povoamento disperso, em bairros mais ou menos afastados entre si.
Dessa estrutura, restam ainda importantes vestígios, não obstante ter sido fortemente desmantelada nos últimos séculos. Rodeando o morro da Sé (verdadeiro centro nevrálgico da cidade medieval), possuía uma planta irregular ovalada, e era cortada por quatro portas principais, entre as quais a de Vandoma (demolida pela Câmara Municipal em 1885). Ainda desse período é a primeira fase construtiva da Casa da Câmara, no limite Norte da cerca, cujas ruínas chegaram até aos nossos dias.
A diferença de extensão entre esta cerca românica e a construída no século XIV revela o enorme desenvolvimento do Porto em escassos duzentos anos, atingindo uma população intra-muralhas estimada em cerca de 10 000 pessoas. A cidade havia-se estendido em todas as direcções, mas particularmente para Ocidente e para Norte, ligando os pontos elevados da Vitória e da Batalha. O seu traçado é ainda facilmente reconhecível na malha urbana citadina e dela restam partes consideráveis. O principal troço conservado localiza-se na zona nascente, facilmente visível da Ponte D. Luís, e compõe-se de uma secção de muralha ameada, com caminho de ronda e protegida por duas torres quadrangulares.
"A localização das portas da nova muralha deixa bem claro o traçado das primitivas vias que, do burgo do Bispo, saíam para São João da Foz e Bouças, Braga, Guimarães e Penafiel. Na rede viária intramuros vai salientar-se o largo de S. Domingos, como o de circulação fundamental no panorama das ligações internas da urbe" (REAL e TAVARES, 1993, p.67).
Nos séculos seguintes, foram muitas as alterações efectuadas nesta muralha. A maioria afectou as portas e as vias de comunicação com o exterior. Assim, em 1551, a Porta dos Carros substituiu um postigo aqui construído no reinado de D. João I. A Porta Nova é ligeiramente anterior, do reinado de D. Manuel (1522), edificada em substituição do postigo da praia. Ambas foram destruídas no século XIX, aquando dos programas de modernização urbanística portuense. Uma terceira porta, a Leste, denominada Porta da Ribeira, foi demolida na época dos Almadas, no âmbito das reformas setecentistas da cidade.
No século XX, as muralhas medievais do Porto foram objecto de uma grande campanha de restauro, ao sabor do revivalismo restaurador que caracterizou a política do Estado Novo. Os trabalhos principais decorreram entre 1959 e 1962, actuando prioritariamente sobre a escarpa dos Guindais. Nestas obras, foi descoberta uma casa-torre gótica, na Rua de D. Pedro Pitões, fronteira à Sé Catedral. Restaurada por Rogério de Azevedo, instituiu-se como ex-libris da estrutura militar medieval da cidade, albergando inicialmente o Gabinete de História da Cidade. Mais recentemente, algumas intervenções arqueológicas vieram contribuir decisivamente para o melhor conhecimento da evolução militar portuense, designadamente no morro da Sé, onde, na Alta Idade Média, se estabeleceu um dos muitos núcleos de povoamento da região.


publicado por MJFSANTOS às 04:50
link do post | comentar | favorito
Quinta-feira, 4 de Outubro de 2007

Coliseu do Porto

Photo Sharing and File Hosting at Badongo.com

 

O Coliseu do Porto é uma sala de espectáculos localizada no Porto, Portugal

História

Com projecto dos arquitectos Cassiano Branco e Júlio Brito pertencendo à Companhia de Seguros Garantia, o coliseu foi inaugurado a 19 de Dezembro de 1941, com um concerto da Sinfónica Nacional, dirigida pelo maestro Pedro de Freitas Branco.

No ano de 1995 a Companhia de Seguros AXA, então proprietária do imóvel, inicia negociações com a Igreja Universal do Reino de Deus, propondo-se esta última a comprar e a UAP a vender. Porém, várias personalidades ligadas à cultura, às artes e à autarquia local, promovem uma manifestação de repúdio à eventual transacção. Uma vez vetada pela autarquia, a transacção não se concretiza. Em Novembro de 1995, em escritura notarial outorgada entre a Câmara, a Área Metropolitana do Porto, a Secretaria de Estado da Cultura e a UAP, constitui-se uma associação sem fins lucrativos com a finalidade de adquirir o Coliseu e geri-lo como espaço de interesse cultural

Características

A sala principal do Coliseu do Porto tem 3.000 lugares sentados, entre plateia, tribunas, camarotes, frisas, galeria reservada e geral, e permite que nela sejam realizados todo o tipo de espectáculos: música, bailado, teatro, ópera, circo, cinema, etc.

O Coliseu do Porto dispõe ainda de um salão Ático com capacidade para cerca de 300 pessoas, vocacionado para pequenos bailes ou espectáculos, conferências, congressos ou assembleias enquadradas na capacidade da sala.

 

(fonte:wikipedia)

 

 

 

 


publicado por MJFSANTOS às 11:02
link do post | comentar | favorito
Terça-feira, 2 de Outubro de 2007

Livraria Lello & Irmão

Imagem:Lello Porto.jpg

 

A Livraria Lello e Irmão, também conhecida como livraria Chardron, ou simplesmente livraria Lello situa-se na Rua das Carmelitas,144 no Porto.

A fachada neogótica é do engenheiro Xavier Neves.

Enrique Vila-Matas, classificou-a como A mais bonita livraria do mundo

 

História

A história da livraria Lello remonta a 1869, ano em que é fundada na Rua dos Clérigos a Livraria Internacional de Ernesto Chardron.

Após o imprevisto falecimento de Chardron, aos 45 anos de idade, a casa editora foi vendida à firma Lugan & Genelioux Sucessores.

Em 1894 Mathieux Lugan vendia a Livraria Chardron a José Pinto de Sousa Lello que possuía então uma livraria na Rua do Almada.

Associado ao irmão, António Lello, mantêm a Livraria Chardron, com a razão social de José Pinto de Sousa Lello & Irmão, até 1919, ano em que o nome da sociedade muda para Lello & Irmão Lda.

 

 


publicado por MJFSANTOS às 14:54
link do post | comentar | favorito
Segunda-feira, 1 de Outubro de 2007

Pontes Sobre o Douro - Porto

Ponte do Freixo - Ponte de S. João - Ponte de D. Maria Pia - Ponte do Infante - Ponte de D. Luiz I - Ponte da Arrábida.

 

 Nos  finais de 2005, seis Pontes atravessam o Rio Douro, ligando e tornando mais estreito o contacto entre as duas Cidades vizinhas, assim como a ligação entre todo País de norte a sul.

De montante para a Foz do Rio Douro, encontramos em primeiro lugar, a Ponte do Freixo, moderna Ponte rodoviária, que liga a auto estrada do sul ao Porto.

Segue-se a Ponte de S. João, também esta de construção recente e que se destina ao tráfego ferroviário em duas vias , substituindo de vez a velha Ponte de D. Maria Pia.

Vem então a Ponte de D. Maria Pia, toda em ferro e como já vimos sem uso actual mas sempre bonita no seu desenho ligado ao grande construtor  Eng. Gustav Eiffel.

Aparece então a quarta ponte, a Ponte do Infante. Destinada ao tráfego rodoviário, esta moderna ponte muito veio  contribuir para o descongestionamento da Ponte de D. Luiz I e do seu já avizinhado fim do uso do  tabuleiro superior .

Temos então a quinta ponte, a Ponte de D. Luiz I, que com dois tabuleiros , serve principalmente os centros das duas cidades , embora, até ao final do ano de 2005, o seu tabuleiro superior seja definitivamente ocupado, após as obras de restauro e reforço, assim, como de adaptação á circulação do Metro de superfície, que ligará o Porto a Gaia.

Finalmente vem a sexta Ponte, a Ponte Arrábida, ponte com características de ligação entre auto estradas, que ligam o Porto a Gaia e ao resto do País.


publicado por MJFSANTOS às 11:30
link do post | comentar | favorito
Sábado, 29 de Setembro de 2007

