Desconhecem-se as origens exactas desta ponte. Em 1136, a povoação dos Arcos já existia e o topónimo não pode ser dissociado de uma primitiva estrutura de passagem que aqui existiu, cuja relevância regional, monumentalidade e, muito provavelmente, antiguidade, conferiu à localidade o seu próprio nome, confundindo-se ambas as realidades. Tal facto assegura que, logo nos inícios do século XII a ponte já existia, mas não conseguimos identificar a época precisa da sua primeira configuração, sendo certo que pode ter pertencido ao período romano, embora nenhum elemento material o sugira.
Na Baixa Idade Média, a estrutura integrou o principal caminho do entre-Douro-e-Minho que ligava o Porto à Galiza. "Por ter menos uma légua que a estrada por Braga com o mesmo destino, este parece ter sido, segundo alguns indicadores históricos, o caminho mais seguido para Compostela", sintomaticamente designado por karraria antiqua ou via veteris. Assim, o caminho até agora identificado ligava a cidade da foz do Douro à ponte sobre o rio Ave e ao Mosteiro da Junqueira. A partir daqui, precisamente pela ponte dos Arcos, o itinerário dirigia-se para Rates, local de um dos mais importantes cenóbios nacionais dos séculos XII e XIII e ponto central na densa malha de caminhos da região, seguindo depois para Barcelos. A vantagem desta estrada não era só sobre a de Braga, mas também em relação a um outro eixo viário ainda incipiente nesta altura (mas de grande sucesso nas épocas moderna e contemporânea), que privilegiava as zonas do litoral. Este caminho, conhecido como da "Beira-Mar", tinha várias desvantagens, entre as quais o clima mais ventoso, as dificuldades inerentes à passagem sobre as fozes dos rios e a inexistência de verdadeiros centros urbanos, como Braga, Guimarães ou Barcelos.
Provada a centralidade de São Miguel dos Arcos no contexto regional em que se insere, importa deixar claro que a estrutura que hoje observamos dificilmente corresponderá à referida em 1136. Muito menos parece ter tido a sua origem em 1144, segundo uma inscrição recente, gravada em silhar das guardas da estrutura, informação eventualmente lendária e transposta para a pedra "por ocasião de alguma reparação executada na ponte". As suas características construtivas são se afastam do período românico, mas é provável que date já do século XIII, centúria de grande actividade construtiva na área da pontística.
Tipologicamente, estamos perante uma estrutura harmónica e simétrica, com um arco maior central ladeado por outros dois, de menores dimensões e idêntico perfil entre si. Os vãos são volta perfeita, compostos por aduelas compridas e estreitas, de extradorso ligeiramente irregular e o arco médio apresenta algumas fissuras entre as aduelas e o núcleo de enchimento. Como sistemas de reforço estrutural existem dois talhamares triangulares a montante, a ladear o arco central, e outros dois a jusante, de secção rectangular. O enchimento é feito com silhares relativamente bem aparelhados, dispostos horizontalmente, apresentando algumas fiadas alguns sinais de desagregação. O tabuleiro é em cavalete de dupla rampa, com acentuado pronunciamento proporcionado pela composição harmónica dos vãos, e é protegido lateralmente por guardas em granito.
Em anos recentes, a parte superior da ponte foi alvo de melhoramentos, contando-se o revestimento do pavimento e o prolongamento das guardas com estruturas metálicas e grelha de arame. Antes disso, em 1908, erigiu-se, num dos acessos ao pavimento, um padrão comemorativo dos Viscondes de Faria Machado e um conjunto de alminhas. Classificada desde 1982, tem-se assistido, nos últimos anos, a um progressivo desgaste estrutural, a que a passagem de trânsito rodoviário de ligeiros não é alheio. Para além disso, as margens necessitam de melhor regularização de caudais e a própria ponte é ameaçada por arbustos, cujas raizes penetram fundo na estrutura.
Foto: Paulo Almeida Fernandes (2006) - IPPAR
A pequena igreja de Rio Mau tem sido uma das mais debatidas obras românicas do nosso país, pela qualidade e importância das realizações escultóricas que congrega. Quer o complexo programa iconográfico dos capitéis da cabeceira, quer as representações dos tímpanos dos três portais são manifestações maiores da nossa arte do século XII e princípios de XIII e a sua análise tem conferido ao monumento um estatuto singular no panorama da arte românica em Portugal.