Santo Ildefonso - Porto

350 ANOS DE HISTÓRIA É sobremaneira difícil falar-se, com um mínimo de profundidade, de uma freguesia urbana como a de Santo Ildefonso. Essa dificuldade resulta de muitos e díspares motivos. É a freguesia de Santo Ildefonso caracterizada por aspectos típicos de uma grande cidade, situada que está no coração dela. Uma grande área, uma área onde acontece a maior parte da fenomenologia urbana, onde os habitantes são de fluxo dinâmico, onde os moradores residentes não ocupam um leque percentual idêntico (por defeito) ao de outras freguesias do Porto, mas ainda assim, eivada de circunstancialismos de fundamental importância para a vivência de uma cidade de trabalho e de cultura: é na freguesia de Santo Ildefonso que residem as maiores actividades comerciais, um número soberbo de serviços, os centros culturais predominantes, a tradição da difusão informativa, nomeadamente através dos jornais diários do Porto, prestigiados e prestigiosos, com raro paralelo no restante território nacional. Espantosamente, é a Junta de Freguesia de Santo Ildefonso, uma das que menos se conhecem em termos de origem histórica. Para um estudo prévio, elaborado pela actual Junta de Freguesia, no sentido de ser conseguida a publicação deste trabalho, detectaram-se três linhas num exemplar da revista «O Tripeiro» n.0 19 (1º Ano), de 1 de Janeiro de 1909. A págs. 14, sob o título «VÁRIA» imprimiram-se algumas bases de informação. A terceira referia: «FREGUEZIA DE SANTO ILDEFONSO - A FREGUEZIA DE SANTO ILDEFONSO NO PORTO FORMOU-SE A 24 DE JUNHO DE 1634». Apenas assim, sem mais qualquer outra fundamentação. Prosseguindo a leitura de exemplares sucessivos de «O TRIPEIRO», cuia redacção, nessa época, se localizava curiosamente em espaço geográfico pertencente a esta freguesia (Rua Formosa, 199), encontrou-se ainda algumas notas e referências, no entanto por demais insuficientes, numa perspectiva de análise histórica. Assim: um mês depois («O Tripeiro» n.0 22, de 1 de Fevereiro de 1909) era publicado: «AINDA NAQUELA DATA (11/9/1759), A FREGUESIA DE SANTO ILDEFONSO DESCIA ATE AO DOURO E COMPREENDIA TUDO O QUE E HOJE D'ESTA FREGUESIA DE SÃO NICOLAU, DESDE OS MUROS DOS GUINDAES ATE AOS LIMITES DE CAMPANHÁ». E no final do mesmo ano, em 1 de Dezembro de 1909, em «O Tripeiro» n.0 52, um texto assinado por Ricardo Jorge estabelecia: «... ATE 1836 CONSTA O PORTO PROPRIAMENTE DE SETE FREGUESIAS, SE, VICTÓRIA, 5. NICOLAU, SANTO ILDEFONSO, MIRAGAlA, MASSARELOS E CEDOFEITA.. PELO DECRETO DE 26/11/1836 FORAM-LHE ANEXADAS LORDELO DO OURO, CAMPANHÃ e S. JOÃO DA FOZ; E POR CARTA DE LEI DE 27/8/1837, NOVA ANEXAÇÃO,A DE PARANHOS. A DESIGUAL DISTRIBUIÇÃO DESTAS FREGUESIAS PEDIA REFORMA DAS SUAS CIRCUNSCRIÇÕES; DESTE PLANO TOMOU A INICIATIVA O BISPO ELEITO, E APROVADO SUPERIORMENTE O SEU PROJECTO DE PORTARIA DE 13/2/1838, PROCEDEU-SE A NOVA DEMARCAÇÃO, FIXADA POR UMA COMISSÃO ONDE ENTRAVA O BISPO, A CÂMARA E DELEGADOS DAS JUNTAS DE PARÓQUIA. SANTO ILDEFONSO, DE UMA ÁREA ENORME, FOI DESMEMBRADA, CREANDO-SE À SUA CUSTA UMA NOVA FREGUESIA, A DO SENHOR DO BONFIM. O ARREDONDAMENTO PAROQUIAL DE 1838 SÓ FOI SANCIONADO PELO DECRETO DE 11/12/1841, SOB O REFERENDO DE COSTA CABRAL.. . » Todavia, parece-nos importante salientar aqui a data de 1623 há uma referência - D. Rodrigo da Cunha avançava dessa data um quantitativo da que chamou «Santo Ildefonso»: 1150 habitantes, sendo 1000 de maioridade e 150 menores». Um estudo de Domingos A. Moreira, sobre as «Freguesias da Diocese do Porto» confere à freguesia de Santo Ildefonso um nascimento que foi operado entre esse ano de 1623 e o ano de 1687. Passemos, entretanto, a uma Pública Forma datada de 6 de Maio de 1828, certidão atestada pela Câmara no sentido de: «À VISTA DOS RESPECTIVOS TÍTULOS OU DOCUMENTOS HAIJA DE ATTESTAR-LHES OU CERTIFICAR-LHES DE NARRATIVA SE CONSTA OU EXISTE MEMÓRIA QUE DESIGNE O TEMPO EM QUE HAVIA HUMA SÓ FREGUESIA NESTA CIDADE». Trata-se de uma certidão da Câmara a pedido do Juiz e Mesários da Confraria do Santíssimo Sacramento e Senhor Jesus da freguesia de Santo Ildefonso, solicitando a precisão, que a certidão da Câmara apontava para o ano de 1551. Transcrevemos o texto. A data de 1584 é citada, no entanto, como desdobramento de freguesias na cidade. CERTIDÃO RODRIGO FREIRE DE ANDRADE PINTO DE SOUSA, ESCRIVÃO DA ILLUSTRISSIMA CÂMARA DESTA CIDADE DO PORTO E SEU TERMO POR SUA MAGESTADE FIDELISSIMA QUE DEOS GUARDE, FAÇO CERTO QUE DO LIVRO DAS VEREAÇOENS DO ANNO DE MIL E QUINHENTOS E SINCOENTA E HUM, A FOLHAS SETE VERSO, CONSTA SER A PARROCHIA DA SÉ A UNICA EM TODA A CIDADE DANDO MOTIVO A ESTA DECLARAÇÃO TOMADA EM CAMARA EM CONGRESSO DE POVO SE SIM OU NÃO DEVERIÃO HAVER CONFRARIAS DO Santíssimo SACRAMENTO NOS CONVENTOS DE SAM FRANCISCO E SAM DOMINGOS PARA O POVO PODER ASSISTIR AS PROCISSOENS DOS DOMINGOS TERCEIROS, VISTO QUE NÃO CABIA NA SÉ NESSES DIAS E NÃO HAVIA OUTRA PARROCHIA OU CONFRARIA NO ANNO DE MIL E QUINHENTOS E SECENTA E HUM EM HUMA SENTENÇA NO LIVRO SEGUNDO DELLAS A FOLHAS CENTO E QUARENTA CONSTA HAVER FREGUEZIA EM SANTO ILDEFONÇO ARRABALDE DA CIDADE ASSIM COMO O HAVEREM JÁ AS NOVAS IGREJAS NA CIDADE NO ANNO DE MIL E QUINHENTOS E OITENTA E QUATRO E NELLAS ESTABELLECIDAS AS CONFRARIAS DO SANTISSIMO SACRAMENTO PARA AS QUAES PERTENDIA O SENHOR BISPO CONCORRESSE A CONFRARIA DO SANTISSIMO SACRAMENTO DA SÉ COM QUATRO TOCHAS PARA CADA HUMA AO QUE SE OPOZERÃO EM CAMARA NEGANDO-SE AQUELLA REQUEZIÇÃO». Estes dados dispersos não podem, com rigor, dizer-nos muito sobre a formação e os circunstancialismos que a determinaram, da freguesia de Santo Ildefonso. Um ou outro aspecto são, no entanto, irrefutáveis. Por exemplo, a sua vasta extensão, que a tem vindo a caracterizar desde sempre. E a fundamental importância de que alguns dados apontam: Em 12 de Setembro de 1983, o Presidente da Junta de Freguesia de Santo Ildefonso, Albino Alves Teixeira, endereçou um ofício ao Chefe de Divisão do Arquivo Histórico da Câmara Municipal do Porto. Nesse ofício foi salientado: «Sabemos que nos fins do século passado, um prédio onde estavam instaladas as Escolas Paroquiais de Santo Ildefonso e a respectiva secretaria da Junta, prédio esse que pertencia ao Conselheiro Miguel Dantas Gonçalves Pereira, ardeu numa noite de Santo António, não existindo portanto livros de actas ou outros documentos que nos certifiquem da formação legal da Junta de Freguesia». Assim, e a partir das informações disponíveis, inquiria-se da possibilidade de confirmar-se aquela data de 24 de Junho de 1634 através dessa via. A resposta pouco avançou: ao ofício da Junta seguiu-se o ofício do Chefe da Divisão do Arquivo Histórico que referia: «1. Não parece existir neste Arquivo Histórico qualquer documento alusivo à criação da paróquia de Santo Ildefonso; 2. Foi percorrida vária bibliografia, mas as informações encontradas continuam a ser muito vagas. Por exemplo, do estudo de Domingos A. Moreira, sobre as «Freguesias da Diocese do Porto» (pág. 126) apenas se pode confirmar que o seu nascimento se deu entre 1623 e 1687; 3. Todavia, num livro editado em 1869, da autoria de J. M. Pinto, e sob o título «Apontamentos para a História da Cidade do Porto» (pág. 104) volta-se a indicar que «no anno de 1634, a confraria do Senhor Jesus juntou-se à do Santíssimo Sacramento. Foi elevada a freguesia em 1634, contando então 1790 almas». Num outro estudo encontramos a indicação que isso se deu por desmembramento da freguesia da Sé»; 4. É provável que esteja correcta a informação de «O Tripeiro». Na página 104 de «Apontamentos para a Cidade do Porto» pode. pois, ler-se: Data de grande antiguidade a fundação da sua primeira Igreja. Consta que já em 1519 existia uma Igreja com a invocação de Santo Ildefonso, a qual era extramuros, próximo da Porta do Cimo da VilIa e aonde era também venerada a imagem do Senhor Jesus, que tinha a sua respectiva Confraria. Já em tempos imemoráveis se sepultavam no Adro desta Igreja as entravadas e em 1592 a confraria concedeu sepultura aos pobres da Freguesia. No anno de 1634 a Confraria do Senhor Jesus juntou-se à do SS. Sacramento. Foi elevada a Freguesia em 1634, contando então 1790 almas». Estes são, grosso modo, os únicos pontos em que podemos assentar. O arrabalde de Santo Ildefonso, extramuros, é portanto antiquíssimo. Como paróquia suburbana era a mais extensa. Ladeando sempre a muralha Fernandina, principiava no Senhor do Bonfim e ia terminar nos assentos das Virtudes, limitando com Campanhã, Paranhos, Cedofeita e Miragaia. Incluía já no seu âmbito as Ruas de Santo Ildefonso e de Santa Catarina, a Neta, o Bonjardim, as Hortas, a Natividade e a Rua do Almada, até à Igreja de Nossa Senhora da Lapa. Voltando pelo lado poente do Largo de Santo Ovídio dividia com Cedofeita e Miragaia pela Rua da Sovela, Ferradores, Cordoaria e Virtudes. A Igreja de Santo Ildefonso encontra-se lá mencionada em documento do século 13. Ainda em 1560 se erguia no meio de um campo junto de um souto de Carvalheiras, «fora da Porta de Cima da Vila». Era templo pequeno e estava, nos princípios de setecentos, muito arruinado; foi mandado reedificar em 1730. Próximo ficava um casal, que antes de 1443 se chamava de João Ramalde e depois, lugar do Pinheiro. Logo adiante, na actual Praça da Batalha, junto da Porta de Cima de Vila, o devoto Baltasar Guedes mandou edificar, em 1590, a elegante capela de N.Sª da Batalha, demolida em 1924. Mais abaixo, ficava o lugar dos Carvalhos do Monte; quase encostada ao Postigo do Penedo (que João de Almada transforma, em 1768, na Porta do Sol) erguia-se a ermida de Santo António do Penedo, com seu adro de galilé, e ao lado, a casa solarenga dos Brandões. Era um dos mais pitorescos recantos do velho Porto, infeliz e inutilmente destruído em 1887. Ficava em frente do palácio do visconde de Azevedo (onde está instalado o Governo Civil). A Rua das Fontainhas chamou-se em algum tempo Rua do Regato. Ali estiveram o Recolhimento das Entrevadas (já existente em 1498), o Hospital dos Lázaros e Lázaras (1558), e o Recolhimento de N. Srª das Dores (Velhas do Camarão) fundada em 1819 no Largo do Camarão e viela de N.8 Sr.8 das Dores, por detrás do Recolhimento das Órfãs, em S. Lázaro. A alameda deve-se a Francisco de Almada (1790). Entre as Ruas das Fontainhas e do Sol, onde funcionaram os matadouros, chamava-se outrora Vale de Donas, e existia uma quinta, depois denominada das Fontainhas, que pertenceu sucessivamente às famílias Pereira de Melo (capitães-mores de Penafiel), Fontana, Vanzeller e Alpenduradas. A Rua de Alexandre Herculano, que liga as Fontainhas à Batalha, foi aberta em 1877: chamou-se primeiro Rua Nova da Batalha. Junto da capela de Sant'llafom e de uma velhíssima Albergaria dos Peregrinos de Cima de Vila», havia, em 1590, o Campo do Pombal, que entestava com «a estrada que vai entre as paredes», para S. Lázaro. Deve ser remota referência à Rua de Entreparedes, à qual se seguia a do Reimão, hoje Avenida Rodrigues de Freitas. O Campo de S. Lázaro estava antigamente plantado de frondosos carvalhos e castanheiros; ali esteve, desde o séc. XIV e vindo da Ribeira, o Hospital dos Gafos «de Cima de Vila de Mijavelhas», aos quais el rei D. João 1 confirmou os antigos privilégios por c. de 28-IX-1423 (A. D. 1385). Ainda existem aqui dois edifícios que merecem especial menção: A igreja e Recolhimento das Órfãs, fundado em 1724 pelo padre Manuel de Passos e Castro, e o convento de Santo António da Cidade (1783), hoje Biblioteca Municipal. Próximo de S. Lázaro, no moderno Largo dos Poveiros, existiu também a capela de Santo André e de Santo Estêvão, demolida em 1863, quando a Câmara continuou a Rua da Alegria até àquele largo. Outro pitoresco recanto do velho Porto, que desapareceu. À Rua de Santo André encontramos referências em 1692. Adiante ficava o Padrão das Almas, ainda agora recordado no Largo do Padrão. Mijavelhas era todo o espaço que hoje compreende a Rua do Morgado de Mateus, (que se chamou primeiro Rua do Mede Vinagre e da Murta) e o Poço das Patas (hoje Campo 24 de Agosto). Esteve aqui a forca até 1714, ano em que o Senado deliberou mudá-la para a Ribeira. O regato de Mijavelhas, que desaguava no Douro, fazia mover no seu percurso numerosas azenhas que neste lugar existiram. Mais longe, em direcção a Campanhã, a igreja do Senhor do Bonfim, edificada em 1760 e depois erecta em paroquial, independente de Santo Ildefonso. Em redor, a Alameda do Bonfim, obra, como a das Fontainhas e a das Virtudes, do grande corregedor Almada, era um dos aprazíveis lugares da cidade. Mas voltemos à igreja de Santo Ildefonso, ponto de partida de duas das principais artérias da cidade moderna: as Ruas de Santa Catarina e de Santo António. A Rua Nova de Santa Catarina é uma das grandes obras que o Porto deve aos dois Almadas. Em 1711 tratava-se do alinhamento dela; Rua Bela da Princesa se chamou o seu prolongamento até à Alameda da Aguardente (praça Marquês de Pombal). Sofreu sucessivas reedificaçóes e alterações até 1780. As artérias que lhe são paralelas ou transversais, datam quase todas de época posterior: A Rua da Duquesa de Bragança, (hoje de D. João IV) rasgou-se por 1855. Em 1858 projectava-se uma outra rua que substituísse a Viela das Doze Casas: foi a Rua do Príncipe Real (agora de Latino Coelho), que se abriu primeiro até à Rua da Alegria e depois de 1866 se prolongou até ao Largo da Póvoa e Rua de S. Jerónimo (hoje de Santos Pousada). Este Largo da Póvoa recorda antigos casais rústicos, que constituíam pequenas aldeias (Póvoa de Baixo e de Cima). Em 1838, um edital determinava que a Travessa da Alegria e a Rua de S. Jerónimo formassem uma só, com o nome de Rua Firmeza. Na Aguardente, por onde passava em continuação de Bomjardim, a estrada de Guimarães, edificou-se em 1875 a capela de Santo António. Em volta da alameda, ainda em 1858 existiam estreitas e tortuosas vielas. Uma planta de 1843 mostra-nos o projecto de prolongamento da Rua 27 de Janeiro (a actual Rua da Constituição), para poente da Rua da Rainha hoje Antero de Ouental), até ao Carvalhido, passando em tangente à bateria da Glória, no Monte Pedral. Outra planta, de 1822, prevê o melhoramento do tortuoso Caminho de Malmerendas (Rua Dr. Alves da Veiga), por duas maneiras: em linha recta, da actual Rua de Fernandes Tomás até próximo do encontro da Rua Formosa com a Rua Direita, ou, por linha quebrada, em direcção à mesma Rua Direita, na saída da travessa para S. Lázaro. A grande Quinta de Lamelas está hoje representada por alguns quintais de casas das Ruas Formosa e de Santo Ildefonso e parte do leito da Rua Passos Manuel. Há poucos séculos todo este bairro de Santa Catarina, Santo António, Fernandes Tomás e Sá da Bandeira constituíam vasto terreno bravio, matagais, almoinhas, alguns quintalejos irrigados por cursos de água que desciam para o rio da Vila ou para o Douro. A urbanização deste trato citadino, por esforço dos Almadas, designadamente a abertura da Rua de Santo António, em fins do séc. XVIII, foi obra notabilíssima, como tal já na própria época reconhecida e proclamada. Escrevia em 1879 o inglês Thomas Modessan: «o rompimento da Rua de Santo Ildefonso, a unir com o largo da Porta de Carros e Calçada dos Clérigos é outra das majestosas obras que em outro tempo apenas se poderia conceber e efectuar no decurso de um século». Refere-se, como se vê, à Rua de Santo António; descendo a movimentada artéria, estamos na Praça (da Liberdade), centro actual de toda a vida citadina. Fora da Porta de Carros, e junto da muralha fernandina, estendia-se pelos anos de 1430, um casal chamado de Paio de Nabais; note-se a circunstância curiosa de em Lisboa existir, por esse tempo, topónimo semelhante. Próximo, o Casal da Torre, vinculado à capela de João Anes Gordo, coutador de el rei. Estes e outros casais ficavam onde então se chamava As Hortas. Em 1711 «O Rev.do Cabido tomou a si para fundar a Praça Nova, fora da Porta de Carros», terrenos que eram seus e outros que obteve por troca. Assim começou a urbanizar-se o local, principalmente depois que, dez anos mais tarde, em 1721, o mesmo Cabido e a Câmara se entenderam para esse objectivo. Em 1682, o antigo Campo das Hortas foi guarnecido com a Fonte da Arca, e o oratório de N. Srª da Natividade, demolidos ambos nesse ano de 1721 para alargamento e terraplanagem desta praça Nova das Hortas. Desde tempos muito mais recuados existia ali uma outra fonte: a da Cividade. Assim, um documento de 1446 menciona a Rua que vai para a albergaria dos clérigos, contra a fonte da Cividade. Parece mesmo que se chamava já no séc. XV Fonte da Arca, pelo menos existia um casal com este nome e, em 1532, encontramos referência ao Casal de Paio Nabais, no Cimo da Fonte da Arca. Descreve a praça o padre Agostinho Rebelo da Costa, em 1788: «é... quadrada, tendo ao nascente o extenso dormitório do convento dos padres Néris, todo aberto em janelas altas e largas de três andares, que formam um agradável prospecto; ao poente as casas que faceiam com a Rua Nova das Hortas e que se elevam à altura de quatro andares; ao norte o palácio em que se ajunta o Senado da Relação e o de D. António de Amorim, ao sul o muro da cidade». Acrescentaremos alguns esclarecimentos. Em 1657 os irmãos da confraria de Santo António de Lisboa, sita em Santo António do Penedo, quiseram ter capela própria e compraram um chão nas Hortas, defronte da Porta de Carros; mas nesse mesmo ano cederam à Câmara a projectada capela e o terreno, para que esta aí a edificasse. Arrastaram-se as obras, que ainda não estavam concluídas em 1680, quando o Município, a instância de D. Pedro II, cedeu templo e campo em redor aos padres Néris. Assim se fundou o convento de Santo António dos Congregados. A rua que ia da Porta de Carros para os Lavadouros, próximo desta casa conventual, chamava-se em 1761 Rua de Santo António. Ao norte da praça tinham suas casas nobres os Amorins Pereiras e os Meireles Moreiras, edifícios que desapareceram em 1916, quando se abriu a Avenida dos Aliados. Na casa dos Meireles Moreiras esteve a Relação e depois, durante um século, a Câmara. Ao sul, ficava o muro da cerca fernandina, muro de que por sinal, caiu um grande troço, no ano de 1529. Da porta de dentro dele, no chão chamado da Cividade, ergueu-se nos últimos anos do séc. XV o convento de Santo Elói, como ficou dito. Todo o vasto terreno por detrás da casa dos Congregados e dos palacetes dos Amorins e Meireles, chamava-se, desde remotas épocas, Liceiras. O lugar de Bonjardim, em Liceiras foi emprazado no ano de 1457 ao arcebispo do Porto. Diogo Anes, mas é muito mais antigo pois vem já mencionado no testamento do bispo D. Vicente Mendes, em 1296. Constituía uma vasta propriedade vinculada da família Pereira Pintos e depois, por herança, dos Teixeiras Coelhos de Melo Pinto da Mesquita, senhores de Teixeira e Sagude. Pela Rua do Bonjardim era a velha estrada de Guimarães. Para poente desta, estendiam-se campos, hortas, olivais e os laranjais que vieram a dar nome ao bairro que criou João de Almada e Melo no terceiro quartel do séc. XVIII. No lugar das Regadas, em Liceiras, que existia em 1540, e depois se chamou Quinta do Laranjal mandou aquele grande reformador do velho Porto, abrir, em 1761, a Rua do Almada. O troço desta, entre a Ruas dos Clérigos e a Rua Eliseo de Melo já então existia, e chamava-se Rua Nova das Hortas, comunicando com a Rua da Fábrica (do Tabaco), onde o rico negociante Souto e Freitas mandou edificar a sua formosa casa, há pouco infelizmente desaparecida. Em 1818, vemos numa planta da cidade as praças de Santa Teresa e do Pão (Carmo) esta última crismada mais tarde em dos Voluntários da Rainha. Daqui saía a Rua do Moinho de Vento, para o largo do mesmo nome. Existiam também a Rua do Bispo que, depois de 1822 alargada e prolongada, veio a ser a Rua de D. Pedro; a de Santo Ovídio ou da Sovela, agora dos Mártires da Liberdade, por onde corria a velha estrada de Braga a da Misericórdia ou do Pinheiro no topo da qual se ergueu ainda a casa e capela que fundou João António Monteiro de Azevedo, conhecido autor de uma descrição de Vila Nova de Gaia. Este Casal do Pinheiro ou do Boticário, em Liceiras, pertencia ao bispo de Coimbra, D. Martinho, que em testamento o deixou ao cabido portuense. Uma outra planta, também da 1ª metade do séc. XIX, regista o Monte da Douda (elevação que ainda existe entre as Ruas do Almada, Liceiras e lateral da Trindade) e as então novas Ruas do Laranjal, da Picaria e da Conceição e a Quinta do Paraíso, de Hutes Bacelares. Com a abertura da Avenida dos Aliados desapareceram algumas destas ruas, ou palácios dos Meireles e dos Amorins, a capela dos Reis Magos e, mais recentemente uma outra dessas artérias: a da Cancela Velha. Subsiste a Rua do Estêvão, que deve o seu nome a um antigo proprietário local: Estêvão Ribeiro de Almeida. Junto da cerca dos Congregados subia a afamada Viela da Neta, de que há restos; foi cortada quando se abriu a Rua de Sã da Bandeira, depois de 1834, nos terrenos dos padres Néris. Em 1874 ainda se tratava de rasgar parte desta artéria que recentemente foi prolongada até Fradelos. O projecto da Praça do Laranjal data de 1798; nela existiu uma fonte com pitoresco nome, e em 1804 construiu-se, encostada à Travessa da Douda (Rua de Cima do Muro), a igreja da Trindade, que deu ao largo a sua actual designação. Em 1801 projectava-se também prolongar a actual Rua de Fernandes Tomás até ao Bonjardim, para substituir a Rua Nova de S. Marçal ou de Santo António do Bolhão, que era muito irregular. Em 1810 estava desabitado quase todo o terreno entre as Ruas de Santa Catarina e Bonjardim, ao norte desta Rua do Bolhão, até Fradelos, que comunicavam pela estreitíssima Viela do Ribeiro. Uma planta de 1837 representa a Praça do Bolhão, dividida em quarteirões armados, com sua escada e a fonte chamada igualmente do Bolhão. Antes o local era apenas um lameiro. O mercado data de 1850. Em 1846 existia ainda a mencionada Viela do Ribeiro, que comunicava com a Rua de Santa Catarina pela Viela das Laranjeira. A Rua de Passos Manuel estava em construção pelos anos de 1874-77; cortou parte da Viela da Neta e da Quinta de Lamelas, como já dissemos. Fradelos é topónimo muito antigo. Pero Soeiro Castelo e Mem Mouro deixaram ao cabido as terras de que eram senhores neste lugar, das quais se fizeram dois casais antes de 1283, data em que o mesmo Cabido comprou certa leira, para juntar a essas propriedades. Um destes casais pertencem à família do grande Brás Cubas, fundador da Vila de Santos, no Brasil. Havia ali, no séc. XV, o Campo do Sineiro e a Calçada. A Rua de Gonçalo Cristóvão é moderna; foi aberta em terrenos do vínculo do Bonjardim, e tomou o nome de um dos administradores do morgado, o fidalgo Gonçalo Cristóvão Teixeira Coelho de Meio Pinto Mesquita. Vê-se o seu projecto, desde o Campo de Santo Ovídio até à Rua do Bonjardim, em planta de 1838; neste documento se regista também a Rua do Duque do Porto, hoje de João das Regras. Havia aqui uma pedreira, na junção com a Travessa das Musas e Bonjardim. A Rua de Camões estava igualmente em projecto naquele ano. Em 1865 já a Rua de Gonçalo Cristóvão chegava até ao Bonjardim, e pensava-se na sua continuação até Santa Catarina. Pouco antes desta data estava já resolvido também o prolongamento da Rua Duque do Porto até à Rua Bela da Princesa (Santa Catarina), através da denominada Pedreira do Bairro Alto. O Campo de Santo Ovídio (depois, em 1835, da Regeneração e agora Praça da República), chamava-se, em recuados tempos, os Carvalhos do Monte, designação que ainda subsistia em 1670. Tomou o nome de Santo Ovídio de uma capela desta invocação que ali existia, no mesmo local onde mais tarde esteve o Hospício dos Agostinhos, encravado na Quinta dos Pamplonas (viscondes de Beire). Por iniciativa do corregedor Francisco de Almada começou em 1790 a construção do quartel de Infantaria 18, no extremo norte do campo, que ficou livre para os exercícios militares. No Monte de Germalde e sítio do Padrão Velho de Santo Ovídio, por detrás deste quartel, tinha em 1754 o missionário padre Angelo de Sequeira promovido a construção da igreja de N. Sr.ª da Lapa. Ficava esta à beira da velha estrada de Braga e próximo do lugar chamado do Sério. A Rua do Paraíso, que vai deste templo até à Rua do Bonjardim, já existia em 1867, data em que se previa o seu alargamento e regularização, e cremos que era então antiga, talvez de mais de um século. As actuais Rua do Antero de Quental, Praça da República, Ruas dos Mártires da Liberdade, Largo das Oliveiras e Praça de Carlos Alberto serviam de limites entre as freguesias de Santo Ildefonso e Cedofeita, como noutro lugar ficou dito. A Praça de Carlos Alberto chamou-se também do Peixe e antes dos Ferradores, designação anterior a 1559. Um Tombo do mosteiro de S. Domingos menciona, em 1669, «a Rua pública dos Ferradores, junto do chafariz da Porta do Olival». Por aqui passava o carro da água de Paranhos. A determinado local da praça chamava-se o Outeiro dos Ferradores. Neste largo tiveram sua casa os viscondes de Balsemão; no edifício, que ainda existe, esteve a famosa hospedaria do Peixe, onde pousou o rei Carlos Alberto. Passou a casa depois à posse dos condes da Trindade, cujo brasão ostenta na frontaria. Para sul, até entestar no muro da cidade, e confrontar com Miragaia, espraiava-se o vasto Campo do Olival, mais extenso que a Cordoaria que lhe sucedeu, com o nome de Campo dos Mártires da Pátria em 1835. Este Campo do Olival, incluído na doação da rainha D. Teresa ao bispo D. Hugo, em 1120, foi mais tarde, na concórdia celebrada entre o concelho e o seu prelado no ano de 1331, por este cedido «para rocio e prol do comum da dita cidade»; já então ali existia uma cordoaria. Pelo campo do Olival começou, como noutro lugar já acentuámos, a expansão da cidade extra-muros, nos últimos anos do séc. XVI, com a sucessiva construção de notáveis templos e edifícios públicos e particulares. Dos mais antigos deviam de ser, provavelmente, uma capela da invocação de S. Miguel, que se diz ter sido fundada pela rainha D. Mafalda, em cumprimento de piedoso acto, e outra dedicada a S. Sebastião; ambas existiam em 1514. No próprio lugar onde se erguia a primeira destas ermidas, edificou-se em 1651, graças aos esforços do benemérito padre Baltasar Guedes a igreja e colégio dos Meninos Órfãos de N. Sr.ª da Graça, em 1804 substituídos pelo edifício onde hoje se acha instalada a Faculdade de Ciências. No Olival esteve, não sabemos onde, o Recolhimento das Velhas da Cordoaria, já existente em 1488. Em 1611, a Câmara mandou delinear e plantar a Alameda do Olival. Oito anos depois, em 1619, à custa também do Senado e do Povo, construíram-se a igreja e o convento do Carmo; o templo dos Terceiros, que lhe fica anexo, data de 1756. O Recolhimento do Anjo, para meninas órfãs e nobres, foi instituído em 1672 por D. Helena Pereira da Maia, no lugar onde esteve, mais tarde e por muitos anos, o mercado, e agora a Praça de Lisboa. Cerca de 1666, no cimo da Rua do Calvário, fundou a família dos Pachecos a capela de S. José das Taipas. Pegado com ela, edificaram os Sandeman seu palácio em 1839. Em 1730, no local hoje adaptado a mercado, construíram os franciscanos de Santo António do Vale da Piedade um hospício. Nesta casa, sobranceira às Virtudes, instalou-se posteriormente a Roda dos expostos. O mercado do peixe, paredes meias com a Roda, data de 1874, edificado sobre os antigos Celeiros da cidade. No ano de 1770, no chão onde existiam dois meios casais chamados do Robalo, começou a Misericórdia a construção do seu Hospital de Santo António. Ainda nos limites do Olival, no campo chamado da Via Sacra ou Calvário Velho, fez-se o convento de S. José e Santa Teresa de carmelitas descalças. Deu esta casa, hoje desaparecida, o nome à Rua das Carmelitas; ocupava o terreno que vai desde esta rua até à Praça de Santa Teresa (Praça Guilherme Gomes Fernandes) e Rua Cândido dos Reis. No lugar desta moderna artéria da cidade, era o Largo do Ermitão onde, no séc. XVII, se erguia uma pequena ermida, e depois, quase até nossos dias, se realizava a Feira dos Ferros Velhos. Logo adiante, o Correio (1834). Defronte, e no alto da Calcada da Arca ou da Natividade, que conduzia, como dissemos, às Hortas, no lugar denominado da Cruz da Cassoa, construiu-se, sob o risco de Nasoni, a belíssima torre e igreja dos Clérigos, talvez o mais notável edifício da cidade. Junto ficava o Campo das Malvas que até 1796 serviu de adro dos enforcados. Além destes monumentos, que todos merecem especial referência, é o Campo do Olival ou da Cordoaria digno de memória por outras circunstâncias. A designação de Cordoaria deve-se ao facto de nele terem estado, por muito tempo, os cordoeiros. Já em 1331, quando o bispo cedeu este campo à cidade, ali existiam; mais tarde estabeleceram-se em Miragaia. Mas crescendo em número, estenderam-se até às Virtudes em 1661 estavam de novo na Porta do Olival, onde D. José mandou edificar a fábrica, que continuou até 1862. Nesse ano ainda viviam cordoeiros junto da Viela do Assis. Na Porta do Olival viu o Porto os seus dois únicos autos de fé, em tempo do bispo D. Frei Baltasar Limpo (1543-1544). Aqui esteve a forca, transferida da Ribeira em 1822. Foi teatro de alguns acontecimentos históricos. Neste campo começou, em 1757, o famoso motim contra a Companhia dos Vinhos, e ali mesmo terminou com a morte na forca dos supostos cabecilhas. Aqui também, em 1809, o povo trucidou o brigadeiro Luís de Oliveira da Costa, sob a acusação de jacobino. A par destas tragédias, viu o luzido cortejo da rainha D. Filipa quando ao Porto veio casar com D. João 1; assistiu à passagem do senhor D. Gaspar, a caminho do seu arcebispado de Braga. Nele se realizava a animada feira de S. Miguel, criada em 1682. Foi, nos meados do século passado, o jardim «do bom tom» no Porto. E para terminar esta digressão pela freguesia de Santo Ildefonso, diremos ainda que em 1623 ela contava 1.150 almas; em 1706, 589 fogos com 2.134 habitantes; em 1732, D. Luís Caetano de Lima conta 4.747 almas; e em 1788, o padre Rebelo da Costa, 4.390 fogos, com 18.814 habitantes. Repare-se neste extraordinário incremento de população, devido aos esforços urbanizadores dos Almadas. Sempre se vem podendo, pois, e apesar de tudo, referir muito da longa História da freguesia. No roteiro «Descrição da Cidade do Porto», considera-se o bairro de Santo Ildefonso, a Norte da cidade», principiando no Senhor do Bom Fim e finalizando nos Assentos das Virtudes, incluindo toda a Rua Nova de Santa Catarina até à Neta e Bom Jardim, todo o Largo e Rua das Hortas, Almada até à Senhora da Lapa e voltando por Santo Ovídio passa aos Ferradores, Cordoaria, Assentos das Virtudes onde se termina».

publicado por MJFSANTOS às 10:58
link do post | comentar | favorito
Sexta-feira, 28 de Setembro de 2007

Ramalde - Porto

A FREGUESIA  / HISTÓRIA
NASCIMENTO E ADMINISTRAÇÃO DA FREGUESIA

A freguesia de S. Salvador de Ramalde é mencionada pela primeira vez com o nome arcaico de Rianhaldy, nas Inquirições de D. Afonso III, em 1258. Porém, já aparece citada anteriormente, como lugar, num documento de 1222 em que a rainha D. Mafalda faz uma doação ao Mosteiro de Arouca.
A origem e crescimento do povoado de Rianhaldy perde-se nos tempos, antes da fundação da monarquia portuguesa, provavelmente entre 920 e 944, data em que chegaram ao território os monges de S. Bento. Assim começaria a história do julgado de Bouças e do seu antiquíssimo mosteiro beneditino. Este território pertenceu ao Padroado Real de D. Sancho I que depois o doou, em 1196, a sua filha D. Mafalda.
Na época de D. Sancho II o território denominava-se Ramunhaldy e era constituído por cinco lugares: Francos, Requezendi, Ramuhaldi Jusão e Ramuhaldi Susão (actualmente Ramalde do Meio).
Entre 1230 e 1835 pertenceu ao concelho de Bouças, o qual integrava também S. Mamede de Infesta, Matosinhos, Foz do Douro e um conjunto de vinte povoações.
Em 1895 foi integrado no concelho do Porto, como freguesia. Os seus limites eram assim definidos: a Norte o concelho de Matosinhos (Bouças); a Sul Lordelo do Ouro; a levante Paranhos e Cedofeita e a poente Aldoar.