O mosteiro já existia em 1103, estando dedicado a São Cristóvão, pelo que é de admitir que a sua fundação se tenha verificado nas derradeiras décadas do século XI, altura em que a liturgia romano-cluniacense entrou no antigo reino de Leão, substituindo as anteriores determinações hispânicas, com a consequente renovação de oragos e de cultos.
Os vestígios materiais mais antigos, todavia, não são de época tão recuada e estão catalogados a partir de 1151, ano em que o sacerdote Pedro Dias terá patrocinado a obra românica, de acordo com uma inscrição comemorativa do arranque dos trabalhos, localizada "no ângulo sudeste do interior da ábside". Desta primeira época data a cabeceira, verdadeira obra maior do nosso românico, apesar de, em termos volumétricos e planimétricos, não se afastar de muitas outras edificações modestas contemporâneas, de escassa altura, com dois tramos abobadados. Ela "ficou a dever-se a um artista que conhecia perfeitamente a escultura galega", facto que coloca esta obra em plena zona de expansão do românico do Alto Minho, constituindo, mesmo, o melhor exemplo desse vocabulário regional em terras a Sul do rio Lima.
O principal interesse desta parcela do edifício reside nos seus capitéis, que veiculam um programa iconográfico de difícil explicação e ainda longe de totalmente esclarecido. O que mais tem suscitado interesse por parte dos investigadores é o capitel do lado Sul do arco triunfal, decorado nas suas três faces: um jogral na frente voltada à nave; dois homens prendendo uma mulher na principal e uma mulher transportando uma figura com um bastão nas mãos na última. "Vários autores debruçaram-se sobre esta peça mas nenhuma das interpretações defendidas (...) se parece coadunar totalmente com a estrutura iconográfica do capitel". Desde um episódio da Chanson de Roland, à evocação de São Cristóvão, passando pela alusão a um ataque viking ou ao desastre de Badajoz de D. Afonso Henriques, não foi ainda possível chegar a um consenso e, igualmente importante, uma leitura que se insira no conjunto iconográfico mais vasto.
A nave do templo e os seus três portais pertencem já a um momento posterior em relação à cabeceira. Carlos Alberto Ferreira de Almeida situou a conclusão dos trabalhos já no século XIII, pelas características do portal Sul e aqui assinala-se uma alteração da orientação da empreitada, com a introdução de temas vincadamente beneditinos. No tímpano do portal Norte existe a "única cena de luta representada num tímpano" românico português, um grifo e um dragão, numa provável alusão a Cristo contra Satanás. Mais importante é o tímpano do portal principal, onde se retratou um bispo (com báculo e a mão direita erguida, como que abençoando) ladeado por dois diáconos e pelos símbolos do Sol e da Lua, possível representação de Santo Agostinho, autor da Regra dos Cónegos Regrantes, a quem pertencia a obra.
Em 1443, o mosteiro foi extinto e anexo ao de São Simão da Junqueira. Com escassas obras ao longo da época moderna, e perdidas as dependências monásticas, só nos finais da década de 60 do século XX se procedeu ao seu restauro. O coro-alto, presumivelmente barroco, foi demolido em 1980, adquirindo o templo, então, o aspecto que mantém até hoje.
Constituída como paróquia em 1457, a povoação de Azurara existia já desde o reinado de D. Afonso III, integrando então a freguesia de Pindelo. Depois da desanexação da paróquia de São Salvador de Canidelo, a Capela de Nossa Senhora da Apresentação passou a acolher as cerimónias religiosas da nova freguesia.
No entanto este templo cedo se mostrou insuficiente para albergar toda a população local, pelo que em 1502 o povo de Azurara, aproveitando a passagem de D. Manuel por aquelas terras quando este se dirigia a Compostela, pediu ao rei permissão para edificar uma nova igreja paroquial.
A construção da nova matriz, dedicada a Santa Maria a Nova, ter-se-á iniciado nesse mesmo ano, tendo sido provavelmente terminada em 1522, data de conclusão do espaço da capela-mor. O edifício resultante assemelha-se muito à matriz de Vila do Conde, edificada na mesma época, embora esta apresente uma estrutura mais imponente.