EVOLUÇÃO DEMOGRÁFICA

É muito difícil caracterizar demograficamente com precisão esta freguesia no período anterior aos finais do século XIX. No entanto, pode dizer-se que em épocas anteriores Ramalde comportava uma população considerável, pois em 1757 possuía 407 fogos e em 1855 cerca de 600 fogos. Por outro lado, o forte crescimento da natalidade e a baixa taxa de mortalidade indiciam um incremento populacional.
No período que medeia entre os finais do século XIX até 1991, e devido à recolha de dados do "Census", já é possível fazer uma análise mais rigorosa da evolução demográfica.
Temos, assim, dois períodos: até aos finais do século XIX, fase que se caracteriza pela inexistência de "Census", e a partir dos finais do século XIX até à actualidade em que já existem "Census" para o estudo dessa evolução. Entre 1864 e 1981, S. Salvador de Ramalde manteve sempre um crescimento populacional positivo, sendo até muito elevado em certos períodos. No entanto, os "Census" preliminares de 1991 apontam, pela primeira vez, para uma taxa de crescimento populacional negativa. Analisando o segundo período, temos o seguinte quadro evolutivo:

Entre 1864 a 1900 um crescimento para mais do dobro. Este facto pode explicar-se pelo arranque do sector industrial e pela mobilização de uma crescente mão-de-obra que veio fixar-se em Ramalde.
Entre 1940 e 1950 e de 1960 a 1970, a população apresenta ritmos de crescimento que variam entre os 38,7% e os 44,5%, respectivamente. No período correspondente a 1940 - 50, este acréscimo pode talvez ser explicado pelo afluxo migratório das zonas rurais para as zonas urbanas.
Para o período de 1960 - 70, pode estabelecer-se uma relação de crescimento populacional e o desenvolvimento industrial que terá conduzido à fixação de mão-de-obra junto das unidades industriais. Porém, não deve ser alheia a este crescimento a implantação de grande número de bairros de habitação social a fim de fornecer alojamento a franjas de população deslocadas do centro do Porto, que apresentava, nesta fase, indícios de saturação.

 

ACELERAÇÃO DO URBANISMO NA ACTUALIDADE

O modo de vida de S. Salvador de Ramalde reflecte um processo de descaracterização sócio-cultural, em grande parte devido à aceleração da urbanização, nomeadamente a partir da década de 60.
Hoje o número de indivíduos que trabalham no sector primário é praticamente nulo (nos "Census" de 91 eram apenas 55) e os traços culturais dessa ruralidade quase se perderam, sendo desconhecidos entre a população mais jovem. Actualmente, 61,7% da população trabalha no sector terciário, seguindo-se 38,4% no sector secundário.
Nota-se, também, uma quebra de sociabilidade e relação de vizinhança, o que poderá ser explicado, em grande parte, por uma percentagem significativa da população activa trabalhar fora da freguesia, mantendo, assim, contactos privilegiados em diferentes espaços. A abertura de importantes ligações rodoviárias - que interessam mais ao Grande Porto do que propriamente às populações da freguesia - também não favorece, pelo contrário, as tradicionais relações de vizinhança e solidariedade.

 

HABITAT E URBANISMO

No início da industrialização da freguesia, a habitação operária designava-se por "ilha", alojamento muito precário, mas que permitia fixar mão-de-obra a baixo custo. Por outro lado ao patronato industrial vinha associado o crescente desenvolvimento de uma burguesia portuense industrial.
Estas "ilhas" eram também a única alternativa para uma incipiente classe operária cujo poder de compra era muito baixo, dada a prática corrente de baixos salários no início da industrialização -- princípio do século XX. Por fim, no plano de melhoramento da cidade "1956" e depois no plano director municipal "1962", a freguesia de Ramalde perde definitivamente a sua face camponesa e torna-se num espaço de preferência destinado à função residencial e ao sector secundário.
Os Planos indicados fizeram evoluir o centro da cidade para uma progressiva terciarização enquanto as zonas periféricas, como a freguesia de Ramalde, passaram a funcionar como espaços residenciais e de crescimento do sector secundário.
No que diz respeito aos espaços residenciais surgem novas realidades habitacionais que, de certo modo, pretendem substituir as "ilhas" da primeira fase: as habitações sociais. Este tipo de habitação pretende dar resposta ao aumento populacional da cidade numa época em que se põe em prática uma política de transferência administrativa de sectores de população do centro da cidade para a periferia, especialmente os que provêm de zonas degradadas.
A habitação social marca profundamente a ocupação na freguesia de Ramalde que se organiza fundamentalmente a partir da década de 60. Em contrapartida, e sem explicação, embora tenha sido Ramalde um território rural, parece não ter havido então a preocupação de criar espaços verdes. Na realidade, em toda a freguesia apenas existe uma zona de lazer e que não é pública. Trata-se do parque de campismo da cidade, ou parque da Prelada, que ocupa a quinta que pertenceu ao antigo solar dos Senhores da Prelada. A entrada principal abre-se para a rua do Monte dos Burgos, na saída para a Maia e Viana do Castelo já do lado Norte da Via de Cintura Interna.
Existe cerca de uma dúzia de bairros de habitação social, como os de Pereiró, Campinas, Ramalde, Viso, Francos, Ramalde do Meio, Bairro de Santo Eugénio...
Encontramos também a habitação privada mas degradada, as "ilhas" nas zonas de Pedro Hispano e João de Deus, Francos, Ramalde do Meio, Requesende, Pedro de Sousa e Pereiró.
A par deste tipo de habitação, aparecem as áreas residenciais de luxo: Avenida da Boavista, Zona Residencial da Boavista (Foco) e Avenida de Antunes Guimarães. Repare-se que as três zonas se situam nos limites da freguesia, a Sul e Leste.
Pode considerar-se que outro tipo de urbanismo está representado pela cidade cooperativa da Prelada inaugurada em 22 de Julho de 1993. Trata-se de uma união de cooperativas: "As Sete Bicas", "Ceta", "Hazal", "Portocoop", "Santo António das Antas", "Santo Ildefonso", "Solidariedade e Amizade", tendo como vizinha uma outra urbanização cooperativa, a "Nova Ramalde". O grande surto da habitação cooperativa surgiu após a revolução de 25 de Abril de 1974.

 

publicado por MJFSANTOS às 00:28
link do post | comentar | favorito
Quinta-feira, 27 de Setembro de 2007

Paranhos - Porto

Paranhos é a maior freguesia da cidade do Porto e a terceira maior do país. 
De Paranhos de outros tempos à actualidade
Origem
Paranhos… Esta nomenclatura é a forma evoluída do primeiro vocábulo: Paramio. O actual nome surge pela primeira vez em documento datado do ano de 1689.
Antes da fundação do Condado Portucalense a freguesia de Paranhos já existia, sendo habitada por mouros ou árabes que se mantiveram nesta região até ao século X.
No ano de 1123 é realizada uma doação do padroado da Igreja de Paranhos ao Bispo do Porto, D. Hugo por parte de D. Elvira Trutesindes e por parte de Pio Mendes. Do padroado doado fazia parte um grande número de casais e quintas.

Em 1341, no século XIV, D. Afonso IV confirma à mitra do Porto o Couto de Paranhos, passando a jurisdição do Couto a pertencer ao Bispo do Porto, na altura, D. Vasco Martins. Por esta altura cerca de dois terços da freguesia pertencia aos senhores do cabido da Sé.

Registos Paroquiais
Foi no ano de 1587 que se realizaram os primeiros assentos de baptismos, casamentos e óbitos.
O primeiro baptismo com assento realizou-se em 29 de Novembro de 1587 com o nome de André. O primeiro assento de casamento aconteceu em 25 de Junho de 1588 entre Thomas Annes e Catarina Annes e o primeiro assento de óbito foi feito a 20 de Novembro do mesmo ano, com o funeral de João da aldeia de Lamas.

No século XIX, o ano em que se registaram mais baptismos (678), foi o de 1926. O ano com mais casamentos foi o de 1947 com 194 uniões e 1905 foi o ano em que se registaram mais óbitos, um total de 420. 

Paranhos e o Cerco do Porto
Paranhos teve uma importância crucial na vitória dos liberais sobre os absolutistas aquando do cerco dos miguelistas à cidade. A Quinta do Covelo, também denominada da Bela Vista, foi um ponto estratégico, uma vez que dela se podia ter uma vista de boa parte da cidade. Por esse motivo, as tropas miguelistas instalaram nesta Quinta uma bateria de canhões.

A nove de Abril desse mesmo ano, os liberais conseguem infiltrar-se na Quinta, tendo atacado os soldados absolutistas e tomado conta do reduto do Covelo. Esta foi sem dúvida uma importante vitória nesta luta que só terminou em 1834 com a vitória dos liberais.

Crescimento da Freguesia
Esta freguesia foi crescendo e desenvolvendo-se, aliás como a maior parte das freguesias, em torno da sua igreja. A igreja de Paranhos foi edificada por lavradores abastados no século X, em torno da qual foram nascendo casais e quintas, como estas continuaram a crescer, deram origem a lugares, entre eles Regado, Agueto, Couto, Igreja, Lamas, Tronco, Carvalhido, e Vale, estes já existiam em 1689. Em 1758 já existiam mais lugares, entre os quais, Amial, Bouça, Cruz da Regateira, Antas, Travessa, Azenha e Cabo. Existiam ainda os lugares de Casal, Fonte, Paranhos, Telheiro, Estrada, Monte Velho, Eira, Padrão, Pereira, Tojo, Aval, Cortes, Regueiras e Asprela.
Com base no Catálogo dos Bispos do Porto de D. Rodrigo da Cunha, sabemos que em 1623, Paranhos contava apenas com 246 habitantes. No ano de 1687, existiam em Paranhos 466 habitantes. Em 1758, segundo dados cedidos pelo pároco, o Reverendo João Carneiro da Silva havia nesta freguesia 806 habitantes.
Em 1766, Paranhos contava com 946 habitantes e em1801, há escritos que dão conta de 1541 habitantes na freguesia.

Desde o ano de 1837 que a freguesia de Paranhos foi integrada na cidade do Porto, tendo pertencido até esta data à antiga Terra da Maia.

Criação da Junta de Freguesia
Por decreto de 18-7-1835, foi criada nesta freguesia de Paranhos uma Junta de Freguesia que, até 1910 se chamou Junta de Paróquia, cuja sessão inaugural aconteceu em 1836.
Até 1851 a Junta esteve instalada na "Casa da Fábrica" da Igreja Paroquial. Depois desta data, mudou-se para a sacristia devido à "Casa da Fábrica" ameaçar ruir.
"Em Janeiro de 1882, mudava para a casa do Vice-Presidente, Gaspar Lucas d'Almeida, da Rua de Costa Cabral, 251; passados dois anos e até 1886, mudou para o N.º 227 da mesma rua.
Neste ano de 1886, é feita nova mudança para o edifício da escola do sexo masculino, à Rua do Vale Formoso, onde se conservou até ao fim do ano de 1889, e em Janeiro de 1890, finalmente, fixa-se a Junta de Paróquia no seu edifício privativo, à Rua da Lealdade (actual Rua de Álvaro de Castelões)..."

Para além da Junta de Paróquia instalaram-se no edifício, a Regedoria, o Posto de Registo Civil, um Posto Médico e duas escolas oficiais.

Actividades Económicas
Em finais do século XIX, já se denota em Paranhos um crescimento que embora lento, vai marcando a diferença, face às outras freguesias caracteristicamente rurais. Foram-se formando duas ruas bastante compridas que espelhavam a atracção da população, sendo elas a chamada Rua da Rainha, actual Antero de Quental e Vale Formoso e a Rua de Costa Cabral. Os lugares do Covelo e Campo Lindo, forma também integrados na cidade.
No início do século XX, apenas oito das doze freguesias que faziam parte do concelho eram de cariz urbano. Foz, Lordelo, Paranhos e Campanha eram ainda freguesias marcadamente rurais, apesar de em Paranhos existirem já algumas artérias onde as lojas comerciais proliferavam, como a Rua de Costa Cabral, Álvaro de Castelões, Vale Formoso, São Dinis e Amial. Podemos mesmo afirmar, que apesar da agricultura ser a actividade à qual a maioria dos paranhenses se dedicava, havendo casas de lavoura que criavam gado bovino que era exportado para Inglaterra, até meados do século passado existiram bastantes fábricas nesta freguesia, fábricas de tecidos, fósforos, curtumes, louça de ferro, etc.
Um dos factores que teve um peso bastante considerável para o crescimento e desenvolvimento de Paranhos, foi sem dúvida o retorno de muitas pessoas que tinham em tempos emigrado para o Brasil. Quando regressaram à sua terra de origem, construíram casas, implementaram lojas e fábricas, atraindo assim a população.

Também em finais do século XIX, mais precisamente no ano de 1883, Paranhos ganha um hospital, que se deve ao benemérito Conde de Ferreira, que no seu testamento solicita a edificação de um hospital para alienados.

Os Transportes
É no ano de 1873 que é estabelecido o primeiro serviço público de transportes para Paranhos da Carris. Este serviço era feito por tracção animal, com os denominados “carros americanos”, puxados por uma ou duas parelhas de mulas. Na época eram feitos dois trajectos, um que ía do Bolhão à Praça da Aguardente, e outro da Praça de D. Pedro ao Largo do Campo Lindo.
Dez anos mais tarde, a Carris deixa de ter o exclusivo do serviço de transporte, pois surge uma outra empresa com sede na Rua de São Dinis, a Empresa Portuense de Carros Ripert. Esta empresa marca pela diferença, pois em vez de mulas, tem a puxar os carros bonitos cavalos e começou a fazer serviços para a vizinha São Mamede de Infesta.
Estes carros de tracção animal começaram a ser substituídos por veículos de tracção eléctrica a partir de 1895. Em 1899 experimentou-se a nova linha eléctrica cujo percurso era da Praça de D. Pedro até à Praça do Marquês de Pombal e que levou treze minutos a ser concluído.

Corria o ano de 1948 quando os Serviços de Transportes Colectivos do Porto realizam o seu primeiro serviço.

A Iluminação
É na última década do século XIX, mais propriamente em 1891, que Paranhos começa a ter iluminação pública.
Numa primeira fase, apenas da Rua de Álvaro Castelões onde se situava o edifício da Junta até à Igreja Paroquial havia iluminação. A iluminação chegou à Rua da Igreja no ano seguinte. Em 1897 foi a vez da rua do Cemitério e já no século XX as ruas de Delfim Maia, Arca de Água e as restantes artérias até ao ano de 1912.
Só na segunda década do século XX começou a substituição da iluminação a gás pela iluminação eléctrica.
As Ruas
Até finais do século XIX, as ruas e caminhos de Paranhos eram estreitas e de difícil trânsito, e só a partir de 1912 é que se começam a verificar verdadeiros melhoramentos nos arruamentos e nas vias de comunicação de Paranhos com as freguesias envolventes. Neste ano é rasgada a Rua de Delfim Maia, a Viela do Relógio transformada em Rua, a Rua de Costa e Almeida sofre reparações e a Rua do Lindo Vale é alargada. Este foi o início de muitos melhoramentos e inovação em termos das vias de comunicação. Nos anos 30 dos século XX, nasce a Rua do Bolama, no local onde anteriormente existia a Viela do Covelo, a Rua Augusto Lessa data igualmente desta década.
Saliente-se que a primeira via de comunicação que atravessou esta terra era uma via romana que data do ano 160. Em 1258, é rasgada outra via, a via veteris que ía do rio Douro, passava por Lordelo, Cedofeita, Custóias, Pedras Rubras e ía em direcção à ponte do Rio Ave. No século XVI, é aberta uma nova estrada até Viana do Castelo, era a estrada “Nove Irmãos”.  
As águas de Paranhos
Esta é uma Freguesia que possui apenas alguns regatos de pequena dimensão utilizados outrora pelos lavradores para regarem os seus terrenos de cultivo, pois esta, no século XIX e inícios do século XX era essencialmente uma terra de cariz rural.
Paranhos é sim, uma Freguesia conhecida pelas suas sete nascentes, com água de excelente qualidade, como as águas de Arca D’Água, utilizadas para abastecer toda a cidade do Porto, desde finais do século XVI. Da famosa Arca D’Água, partiam três nascentes da Arca Nova e quatro da Arca Velha.
Dada a elevada qualidade da água, os moradores da cidade ofereceram mil cruzados para a ajuda da construção do aqueduto, e o caudal da água ia até à actual Praça de Carlos Alberto e terminava à Porta do Olival, actual zona da Cordoaria.
 Desde inícios de 1903, pela altura da celebração de S. Miguel, realizava-se neste local, o Largo de Arca D’Água, a “Feira de S. Miguel”, famosa por ter uma duração de um a dois meses e pelas inúmeras “barraquinhas de comes e bebes” que aí se podiam encontrar.
Foi no ano de 1920 que Arca D’Água foi transformada em jardim, mas, não sem antes, ter sido palco de um famoso duelo em 1865, entre Antero de Quental e Ramalho Ortigão, pela polémica literária conhecida por “Questão Coimbrã”.
Ainda em 1950 Paranhos fornecia água a fontes, fontanários e bebedouros públicos, que permitiram à população abastecer-se de água antes da existência do abastecimento domiciliário.
Até 1945 quem pretendesse entrar na cidade via-se obrigado a pagar o imposto indirecto municipal, servindo a estrada da Circunvalação de marco fronteiriço para o efeito.
Na década de 50 do século XX, é inaugurado no lugar da Asprela o Hospital Geral de São João, outrora designado por Hospital Escolar da Cidade, por nele estar instalada a Faculdade de Medicina da Universidade do Porto.
 Como o número de habitantes foi crescendo incessantemente, a freguesia foi-se transformando em termos paisagísticos. Muitos dos campos existentes, foram dando lugar à construção de edifícios, não só habitacionais, mas também institucionais. É portanto, no século XX, que começa a nascer uma freguesia de cariz urbano, com a pavimentação de ruas e caminhos, aproximação da freguesia ao centro da cidade através do melhoramento das vias, o que se traduziu numa maior mobilidade da população.

 Algumas curiosidades…
Rua do Amial:
Esta Rua, abarca parte do que em tempos era a Quinta do Tronco, o nome da Rua fica a dever-se aos inúmeros amieiros que em tempos existiam. Foi nesta Rua que passou o primeiro transporte público em Paranhos, no ano de 1873. O transporte consistia num carro americano puxado por uma ou duas parelhas de muares, partia diariamente de S. Mamede Infesta e terminava a viagem na actual Praça de Carlos Alberto, em frente da Antiga Tabacaria Havaneza

Rua Álvaro Castelões:
Esta foi a primeira rua da freguesia a ter iluminação pública a gás, vivia-se o ano de 1891, só em 1922 a electricidade chegou à freguesia. No fundo desta rua situa-se a Junta de Freguesia de Paranhos, criada por Decreto-lei de 18 de Julho de 1835 e até 1910 era
designada por Junta da Paróquia.

Praça Marquês de Pombal:
Foi conhecida antigamente por Largo da Aguardente, por se realizar neste local o mercado da aguardente. O coreto aí existente foi oferecido pelos moradores da Praça. Este local constituiu uma das linhas de defesa aquando das invasões francesas e das forças liberais durante o cerco do Porto.No ano de 1785 algumas pessoas devotas de Santo António ergueram uma capela denominada Santo António da Aguardente.  
 
Rua da Constituição:
O primeiro troço desta comprida rua a ser construído, ligava a antiga Praça da Aguardente, actual Praça Marquês de Pombal, à antiga Rua da Rainha, actual, Rua Antero de Quental, e a sua conclusão data de 1845. No ano de 1851 ainda rareavam as casas de habitação. As primeiras instalações do Futebol Clube do Porto, foram edificadas nesta rua.

Rua de Costa Cabral:
Foi nesta Rua que em 1882 foi aberta a segunda escola na freguesia. Era uma escola para crianças do sexo feminino, a primeira data de 1872. Antigamente, esta rua era a estrada que levava as pessoas da cidade do Porto a Guimarães, daí ter ficado conhecida como Estrada de Guimarães.  

O Hospital Conde Ferreira:
Este Hospital, mandado edificar por Joaquim Ferreira dos Santos, para o tratamento de doenças do foro mental, foi inaugurado em 24 de Março do ano 1883. Nos seus jardins podemos apreciar a estátua deste benemérito, mais conhecido por Conde Ferreira, numa obra do escultor portuense, Soares dos Reis.
Este Hospital Psiquiátrico, foi edificado no antigo Largo das Regateiras, hoje Largo da Cruz. Era assim denominado, pois as vendedeiras que vinham das terras da Maia à cidade, paravam neste largo para vender, regateando os preços, cantando e dançando.
 
O Cemitério:
Onde hoje está o cemitério de Paranhos, existiam em tempos bouças – as “Bouças do Agrelho”. As primeiras ossadas a serem trasladadas para aqui datam de 1879. Em 1910 o espaço já era insuficiente e teve de ser aumentado para o dobro. A construção do cemitério ficou a dever-se à proibição em 1835 de enterros no interior das igrejas e mais tarde nos adros das mesmas.
No cemitério de Paranhos esteve sepultada aquela a quem lhe chamam a “Santa de Paranhos”, a Beata Maria do Divino Coração, de nacionalidade alemã e origem aristocrática, que veio para o nosso país em 1894, para servir a Congregação do Bom Pastor. Nesse mesmo ano foi nomeada Superiora da Casa que a Congregação do Bom Pastor tem no Porto, mais precisamente na Rua do Vale Formoso, tendo aí permanecido até 1899, data da sua morte. Hoje, podemos visitar a capela e o quarto da Irmã Maria, daquilo que resta do já extinto Recolhimento do Bom Pastor.

Estrada da Circunvalação:
Esta via ficou concluída em 1897 e servia para limitar as fronteiras fiscais da cidade. Para a Freguesia de Paranhos ficaram estabelecidas as fronteiras da Areosa, Azenha, Amial e Monte dos Burgos, estas fronteiras mantiveram-se até 1943.
No final do século XX com a construção da Via de Cintura Interna, melhora significativamente o acesso à freguesia a outros pontos da cidade, melhorando e aumentando a comunicação entre a população e serviços.

 Apesar do seu perfil urbano, ainda hoje podemos descobrir os prazeres de uma freguesia que em tempos foi constituída por aldeias. Podemos encontrar pessoas que vendem pelas portas os legumes da horta, as que vendem à sua porta flores, a mercearia e a padaria onde se conhece o freguês, assistir e participar na procissão em honra de N.ª Senhora da Saúde, beber água num dos muitos fontanários que ainda vão resistindo à mudança, ou seja, costumes marcadamente rurais.
 Paranhos oferece uma dupla riqueza: viver e estar na cidade e usufruindo os seus serviços e meios, mas ao mesmo tempo desfrutar de uma tranquilidade bucólica, difícil de encontrar no meio urbano.


 


publicado por MJFSANTOS às 00:55
link do post | comentar | favorito
Domingo, 23 de Setembro de 2007

Jardins do Palácio de Crsital no Porto

 

Os Jardins do Palácio de Cristal, ainda hoje conhecido como tal, deve o seu nome ao belo edifício em ferro e vidro, que existiu no mesmo local, e que teve como modelo o Crystal Palace de Londres. Projectado pelo Arquitecto Dillen Jones e do Engenheiro W. Shields.

Obra iniciada em 1861, foi inaugurada a 18 de Setembro de 1865, pelo Rei D. Luís I

Ali decorreu juntamente com a sua inauguração, a primeira Exposição Industrial da Península Ibérica, a Exposição Industrial do Porto.

Nos anos de 1951 e 1952, deu-se um crime de Lesa-Cidade levado a efeito pelo executivo camarário de 1951, o magnífico edifício que foi o Palácio de Cristal, foi demolido, tendo no entanto, conservado o local o seu nome , talvez para lembrar aos responsáveis políticos da Cidade, que crimes como este não são para repetir.

No seu lugar, foi construído um Pavilhão de Desportos, hoje mais um Pavilhão multiusos, da autoria do Arquitecto Carlos Loureiro, tendo sido inaugurado em 1956. Recentemente, foi-lhe dado o nome da Campeã Olímpica da Maratona, a Portuense, Rosa Mota.

Os Jardins foram  desenhados pelo arquitecto paisagista alemão Emile David ( autor dos Jardins da Cordoaria do Passeio Alegre ).

Hoje em dia, além dos bonitos jardins, e matas , encontramos O Pavilhão Rosa Mota, a Nova Biblioteca Almeida Garrett, com Fonoteca e Videoteca inaugurada em 2001 e da autoria do arquitecto José Manuel Soares, A Casa do Roseiral, antiga residência do Director do Palácio, o Miradouro da Torre, pequena torre em granito, com uma fantástica vista sobre o Douro, a Capela de Carlos Alberto, Rei da Sardenha exilado na Quinta da Macieirinha e que faleceu em 1849.  A Irmã do Rei, a princesa Frederica Augusta de Monthleart mandou-a edificar entre 1854 e 1861. Na Avenida das Tílias, fica a Concha Acústica. Virado para o lado do Douro, encontramos o Jardim dos Sentimentos assim como a maravilhosa paisagem sobre o Porto e Vila Nova de Gaia.

Os Jardins do Palácio de Cristal são hoje em dia palco anual da Feira do Livro, normalmente no mês de Maio.

 



publicado por MJFSANTOS às 09:32
link do post | comentar | favorito
Domingo, 16 de Setembro de 2007

Miragaia - Porto

 

Alguma História 

Não podemos ignorar que o itinerário de António Pio situava na margem direita do Douro uma pequena povoação, de seu nome Gale, que, segundo Pinho Leal, significava defronte de Gaia. Seria o local dos que, vindos da Bracara Augusta para o sul, tinham de descansar antes de entrar nos barcos, no portus, e rumando a nascente do Castelo de Gaia seguiam para Lancobrica (a actual cidade da Feira), Talabrica (Aveiro) ou Aeminium (cerca da actual Coimbra).

O Castelo de Gaia, ou o que restava dele, desapareceu aquando das lutas liberais. Os miguelistas tinham-se apoiado naquele local, montando aí uma forte bateria que, segundo consta, seria a que bombardeou o Palácio dos Carrancas onde D. Pedro tinha estabelecido o seu quartel-general. D. Pedro, bombardeado no seu próprio quarto, mudou para Cedofeita, mas, no dia seguinte, na sua habitual visita as linhas, foi até aos canhões que tinham montado no local que chegou a ser conhecido como o da Bateria das Virtudes (onde esta hoje o SAOM) e, afinando a pontaria, desfez o reduto do Castelo de Gaia e, claro, as ruínas do próprio castelo. Se calhar e só uma interpretação dos factos, mas a verdade é que o que restava do castelo de Gaia desapareceu naquela altura.

Outros querem, por exemplo, que a antiguidade deste lugar seja atestada pela inscrição existente na Igreja e onde se lê "Prima Cathedralis fecit haec. Basilius oh egris quam pedibus sanus, condidit inde Petro", o que em versão portuguesa daria "Esta foi a primeira catedral do Porto. S. Basílio, apenas se viu são dos pés, a edificou, e por aquele motivo a dedicou a S. Pedro". Ora este S. Basílio morreu no ano 37, e segundo algumas opiniões poderá ter sido o primeiro bispo do Porto.

A ser assim, a Igreja de Miragaia teria sido fundada no ano 37, o que, convenhamos, seria antiguidade a mais....... E das duas uma: ou a tradução (ou a inscrição em si) é deficiente ou o S. Basílio é outro que não o referido como bispo do Porto, até porque no primeiro século da nossa era o Porto nem sequer existia. Carlos Passos, na vertical "Guia Histórica e Artística do Porto" supõem-na remontando ao século XIII e do tipo românico, mas a actual é do século XVIII, já que em 1740 foi a anterior demolida na sua quase totalidade - só escapou a capela-mor e os lados do transepto.

Na primeira metade do século XV, um grupo de arménios, fugindo dos turcos, em 1453, vejo até ao Porto, trazendo consigo as relíquias de S. Pantaleao, martirizado em 1305, em Nicomedia, e que haveria de ficar como patrono da cidade. Foram estas relíquias depositadas na Igreja de Miragaia e em cofre de prata lavrada oferecido por D. Manuel I, para dar cumprimento a uma das ultimas disposições do seu antecessor e primo D. João II, e mais tarde, em 12 de Dezembro de 1499, transferidas para a Sé do Porto por ordem do bispo de então, D. Diogo de Sousa.