O conjunto evidencia-se por algum ecletismo, derivado certamente da longa campanha de obras de que resultou a sua edificação. A estrutura manuelina, de grande sobriedade, é decorada com um portal principal decorado com motivos de grotesco , cujo conjunto é rematado por um nicho com a imagem de Nossa Senhora da Apresentação, vinda da primitiva capela de Azurara com a mesma designação. Este conjunto de linguagem ao romano derivou certamente dos modelos traçados na Matriz de Caminha, e que a partir das primeiras décadas do século XVI se alastraram a todo o Noroeste português.
Do lado esquerdo da fachada foi construída no final do século XVII a torre sineira, com balcão no segundo registo e oito aberturas sineiras no topo, cujo modelo é decalcado da torre da matriz de Vila do Conde, edificada pelo mestre João Lopes o Moço durante a década de 80 do século XVI. A estrutura exterior das naves é rematada superiormente por uma linha de ameias, e a cabeceira encontra-se flanqueada por quatro contrafortes.
O interior é composto por três naves de cinco tramos marcados por arcos de volta perfeita assentes em pilares lavrados com motivos vegetalistas. A capela-mor, de planta quadrada, é coberta por uma abóbada de nervuras de gosto manuelino, concluída em 1522 pelo mestre Gonçalo Lopes, conforme nos indica a inscrição feita junto à mesma.
No programa decorativo interior destacam-se ainda o revestimento azulejar da cabeceira, datado do século XVIII e proveniente da oficina de António Rifarto (Idem, ibidem) e as pinturas retabulares. Os altares das naves laterais apresentam pinturas quinhentistas, salientando-se os painéis maneiristas do retábulo de Nossa Senhora do Rosário, pintados cerca de 1574 por Francisco Correia. O actual retábulo da capela-mor foi executado em 1720 pelo entalhador Francisco Machado.
Localizada na antiga estrada medieval que ligava o Porto a Guimarães, a pequena ponte de São Lázaro tem sido tradicionalmente atribuída à época romana, hipótese que, recentemente, por ocasião do restauro da estrutura, veio a ser encarada como muito provável, na medida em que se identificou um silhar almofado, com "recorte romano" e "marca dos ferrei forfex". Paralelamente, o perfil redondo do arco central, apesar de bastante modificado, é outro indicador acerca da sua maior antiguidade.
Apesar desse cada vez mais provável passado romano, a ponte que chegou até aos nossos dias data da Baixa Idade Média, cronologia que é confirmada pelas suas características estruturais e pela parca documentação que a ela se refere. Pelas Inquirições de 1258 sabemos que, associada à ponte, existia uma gafaria de leprosos, solução que tem eco em outras estruturas de passagem da Idade Média portuguesa, em particular em meios rurais. Esta informação atesta a existência da ponte em meados do século XIII, assim como confirma a sua importância no contexto regional, a ponto de aqui se ter implantado uma instituição de assistência. Essa gafaria, a seu tempo, transformou-se em Hospital, sendo referido em 1747, altura em que lhe estava anexa uma capela e algumas casas nas imediações. Pela longa duração desta gafaria, facilmente nos apercebemos da sua relação com a ponte, evocando-se, assim, "um rosário de tragédias e repulsas" tão característico da marginalidade social a que muitos indivíduos foram sujeitos ao longo da História.
A ponte propriamente dita compõe-se de dois arcos desiguais, um mais amplo e central, lançado sobre o leito do rio Leça, e outro menor, do lado da margem esquerda, destinado a melhor escoar a água em épocas de forte correnteza. Ambos são construídos com aduelas compridas e estreitas (características da Baixa Idade Média), apesar de formarem uma volta perfeita; o seu intradorso é extremamente regular, constituído por silhares bem aparelhados e dispostos horizontalmente.
O mesmo não podemos dizer a respeito do aparelho de enchimento, que é revelador das sucessivas fases de consolidação da estrutura. Recorrendo a fiadas horizontais de blocos genericamente rectangulares, ele apresenta numerosos cotovelos e cortes verticais, caracterizando-se por uma composição pseudo-isódoma que contraria a regularidade plena das estruturas romanas e, até, das baixo-medievais. O facto de algumas pedras apresentarem siglas de canteiro confirma a cronologia pelo século XIII, mas muitas outras existem que não possuem qualquer marca, o que indica ter o monumento sido alvo de reconstruções na Idade Moderna.