Curiosamente, e aquando das lutas liberais, alguém fez desaparecer da Sé o cofre das relíquias... e nunca mais apareceu nem um, nem as outras. Pinho Leal escreveu que o ladrão tinha sido um nobre, que ele sabia quem era, mas não o dizia...

O nome desta nossa freguesia é controverso e, como não podia deixar de ser, a lenda entrou na vida (ou será que a vida entrou na lenda?), e o miragaiense Almeida Garrett, que nasceu, em 1779, na Rua do Calvário, recolheu da oralidade popular um romance que, pela sua mão, viu a luz do dia pela primeira vez no primeiro volume do Jornal de Belas Artes, em 1845.

Em resumo, no ano de 932, o rei Ramiro desceu da Galiza e veio raptar Zahara, a bela irmã do xeque Alboazar, e este, ofendido e por vingança, rapta a não menos bela esposa de Ramiro, a rainha Gaia, vindo a apaixonarem-se perdidamente um pelo outro. Ramiro, ignorando esta situação, vem com o filho e as suas gentes de armas até ao castelo do rei mouro que, na margem esquerda do Douro, se erguia no caminho do rio para a foz. Ramiro esconde as suas gentes na encosta, sob a folhagem, e vestido de romeiro sobe a rampa e fica junto a uma fonte, a espera de novidades. Uma criada vem buscar água fresca à fonte para a sua nova ama – a cristã. E logo Ramiro aproveita para esconder o seu próprio anel na água da bilha e fica a aguardar.

A rainha Gaia, ao encontrar o anel na água, pressente a verdade e manda chamar o romeiro a sua presença. Apaixonada pelo mouro, resolve desfazer-se do marido e, embriagando-o, prende-o num quarto, que se abre quando chega Alboazar. Ramiro tenta reagir mas é logo preso pelas gentes do mouro que, sorrindo, lhe pergunta o que lhe faria ele, rei cristão, se tivesse as mãos o seu inimigo. Ramiro, lembrando-se do que acordara com os seus homens, responde que lhe faria comer um capão, beber um canjirão de vinho, e depois coloca-lo-ia no alto da torre a tocar trompa até rebentar. Alboazar acha graça e diz-lhe que será então essa a sua morte e, para mais gáudio, manda abrir os portões do castelo a convidar todos os moradores extramuros a virem assistir.

Ramiro come, bebe, toca a trompa e de repente as suas gentes, ouvindo o sinal combinado, irrompem pelos portões abertos do castelo, chacinando as tropas sarracenas desprevenidas. O próprio Ramiro mata Alboazar e, pegando na mulher, ruma para o barco, seguido pelos seus homens. Já a bordo, encara, atónito, o pranto da esposa, que fita desolada as ruínas do castelo, e pergunta-lhe qual a razão:

Perguntas-me o que miro?
Traidor rei, que hei-de eu mirar?
As torres daquele Alcácer
Que ainda estão a fumegar!
Se eu fui ali tão ditosa,
Se ah soube o que era amar,
Se ah me fica a alma e a vida...
Traidor rei, que hei-de eu mirar?
Pois mira, Gaia! E, dizendo,
Da espada foi arrancar:
Mira Gaia, que esses olhos
Não terão mais que mirar!

Ainda hoje está dizendo
Na tradição popular,
Que o nome tem – Miragaia
Daquele fatal mirar.

Poderá ser só lenda, poderá... mas a encosta que o rei subiu chama-se a Rua do Rei Ramiro, a fonte e a Fonte do Rei Ramiro, as armas da cidade de Gaia estão encimadas por um cavaleiro tocando trompa, e a zona do Porto, frente ao local onde a rainha foi degolada, chama-se Miragaia...

O Padre J. Augusto Ferreira escreveu, nas suas Memórias Archeologico-Históricas da Cidade do Porto, que Miragaia começou a ser povoada em 1243 e, ao escrever-se sobre o Porto a morte do bispo D. Pedro Salvadores, em 24 de Junho de 1247, revela-se que nessa data Miragaia era um pequeno lugarejo de pescadores a beira-rio, haviam sido construídas setenta e cinco casas e mais algumas se estavam a construir.

Estes textos levar-nos-iam levianamente a supor que só em 1243 se começa a povoar Miragaia e que em 15 anos só se tinham levantado 75 casas nesta zona, mas o já citado escritor, no mesmo primeiro volume da sua obra, informa que das Inquirições de 1258, consta que, junto de Monchique, em menos de quinze anos se tinham erguido setenta e cinco casas, o que demonstra que se dilatava a cidade pelo Ocidente até Miragaia.

Quanto a nós, o que será mais correcto de interpretar destes textos e que Miragaia estava já ligada a cidade, e viria a adossar-se inclusive a muralha que D. Afonso IV viria a edificar, e que este desenvolvimento, de facto, e o caminho do ocidente, portanto de Monchique.

Alias, este nosso ponto de vista é reforçado pela leitura de Alexandre Herculano, em Lendas e Narrativas, onde escreve "A povoação de Miragaia assenta ao redor da Ermida de S. Pedro, que nos fins do século XIV trepava já para o lado do Olival e vinha entestar pelo norte com o couto de Cedofeita e pelo oriente com a vila no burgo episcopal".

E é nesta freguesia que se encontra a maior parte do que resta da mal chamada "Muralha Femandina". E esclareço que lhe chamo mal chamada muralha fernandina, porque tal titulo só lhe advém do facto de ter sido no reinado de D. Fernando que ela se acabou, quando, na verdade, quem teve a ideia da sua construção e a principiou foi D. Afonso IV, mais precisamente em 1336.

Os quintais e alguns prédios da Rua Barbosa de Castro, que contactam com as traseiras dos da Rua das Taipas, estão separados por panos de muralha, que só foi cortada para abertura da Rua das Taipas (fazendo desaparecer a porta deste nome), muralha que continua nos terrenos da Brevia dos Religiosos de S. Bernardo, hoje SAOM, onde existe o único postigo aberto na muralha para terra. Continua pelas traseiras dos prédios da Rua Tomas Gonzaga e só interrompe no local onde existiria o postigo da Esperança; e logo temos ali, ao nosso lado, um grande pano da muralha a descer as escadas do Caminho Novo até lá ao fundo, onde deveria ter estado a Porta Nobre.

Porta Nobre que teria sido mandada edificar por D. Manuel I para substituir ou, se quisermos, e supomos ser o mais correcto, para ampliar o velho Postigo da Praia de Miragaia. A Praia, que se estendia desta porta até Monchique, era conhecida como a "Praia do Mosqueiro", mas as gentes de então chamavam-Ihe somente a praia, e chegava. E é curioso que ainda nau há muito tempo, quando tentávamos a identificação de um postal existente na colecção da Biblioteca Municipal, ao contactarmos com as gentes mais antigas da zona, elas ainda denominaram o largo que forma a Rua de Miragaia, frente a Alfândega, como o "Largo da Praia"

Há por aí uma grande confusão e, talvez por se romper por aí a Rua Nova da Alfândega, ou, como costumo dizer por brincadeira, a Rua da Alfândega Nova, há quem queira nomear a tal porta como Porta Nobre.

Pinho Leal, no seu sempre consultado Portugal Antigo e Moderno, esclarece de vez este assunto, escrevendo: "Continua a muralha em direcção ao Sul, em linha ao rio Douro, atravessando a Rua da Esperança, em cujo sitio havia um pequeno postigo com o mesmo nome, o qual creio ter estado em terreno próximo a pequena Capela de Nossa Senhora dessa invocação, correndo como se vê, junto a ela, a muralha até fechar na porta nobre, assim nomeada por ser por ela que costumavam fazer a sua entrada "os Príncipes e grandes Senhores".

Alias, seguindo pela Rua de Miragaia, que foi cortada quando se criou ah o Largo da Alfandega, vamos encontrar uma antiquíssima fonte, simples, adossada a um prédio (alias protegida pela varanda do primeiro andar desse prédio), no local onde aparentemente a rua acaba, intitulada a Fonte da Colher. Foi restaurada em 1940, aquando da febre das comemorações dos centenários. Era um local de portagem, que desenvolveremos mais a frente, quando tratarmos das fontes da freguesia.

Alias, se há freguesia que ainda tenha locais e denominações a lembrar tempos recuados, essa é, por certo, Miragaia. E assim lembramos a Rua Ancira, frente a Igreja, que Sousa Reis acha que, porque e muito apertada (como alias quase todas as daquela época), derivaria o seu nome de "arecia-augusta-apertada". Supomos que a explicação e mais simples e derivara, na linha da Rua dos Arménios, de uma homenagem a lembrar a Ancara ou Angora, nome actual da antiga capital da província romana da Galasia, na Ásia Menor. Outra rua de nome curioso e a da Atafona, nome de um engenho de moer grão - e não nos podemos esquecer que relativamente perto, se bem que já na freguesia de S. Nicolau, existe a zona do forno comunitário, e ainda por lá ficou a Calcada do Formo Velho. E vamos, uma vez mais, chamar à puridade o "velho Sousa Reis, que informa que Atafona é um moinho de moer em seco e deriva o nome da palavra árabe Tamane, que significaria moer, ou do hebraico Tahane, que significa mó.

Esta atafona, e este moinho velho, trazem-nos a baila outra das grandes zonas desta freguesia – a dos judeus! Alias bem lembrada na toponímia miragaiense, com a Escada do Monte dos judeus, a Rua do Monte dos judeus e Os Cidrais – de baixo e de cima. Frei Fernando da Soledade, na sua História Seráfica, lembra que em 1410 foi dada autorização a Gil Vaz da Cunha para construir umas moradas no pequeno monte em que tinham habitado os judeus, e onde existia uma sinagoga abandonada. Era o Bairro dos judeus, em Monchique.

O Porto teve varias judiarias, os locais onde "arrumavam" os judeus. Eram perseguidos, na teoria, como culpados pela morte de Cristo, mas, na prática, por problemas económicos. A religião cristã proibia os fieis de ganharem com a onzena, o que, ao fim e ao cabo, os proibia de ganhar dinheiro com o dinheiro. Por aqui não surgiram grandes problemas - a Igreja cristã não os hostilizava e foram-se mantendo até ao decreto que, por força de umas saias, D. Manuel I promulgou. Mas mesmo aí não tiveram problemas os judeus de Miragaia e os outros do restante Porto. Quando receberam da Câmara a comunicação do decreto real, puderam, sem o menor vexame, embarcar no Douro com destino a Inglaterra e a Holanda.

O seu bairro, em Miragaia, ocupava um largo espaço entre a praia, a escarpa da bandeirinha e a zona de Monchique. Tinham a sua sinagoga própria e cemitério privativo. A sinagoga situar-se-ia no terreno onde, no século XVI, se construiu o Convento de Monchique, e o cemitério - o almocavar - localizar-se-ia ao fundo da rua da Bandeirinha, nuns terrenos hoje murados e que confinam com o local da dita Bandeirinha.

Quanto a bandeirinha propriamente dita, foi durante muito tempo mais uma das marcas do rio, uma das que serviam de orientação para quem subia o rio. Depois, no século XVIII, passou a ser conhecida como "bandeirinha da saúde", por ser o sinal indicativo de que nenhum barco devia ultrapassar essa zona sem receber primeiro a visita da inspecção sanitária. Eram tempos de peste e todos os cuidados eram poucos. Havia necessidade de evitar o contágio a cidade. Durante algum tempo, ainda que muito pouco, a paragem foi também obrigatória para a visita dos homens de Santo Oficio, à procura de livros ou símbolos de heresia ou desvio da religião oficial.

Era um plinto de granito, que sempre se manteve no seu sítio, onde se arvorava uma haste de ferro que suportava uma bandeira de chapa pintada de amarelo (a cor da peste). O ferro era encimado por uma espécie de esfera armilar. Por força do vento ou da corrosão, a haste, a bandeira e a esfera desapareceram, mas voltaremos a falar deste assunto com mais pormenor quando tratarmos da zona da Bandeirinha.

Do outro lado do largo fica o Palácio da Bandeirinha ou, para o portuense vulgar, o Palácio das Sereias, com o brasão dos Cunhas Portocarrero na frontaria, virada ao rio, ladeado por duas sereias em granito. Nos anos 4o era um local de peregrinação oculta dos "grandes" das escolas primarias das redondezas, para ver as "mamudas". E que naquele tempo ainda não havia televisão com programas hardcore e a pomografia ficava-se por uns beijos "à artista", em filmes mais ousados do Carlos Alberto ou do Parque das Camélias. E ter logo aí dois pares das ditas era mesmo motivo para peregrinação. Hélder Pacheco faz-se eco da lenda, que se contava nos tempos da avó dele, de que as sereias desnorteavam os rapazes. E a sua miragaiense avó retorquia sempre que "os encantamentos eram mas é os castigos dos meninos que iam lá acima ver as mulheres nuas. E ela bem sabia porquê...

O palacete foi mandado construir em 1575 pelo fidalgo D. Pedro da Cunha, enquanto sua esposa, D. Brites de Vilhena, mandava edificar o convento de Monchique. Durante o século XVII, foi o Palácio das Sereias habitado pela família dos Cunhas e Vilhenas. No século XVIII, passou para a família Portocarrero.

Aquando das invasões francesas, o então proprietário, oficial de artilharia, foi considerado, talvez pelo seu nome (Portocarrero), estrangeiro e o seu corpo foi arrastado pelas ruas, sendo depois lançado ao rio junto aos muros de Miragaia.

Por razão de partilhas, o Palácio foi vendido ao Instituto das Filhas da Caridade Canossianas Missionarias.

E, já que referimos Monchique, é altura de lembrar um dos privilégios dos homens do Porto e que, resumidamente, se cifrava no facto de ser proibido aos fidalgos residir ou passar largas temporadas no Porto. A evolução foi-se dando e os fidalgos foram abusando, fazendo esquecido o direito, até que, e como Camilo Castelo Branco tão bem evoca no seu Mosaico,"concedeu o Porto a Fernão Coutinho que vivesse nas suas casas de Monchique quarenta e cinco dias cada ano, repartidos em três temporadas, cada uma de quinze dias. Vindo o seu descendente Rodrigues Pereira ao Porto, e demorando-se mais de três dias para alem dos determinados, se ajuntou o povo e lhe pôs fogo às casas e houve mortos. Queixou-se Rodrigues Pereira ao juiz e vereadores. Os criminosos foram absolvidos por matarem e incendiarem em defesa dos seus privilégios.

A baixa de Miragaia, com as suas famosas arcadas, que mais não eram do que a frente das casas que davam para o areal, foi pouco a pouco sendo invadida pelo grupo terciário da nossa população, neste caso concreto os despachantes e transitários, e os seus escritórios foram tomando conta, como e habito, dos andares onde vivia gente. Mas o rio deixou de ter tráfego e as cargas por contentores, com muitas entregas directas aos importadores, foram cerceando a actividade dos despachantes e transitários e assiste-se agora ao fenómeno inverso: os escritórios partem e voltam as gentes, mas ainda há por cá muito inestética tabuleta a pedir legislação apropriada...

E, ao recordar a zona ribeirinha da vizinha Sé, temos de lembrar a da nossa freguesia. Nos tempos em que o rio era grande, como diz o nosso amigo e arrais Mestre Domingos, ou seja, no tempo em que não havia barragens no Douro, mal começavam as aguas a ameaçar a zona da Ribeira, já Miragaia as via a ameaçar as suas casas. E que a Alfândega foi construída sobre estacaria e dai que o contacto directo das aguas se faca rapidamente do rio para terra, através dos bueiros abertos para o movimento oposto. No ano de 1966, a agua foi tanta que algumas vezes voltou a entrar nas casas e os barcos tomaram a sulcar a Rua de Miragaia. A luta deste povo reflecte afinal o querer, a vontade indómita desta gente miragaiense, que se ergue impávida, briosa, a honrar-se como legitima descendente dos marinheiros de antanho que por aqui viviam.

Sendo uma das mais pequenas freguesias do Porto, não deixa de ser muito procurada por artistas do desenho e do pincel, que nas suas arcadas e ruelas vão encontrando, ao longo dos séculos, motivos de inspiração. Prova disso são, ao acaso, dois quadros que reproduzimos, de dois períodos tão diferentes: o romântico Gouvêa Portuense, publicado em livro de sua autoria, e o contemporâneo Angel Vasquez.

Júlio Couto ... "Guia de Miragaia"

 

 


publicado por MJFSANTOS às 00:00
link do post | comentar | favorito
Sábado, 15 de Setembro de 2007

Massarelos - Porto

Assim a modos que bocados da nossa história

 

Vilar de pescadores sempre nos chamaram, a esse núcleo de gentes que vivia nas arribas de «Maçarellos», ocupando o espaço que lhe sobrava dos terrenos à beira da ribeira e os que bordejavam as salinas e o rio. Dividindo o seu tempo entre o amanho das leiras, a criação de algum - pouco - gado e o inevitável apelo ao rio e ao mar. Vivendo «fora de portas», como os seus vizinhos de Miragaia e os a caminho da foz do rio, era na convivência com as águas que se sentiam realizados.


iluminura do missal Antigo, de Lorvão (séc. XIV).


Quando D. Afonso Henriques doou «Maçarellos» à Colegiada de Cedofeita, em 1148, estas gentes ficaram muito longe do seu senhorio e tiveram de superar, por uma luta constante e diária, tal facto, bastando-se a si próprio. Lá no alto, o pinheiro manso, e, depois dele ter sido «assassinado» por um malandro que o secou, descas¬cando-o em 1534, se levantou a torre de pedra que servia de marca - e daí o nome porque ficou conhecida - «Torre da Marca» - era o ponto de guia de que se ser¬viam quando voltavam do mar. A água que corria pelo caudal da ribeira servia para regar os campos e as hortas, depois de aproveitada para mover as pás das azenhas, a que então se chamavam moinhos de água. As azenhas de Vilar (hoje Rua de D. Pedro V), que se foram edificando nas suas margens. E ainda a utilizavam para beber e para lavar as poucas roupas que usavam.
«Eu, Afonso, rei de Portugal, com a rainha D. Mafalda, minha esposa, doa¬mos à Colegiada ou Mosteiro de Cedo¬feita e ao abade, todas as herdades próximas à mesma igreja, e que confi¬nam com a igreja do Porto, pelo lado que se chama Monchique, por Germalde, pelo Monte do Cativo, por Paranhos, assim como estas terras que correm ao Douro, e todas estas herdades, e todo este território dentro dos limites notados o fazemos couto in perpetuum com todos os seus proventos e pertenças, para a Igreja de Cedofeita possuir, tudo em honra da Bem¬-Aventurada Maria Virgem, e do Bem-Aventurado S. Martinho, bispo de Tours, cujas santas relíquias se
conservam neste mosteiro, tudo para remédio de nossas almas, e remissão de nossos pecados. Ninguém, tanto dos nossos como de estranhos, poderá quebrar esta carta de doação. Se porém algum tentar romper esta carta de doação, e devassar este couto, primeiro que tudo seja afastado para todo o sempre da comunhão do Santíssimo Corpo de Cristo. Eu, Afonso, e minha esposa a rainha, mandamos escrever esta carta para memória dos presentes e futuros, e na presença de testemunhas firmamos e roboramos. Feita em Coimbra na era milésima centésima octogésima sexta, ano de 1148, mês de Julho.»


Iluminura do «Saltério de Lutre», do séc. XlII (Museu Britânico, Londres).


Da Foz à Ponte das Barcas, e a todas as que se lhe seguiram, naquele lugar, esta margem do rio era um permanente estaleiro e porto. Nas areias da praia os pescadores encalhavam os barcos ao lado das quilhas e cavernames que iriam dar forma às barcas com que teriam de enfrentar as ondas dos mares do Norte ou do Mar Interior, passando o estreito entre as Colunas de Hércules.


Iluminura de «Li faits des Romains», séc. XIV (Biblioteca Marciana, Veneza).


A luta era dura e diária mas o senhorio estava atento e, em 1237, D. Nuno, pre¬lado de Cedofeita, deu aos seus foreiros a sua lei de bem viver. «Para conhecimento de quantos virem a presente carta de foral: Eu, Nuno Soares, prelado da Igreja de S. Martinho de Cedofeita, e os cónegos da mesma igreja, damos e concedemos às terras da Igreja de Cedofeita, a todos, quer pescadores, ou quaisquer homens, que quiserem aqui edificar casas ou quintas dentro destes limites, a começar no rio Douro no porto de Crastelo, e pelo caminho que vai por cima da casa de Lourenço Boi e daí para a vinha de Marco Garcia, e toca em Carrazedelo, debaixo deste foro: os pescadores que aí vierem habitar, de cada fogo pagarão anualmente um soldo da moeda do Porto, e um sável de cada barco à Igreja de Cedofeita, quando os caçarem por meio de Abril. Pagarão foro das primeiras lampreias e peixes reais, como costumam pagar à mesma igreja, e cada um deles fará uma viagem no rio Douro, sustentando-os a Igreja, e aqueles que não forem pescadores, de cada fogo pagarão anualmente um capão e um soldo, pelo S. Miguel. Se nestas terras habitar algum caseiro que tenha burro, que possa fazer caminho, fará com ele dois caminhos por ano às mesmas terras da Igreja, que lhes dará sustento. Se algum dos moradores cometer homicídio ou calúnia, a pagará pelo foro da cidade do Porto, assim como portatido. (?) Se o meirinho do couto desta Igreja quiser penhorar alguém, o penhore, segundo o foro da cidade do Porto. Se algum homem de fora vier a este porto com barco, e ali ancorar, pagará três dinheiros ao meirinho do couto, e se aí vender pescado, dará peixe do pescado que vender. Damos, e concedemos, dentro dos limi¬tes marcados a todos os povoadores, e aos que lhes sucederem, o que possuírem de juro per¬pétuo. Se alguém destes povoadores quiser vender a sua herdade, a poderá vender ou doar a quem continuar com o mesmo foro, sem que da venda resulte prejuízo para a Igreja. E se alguém, tanto da Igreja como dos moradores, quiser quebrar este novo foral, pague em dupli¬cado ao queixoso todo o dano, e as benfeitorias, e além disso duzentos áureos. Nós, acima dito, Nuno, prior de Cedofeita, e cónegos da mesma Igreja, mandamos escrever esta carta na pre¬sença de testemunhas idóneas, e por nossas próprias mãos roboramos; e para que o pre¬sente foral tenha força e valor, vai selado com o selo do prior e convento. Feita esta carta no mês de Setembro de 1237.»


Do «Livro de Horas», de D. Manuel (mês de Abril).


E depois havia o sal das salinas de Massa¬relos, o vinho verde do Minho, o vinho fino que manava do Douro, a própria carne salgada... A colegiada para fazer concorrência aos marnoteiros de Matosinhos e de Leça da Palmeira, mandou abrir, na praia de Massarelos (mais ou menos onde hoje termina a Rua da Restauração) uma série de talhos - tabuleiros onde se depositava o sal - o que deu logo lugar a inúmeras contendas, quer com os de Massarelos, quer com a Coroa e, por fim, entre os Cónegos e o Bispo. Foi D. Dinis, a 7 de Julho de 1280, que por alvará régio, terminou com a situação, concedendo ao Dom Prior de Cedofeita o privilégio do seu couto «sobre se não embargar pelos oficiais del-Rei tirar-se o sal das marinhas de Maçarellos».
Às vezes confundiam-se ou enganavam-se acerca do nome. Se calhar era fruto de os nossos primeiros reis até nem sabiam ler ou escrever. Mas o caso é de uma carta de D. Afonso IV, datada de Lisboa, 3 de Julho de 1325 (e publicada no Corpus Codicum Latinorum - 1.º volume), onde se diz: «couto de Cedofeyta ha uma aldeia que chamem Maçorellos(sic) e que os homens que moram na dita aldeia viveram sempre por pescaria e dos saveis e lampreias que pescam.» Bons tempos senhor D. Afonso, esse do rio com sáveis e lampreias...
Ainda antes de D. Afonso Henriques conquistar Lisboa aos mouros, já os homens do Burgo, os de Massarelos e os de Miragaia iam às feiras de S. Demétrio, na Tes¬salónica, ou à da Macedónia, ao fundo do golfo da Termaica. Foi lá que conheceram os produ¬tos do Oriente, que vinham de Constantinopla ou do Mar Negro. E, por certo, foi lá que os cristãos arménios os conheceram e deles se lembraram quando, fugindo aos turcos, em 1453, vieram até às nossas terras com as relí¬quias de S. Pantaleão, martirizado em 1305, em Nicodémia, e que haveria de ficar como patrono do Porto. E que viagem, e que con¬fiança... Passar por tantos reinos cristãos, para se virem acolher entre os amigos das águas do Douro... Pelos vistos já nessa altura se sabia, e lá nos confins do Mediterrâneo, que amigo do Porto é amigo de porta sempre franca e para sempre...


Iluminura do séc. XIII (Biblioteca Marciana, de Veneza).


Claro que para chegar às ilhas da Hélade tocavam os de Massarelos, e os outros das mar¬gens do Douro, em portos de escala catalães e maiorquinos e trocavam impressões sobre car¬gas e fretes e a maneira de se construírem barcos ou navegar no Mar Interior. E admi¬ravam as velas dos cáravos e os conhecimentos que só sarracenos tinham de orientação pelas estrelas e como falavam das viagens para o sul, para as medonhas zonas onde o mar fervia e a terra se acabava e cada qual ia acrescentando um ponto (ou mais ...) ao que tinha feito ou que sabia que o vizinho sabia que outros diziam ter efec¬tuado... ou vislumbrado...
E que contactos se estabeleciam com as gentes que adoravam a Alá... Anda¬vam os grandes senhores, com os reis à frente, à pancada com os muçulmanos, quando afinal eram homens como nós, sempre prontos a negociar e a trocar mercadorias. E as morabitinas almo¬rávidas e depois as dobras e os mas¬mudi almóadas eram de bom e leal oiro. Corriam melhor, e em qualquer feira, na Europa, que as moedas que os cris¬tãos cunhavam, a tentar imitá-los. E sem¬pre prontos a conseguir grandes cargas de açúcar para os de cá levarem para o Norte. Pena foi que, em 1194, tivesse naufragado um barco, nas costas da Flandres, com grande carga de açúcar muçulmano, algum até carregado no porto de Bugia.
No Mediterrâneo Oriental compravam tecidos e algumas especiarias caras e ouviam falar das Índias e das caravanas cameleiras, de monções e de riquezas que os genoveses e milaneses comemoravam e comercializavam nas feiras do Norte. Aliás os prazentins, os genoveses, os lombardos, os galos, os catalães, os corsins e outros também vinham até ao Douro e no século XIV haviam de se fundar verdadeiras colónias, entre nós. Os de cá também tinham contactos com os agentes dos ricos Bardi e também eles se havia de, em 1338, vir estabelecer em Lisboa.



Iluminura das «Cantigas de Santa Maria», de Afonso X, o Sábio (Mosteiro de S. Lourenço do Escoria).


Nas feiras do Norte, em Lille, em Gand ou em Bruges, também conviviam com os naturais dessas terras ou com outros mercadores. E grande foi a chacota que os nossos fizeram quando os outros pasmaram de ver a loira D. Teresa (depois cha¬mada Matilde), filha do nosso primeiro Rei, casar em 1194 com o Conde da Flandres. Aliás quase trinta anos depois, mais precisamente em 1211, D. Fernando, sobrinho de D. Teresa, viria a casar com D. Joana, condessa da Flandres, filha do conde Balduíno;
Em 1197 já os portugueses tinham ali criado uma feitoria que iria servir de ponto de apoio para outros contactos mais a Norte e, de certo modo, consolidar as invasões comerciais em terras de francos, à semelhança do que eles faziam no Porto. Já desde 1179 que os barcos franceses pagavam dízimo ao nosso primeiro Rei, quando entravam na Foz do Douro.
Em 1226 instalaram-se os de cá em La Rochelle e daqui há que percorrer toda a costa norte da França. Em 1242 vão até Baiona, nas águas do Adur, e Bordéus, na foz do Garona. Em 1253 os portugueses estão nos principais centros de língua franca - Abeville, Saint-Ouen, Chartres, Arras, Caen, Bruges, Ipres, Gand, Tournai, Ulle, os portos da Normandia ou da Bretanha - e a impor¬tação é tal que D. Afonso III, ele próprio casado em 1238 com D. Matilde de Bolonha, se vê obrigado a pôr, como rei, o assunto nas Cortes de Leiria, em 1254.



Pesca nocturna com candeia - Ilurninura do séc. XI (grega) [Biblioteca Nacional de Paris].


Quando Filipe, o Belo, proíbe os flamen¬gos de entrar nas feiras de Champagne e de Beaucaire, são os portugueses que beneficiam ocupando esses lugares, e, em 1290, instalam¬-se em força no porto de Harfleur, no estuário do Sena.
A sua forte presença é tal que são especial¬mente mencionados no tratado comercial fran¬cês, de 1309. Filipe, o Belo, em 1310, renova os privilégios aos «mercatoribus portus por¬tugalie», entre os quais «mercatoribus» havia gente de Massarelos e vizinhos.
Em 1315, em Ruão, os mercadores do Porto virão mesmo a manter correctores próprios para toda a Normandia. E, em 1341, é que é o bom e o bonito. O rei de França, Filipe VI, vai ao ponto de assinar um verdadeiro tratado comercial com os «marchands et gens de la cité du port de portingal», tratado esse que os seus sucessores, durante o século XV, irão ratificar, chegando mesmo a acrescentar maiores facilidades para que os do Porto não vão comerciar mais a Norte.