O tabuleiro é o principal elemento de cronologia medieval. Disposto em cavalete de dupla rampa e lajeado com grandes blocos, tem uma largura máxima de c.3,2m, ideal para a passagem de carros de tracção animal que deixaram a sua marca em duas linhas de sulco no pavimento. Originalmente, a passagem era protegida por "guardas em granito de remate boleado", de que se encontraram algumas durante o restauro.
Em 1995, a Câmara de Valongo procedeu a obras de consolidação da estrutura, substituindo-se, então, o lajeado do pavimento, reconstituindo-se as guardas em granito e impermeabilizando-se o tabuleiro, através de uma solução não visível do exterior. No ano seguinte, a autarquia promoveu um arranjo parcial das margens, com regularização do curso do rio e definição de uma zona de lazer.
À saída da ponte, a capela de São Lázaro recorda o passado assistencial do local. A sua configuração actual data da época moderna, mas conserva os dois elementos espaciais essenciais de um templo com estas características: o santuário propriamente dito (composto por nave única e sem capela-mor individualizada volumetricamente) e um alpendre suportado por pilares e protegido por muro a todo a volta.
Durante décadas, a historiografia consagrou ao mosteiro de Roriz um estatuto de obra unitária e de arranque do foco românico que nasceu em torno da bacia do Rio Sousa pelo final do século XII e primeiras décadas da centúria seguinte. O estudo monográfico que Manuel Luís REAL, 1982 lhe consagrou (em parceria com Pedro Sá), revelou um edifício inteiramente diferente, com cinco fases construtivas e um estatuto bem mais diluído na mancha de edifícios românicos no Douro Litoral.
Desconhecem-se as origens do monumento e discute-se, sobretudo, a possibilidade de aqui ter-se implantado um primeiro edifício ainda durante o século IX. A opinião mais consensual coloca o impulso construtivo inicial na segunda metade do século XI, por intermédio de D. Elvira Touriz, ainda viva em 1141. Por outro lado, a primeira referência documental ao mosteiro data de 1096, dado que viabiliza aquela hipótese. Dessa primeira fase de vida do conjunto pouco resta, à excepção de algumas peças descontextualizadas, incorporadas nas paredes em reformas posteriores (um fragmento de capitel, uma imposta e duas bases).
Quase um século depois, e ainda que não exista evidente prova documental, o mosteiro foi entregue aos crúzios de Santa Cruz de Coimbra, que terão iniciado um novo capítulo na vida do conjunto, reedificando-o desde as fundações. A obra iniciou-se pela ábside, construída num só momento, datando dessa fase um vocabulário escultórico vegetalista e geométrico muito unitário e qualitativamente relevante, como se comprova pelo requinte dado às janelas do exterior, ou pelos ângulos nítidos e de bom recorte da folhagem que cobre os capitéis do interior.
A empreitada sofreu um primeiro revés quando se laborava na nave, altura em que terá caído a abóbada da ábside. Deu-se então início à segunda fase construtiva, que se supõe ter ocorrido algum tempo depois de interrompida a anterior, uma vez que os artistas agora incorporados são substancialmente diferentes. Entre os canteiros que assinam os silhares, com siglas, aparece um "IO", identificado como Ioannis, possível mestre de todo o estaleiro, pelo facto de a sua sigla ser das poucas alfabetiformes. A ele se ficou a dever a reconstrução da abóbada da ábside (para o que teve de rectificar o prumo das paredes do interior, recorrendo a dispositivos mais efectivos de contrafortagem) e o lançamento da nave, em cujo portal meridional se assiste à introdução de um motivo decorativo muito frequente no românico bracarense - o enxaquetado.