IIuminura do «Apocalipse», de Lorvão.


Mas, e apesar da decidida oposição dos francos e belgas, as gentes de «Massare¬los» seguiam a moda e iam percorrer os circuitos comerciais do Mar do Norte. Já em 1384 chegam, a Mildeburgo, umas vezes por conta própria, outras por conta de genoveses e afins. Em 1371 chegam a vários portos ingleses e em 1386 levam panos valencianos até Londres e vão buscar peles às Ilhas Sandwich para as levar para a Zelândia.
Bem, isto é o que era oficialmente declarado, mas os senhores reis não sabiam (ou se calhar até sabiam e até lhes convinha...) que eles já tinham ido a todos esses luga¬res e a outros lá do Norte, muito antes destas datas.
Charles Verlinden, esse extraordinário historiador de língua francesa, em 1949, escreverá na Revista Portuguesa de História, em Coimbra: «Mildeburgo se irá trans¬formar no centro de irradiação dos mercados da Zelândia, sobretudo durante toda a primeira metade do século XV.» Já antes lá tinham estado e foram dos que ajudaram a este desenvolvimento e a chegar até Arnemuiden e a Lubeck. Foi por isso que os de lá vieram ao Douro e ao Tejo, e também os de Dantzig, com quem também, aliás, já comercializávamos. Mas verdade, verdade, é que antes de aparecerem estas coisas em documentos, já os seus avós se tinham habituado a andar com os seus barquitos entre os «camones», como eles diziam. Logo no século XII por lá andavam a pescar e a comerciar - e aquele raio dos «camones» como gostavam do vinhinho que eles levavam nos seus pipitos para com¬bater o frio e a sede - e de tal maneira o faziam que o Rei João Sem Terra, em 1203, ver-se-á obrigado a permitir a livre circulação e até a fixação de mercadores portugue¬ses em terras de Albion, sob sua directa protecção. Em 1220 renova o privilégio, em especial para Londres. Bartolomeu de
Portugal e outros três portugueses vão¬-se aproveitar disso e fixam casa comer¬cial em Londres, até 1226. Aliás seráneste ano que o rei inglês irá passar mais de cem salvo-condutos a merca¬dores portugueses.



Retábulo de S. Nicolau de Bari, pintado em 1406, por Jaume Cabrena (Museu Histórico, Manresa).


Tudo leva a crer que, em 1283, havia já correctores próprios da gente portu¬guesa em Londres. Em 1294, D. Dinis procurará estabelecer um tratado comer¬cial entre Portugal e a Inglaterra a nível real, a tentar sanar as contendas que se iam levantando, por força das intrigas dos comerciantes franceses.
Eduardo I, de Inglaterra, procura, por seu lado, por cobro aos mesmos problemas,
pela «Carta Mercatória», de 1303. Em 1352 os mercadores portuenses Domingos Clérigo, João Rodrigues e Salvador Ferreira conseguem obter para si e para outros portugueses, na linha do que já tinham conseguido de Filipe, o Belo, em 1310, e de Filipe IV, em 1341, grandes facilidades (o primeiro a chamar-lhes «dilectis nostris mercatoribus Portus Portugaliae» e o segundo a incluí-los nos «marchans et genz des dit royaumes de Portugal et de Algarve»). E, em 1353, Eduardo II, de Inglaterra vai mesmo efectuar um tratado entre «gens, marchands, marineres et comunaultés de la marisme des cités et villes de Ulixbon et du Porto de Portugal». Bem as gentes cá do burgo tinham sido representadas, neste tratado, pelo mercador portuense Afonso Martins Alho, que hoje justa¬mente se homenageia em nome de rua no centro da cidade. Mas é bom tomar nota disto: não é com o Rei de Portugal que o Rei de Inglaterra quer estabelecer o tratado mas com os mercadores das cidades de Lisboa e Porto...



Relevo da época galo-romana.


E, para terminar de citar, e não porque não haja muito mais de onde o fazer, lembremos o Duque Alberto, da Baviera, também em 1390, ao incluir as nossas gentes entre os «marchands, maitres de navires et sujects portugais».
Claro que, por vezes, os de Massarelos exorbitavam e até contrabando de sal¬ - é verdade, de sal! - Iam fazendo para Harfleurs e outros portos franceses. Mas o risco era muito e, quantas vezes, se perdiam haveres e vidas em naufrágios ou apresados por piratas. Foi por isso que, em Maio de 1293, nasceu a nossa «Confraria das Almas e do Corpo Santo», mas isso são contas para outra parte deste rosário.
Atravessando o período medieval, a vida vai prosseguir remançosa por estes lados essas tratemos quando falarmos da «Confraria». No registo de Abril de 1758, a paró¬quia de Nossa Senhora da Boa Viagem, já considerada como freguesia do termo do Porto, era ainda e só constituída por 219 vizinhos, ou seja duzentos e deza¬nove agregados familiares - ou fogos como se dizia então (e ainda hoje)¬com uma população de 550 indivíduos de ambos os sexos presentes, 160 ausen¬tes, todos de maioridade e 90 de menori¬dade presentes também, o que dava um total de 800 pessoas. Bem os ausentes deviam ser os que andavam embarcados ou a comerciar lá fora, já que ainda não tínhamos sido atingidos pela necessidade de emigrar para sobreviver.



Cidade flamenga, da segunda metade do séc. XV, segundo uma iluminura de Jean le Tavemier, nas «Chroniques et Conquetes de Charlemagne» (Biblioteca Real de Bru¬xelas Como diz Pinho Leal no 7.2 volume do seu «Portugal Antigo e Moderno», em 1856, em pouco mais de um século a população aumentou 200 %. E Massa¬relos (ainda como paróquia de Nossa Senhora da Boa Viagem) é, juntamente com Cedofeita, anexada ao Porto em 1789 e, claro, não podia ficar isenta ao aumento verificado.


E as casas da Rua do Corpo Santo, do Cristelo, do Adro, da Calçada-sobre-o¬-Douro e da Viela da Praia (as que existiam junto ao rio) foram-se ligando às que existiam no Casal do Pedro, na Rua da Fonte de Massarelos, na Maceirinha (era assim que nesse tempo se escrevia), às da Rua da Flora, do Outeiro, dos Moinhos, das Escadas do Roleto, do Campo do Rou, da Viela das Pedras, e começam a subir as encostas pelas Azenhas de Vilar, pelo Gólgota, pela Pena, por Entre-Quintas, pela Rua da Boa-Viagem (hoje chama-se Capitão Eduardo Romero), pela Viela do Monte, pelo Picoto, do Zé da Mestra, da Galinha (hoje Trav. da Boa Viagem) e surgem já as casas dos planaltos que bordejam a antiga Massarelos.



Ponnenor da «Alegoria do Bom Governo», fresco de Ambrósio Lorenzeui, no Palácio Público de Sena.


Que já pertenciam ao Porto verifica-se, por exemplo, pelo «Livro de Maneio» onde se lê «Lançamento da décima que hão-de pagar os moradores da freguesia de Nossa Senhora da Boa Viagem de Massarelos, pelos maneios e agências neste ano de 1783»:
Mas outra gente ia desco¬brindo a nossa gente. E os senho¬res ingleses - e alguns portugue¬ses de posses e não menos bom gosto - começam a encontrar lugar em Massarelos para instalar as suas quintas e casas, normal¬mente muradas e em locais pri¬vilegiados, de bons ares, boas águas, boas sombras e magníficas vistas, sobre o rio e o mar.
O Padre Agostinho Rebelo da Costa, na sua «Descrição Topo¬gráfica e Histórica da Cidade do Porto», e ao referir-se às quintas e vivendas de Massarelos, escreveu, em 1788 que «Raríssima haverá da qual não goze vista do rio e do mar, raríssima a que não tenha dentro dos seus muros copados bosques de frondosos castanheiros, carvalhos e outras árvores pomposas. As casas de campo são, pela maior parte, rodeadas de espessos arbustos que trepando até ao cume dos telhados, representam aos olhos agradáveis labirintos semeados de jasmins, martírios e de muitas outras flores, cuja variedade e cheiro suavíssimo é o encanto dos sentidos».
Bem, mas às quintas nos referiremos no seu lugar próprio.
As invasões francesas e as lutas liberais interrompem estes momentos de paragem, porque os de Massarelos não são gente para se ficar a ver no que paravam as modas. E, a exemplo do que tinha acontecido com D. João I, com os Filipes, voltam a estar do lado da liberdade e vão, como sempre, defendê-la com teres e haveres. E se estes são poucos, a preciosa vida é não menos pouca para em luta constante manter de pé o seu direito a serem portuenses livres e verticais.



Baixo-relevo de uma casa da Rua do Bicalho.

Guerras acabadas nova vida surge e, entre ingleses, alemães, barões e quejandos, vai surgir a indústria nesta zona e, com ela, os bairros operários que a tal estão inerentes em toda a cidade. A mão¬-de-obra barata tinha de viver ao lado dos locais de trabalho, que os orde¬nados não davam para grandes trans¬portes e as famigeradas ilhas por¬tuenses começam a surgir em força no Campo Pequeno, na Materni-dade, em Miguel Bombarda, em Vilar, no Campo do Rou, em Entre¬-Quintas, na Rua da Piedade, no Cru¬zinho, no Campo Alegre... e, vergo-nha das vergonhas, algumas ainda existem...



Baixo-relevo do Museu do Vaticano.


Massarelos já era freguesia do Porto, por Decreto de 4 de Dezembro de 1832, assinado por Rodrigues da Fonseca, e Ricardo Jorge no seu «Demografia e Higiene da Cidade do Porto», de 1899, considera-a uma das oito freguesias da cidade que se devem considerar urbanas, juntamente com a Sé, S. Nicolau, Vitória, Santo Ilde¬fonso, Miragaia, Bonfim e Cedofeita. Foz, Lordelo do Ouro, Paranhos e Campanhã, ainda são consideradas, em grande parte, do tipo rural. E, só em 1895, é que serão anexadas as três que vieram completarem o actual ramalhete das freguesias do Porto: Nevogilde, Ramalde e Aldoar.
E vamos parar aqui este bosquejo da história de Massarelos porque os vários capí¬tulos desta obra serão outros tantos bocados da nossa história (o mesmo é dizer da nossa vida) e que virão completar estes bocadinhos. Como é lógico há muito de nós misturado com o da nossa vizinha Miragaia e até com a cidade muralhada - e não só - mas isso era inevitá¬vel. Não somos, nem nunca o fomos, uma zona estanque sem contactos com O exterior, bem pelo contrário. Nem o Porto, e qualquer que seja das suas freguesias, teve uma vida tão autónoma que se possa dissociar da vida colec¬tiva desta Mui Nobre, Leal e Sempre Invicta Cidade do Porto.



Livro de Horas de D. Manuel (Fevereiro).


Estamos a tratar da freguesia de Massarelos e da sua monografia, mas não nos podemos separar - nem o queremos nunca fazer - e deixar de reivindicar o nosso naco de portuen¬ses que o somos e com muito orgulho.

 

Fotografia de Teófilo Rego.


publicado por MJFSANTOS às 00:00
link do post | comentar | favorito

.mais sobre mim


. ver perfil

. seguir perfil

. 11 seguidores

.pesquisar

 

.Abril 2009

Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab

1
2
3
4

5
6
7
8
9
10
11

12
13
14
15
16
17
18

19
20
21
22
23
24
25

26
28
29
30


.posts recentes

. Conjunto de Edificios na ...

. Jardins da Cidade do Port...

. Pousada de São Gonçalo em...

. Jardim da Cordoaria

. Pensamentos

. Porto - Zona Histórica

. Jardim Botânico - Porto

. Rio Douro

. Alfândega Nova - Museu de...

. Esação de S. Bento - Port...

. Muralhas Fernandinas - Po...

. Coliseu do Porto

. Livraria Lello & Irmão

. Pontes Sobre o Douro - Po...

. Santo Ildefonso - Porto

. Ramalde - Porto

. Paranhos - Porto

. Jardins do Palácio de Crs...

. Miragaia - Porto

. Massarelos - Porto

. Percurso do Vinho do Port...

. Porto Urbano

. ÁFRICA

. O tempo...

. Bonfim - Porto

. Aldoar - Porto

. Zona histórica do Porto

. Amigos para Sempre

.posts recentes

. Conjunto de Edificios na ...

. Jardins da Cidade do Port...

. Pousada de São Gonçalo em...

. Jardim da Cordoaria

. Pensamentos

. Porto - Zona Histórica

. Jardim Botânico - Porto

. Rio Douro

. Alfândega Nova - Museu de...

. Esação de S. Bento - Port...

. Muralhas Fernandinas - Po...

. Coliseu do Porto

. Livraria Lello & Irmão

. Pontes Sobre o Douro - Po...

. Santo Ildefonso - Porto

. Ramalde - Porto

. Paranhos - Porto

. Jardins do Palácio de Crs...

. Miragaia - Porto

. Massarelos - Porto

. Percurso do Vinho do Port...

. Porto Urbano

. ÁFRICA

. O tempo...

. Bonfim - Porto

. Aldoar - Porto

. Zona histórica do Porto

. Amigos para Sempre

.tags

. arquitectura

. biografia

. capela

. casa

. cultura

. desporto

. dias comemorativos

. edificios

. estatuas

. fc porto

. fotos

. freguesias

. futebol

. história

. historia

. humor

. igreja

. igrejas

. imagens

. matosinhos

. matriz

. monumentos

. mpp

. musica

. noticias

. noticias e opiniões

. património

. penafiel

. poemas

. porto

. portugal

. póvoa do varzim

. quinta

. românica

. ruas

. slides

. video

. videos

. vila do conde

. vilanovadegaia

. todas as tags

.tags

. arquitectura

. biografia

. capela

. casa

. cultura

. desporto

. dias comemorativos

. edificios

. estatuas

. fc porto

. fotos

. freguesias

. futebol

. história

. historia

. humor

. igreja

. igrejas

. imagens

. matosinhos

. matriz

. monumentos

. mpp

. musica

. noticias

. noticias e opiniões

. património

. penafiel

. poemas

. porto

. portugal

. póvoa do varzim

. quinta

. românica

. ruas

. slides

. video

. videos

. vila do conde

. vilanovadegaia

. todas as tags

.links

.subscrever feeds

SAPO Blogs
Em destaque no SAPO Blogs
pub