Só no 1º quartel do século XIII, e já durante a terceira fase de obras, se concluiu o prolongamento ocidental do templo, mas não o seu abobadamento. Nesta altura, as desconfianças em relação à estabilidade da capela-mor motivaram a construção de edifícios anexos como meio de contrafortagem (primeiro a Sala do Capítulo, a Sul, e depois a pequena capela do lado Norte). Esta capela, originalmente dedicada a Santa Maria, está datada por uma epígrafe de 1258, correspondente já à quarta fase de obras, e, junto ao campanário, é ainda possível identificar a assinatura do mestre responsável: MR TL - Magister Telo. O derradeiro impulso na obra ocorreu já nos finais do século XIII, quando novos canteiros, formados na oficina de Paço de Sousa, terminaram o abobadamento do corpo e o sector ocidental. Na fachada principal, a rosácea e os colunelos do portal são a mais inequívoca marca dessa filiação oficinal, mas também a escultura figurativa, introduzida em Roriz apenas nesta fase. Quadrúpedes de duplo corpo ligados pelo focinho no ângulo do capitel ou o busto que espreita de um pequeno óculo (um tema que alude ao castigo), entre outros exemplos figurativos, provam como Paço de Sousa foi o principal estaleiro da região e como os artistas aí formados se deslocaram para Roriz.
Apesar de bastante transformada pelas obras seiscentistas e setecentistas, a igreja paroquial de Abragão é um monumento importante para a caracterização do Românico do Douro Litoral "do segundo quartel do século XIII", e para as relações estilísticas entre as muitas construções vizinhas das bacias dos rios Sousa e Tâmega. As suas origens são, todavia, anteriores, recuando à primeira metade do século XII (1145), data em que se menciona já a igreja.
Os elementos mais antigos que hoje se conservam são do século XIII, época em que o primitivo templo foi objecto de grandes obras. Por volta de 1200, e por patrocínio de D. Mafalda, filha de D. Sancho I, ter-se-á reformado integralmente o edifício, campanha que se prolongou até, pelo menos, os meados da centúria.
É precisamente desse meio de século que data a capela-mor, compartimento de planta rectangular organizado em dois tramos, cuja marcação exterior é feita por contrafortes de escadaria que lembram os mais antigos utilizados em São Pedro de Rates, sintoma de um possível ressurgimento de formas originais numa altura de clara decadência do estilo românico. Executada com aparelho de grande qualidade e de gigantescas proporções, a capela é totalmente rodeada, a meia altura, por um friso de "aspecto cordiforme invertido (...) em enrolamento contínuo", "em tudo semelhante ao de Paço de Sousa", e é limitada superiormente por uma cachorrada de modilhões de perfil quadrangular e lisos, à excepção de um que apresenta uma muito desgastada figuração humana.
Interiormente, os dois tramos da capela-mor são cobertos por abóbada de berço quebrado que descarrega, ao centro, sobre colunas parcialmente embebidas. O arco triunfal é já levemente apontado e a decoração concentra-se nos seus capitéis, sendo o do lado Norte composto por quatro aves afrontadas de pescoços entrelaçados, e o do lado Sul por dois bustos humanos que parecem suportar o peso da estrutura do templo, estes últimos muito próximo plasticamente a um capitel do portal Sul da igreja de Santiago de Antas, em Famalicão. Sobre o arco triunfal, abre-se uma pequena rosácea, cujo preenchimento é feito por uma gelosia pétrea em forma de estrela de cinco pontas.
Em 1668, "por padecer ruína", a igreja foi parcialmente reconstruída, substituindo-se a nave românica pela actual. O promotor destas obras foi o abade D. Ambrósio Vaz Goliaz, que se fez sepultar no interior da igreja, junto à fachada principal, em túmulo de granito com jacente, sobrepujado por ampla legenda epigráfica, comemorativa da reforma. O projecto seiscentista dotou o templo de uma nave relativamente ampla, com entrada lateral e capela baptismal quadrangular, ambas a Norte. Grandes janelões rectangulares, abertos nos alçados lateral e principal, iluminam o interior, onde se destacam o coro-alto, de varandim de ferro, e o púlpito, adossado à fachada lateral Sul.
Datam do século XVIII as principais obras de talha dourada do interior, em particular o retábulo-mor, joanino, de estrutura tripartida delimitada por colunas pseudo-salomónicas. Em 1820, construiu-se a torre sineira, de secção quadrangular, que se adossa ao lado Sul da fachada principal e cujo figurino repete o modelo de torre sineira barroca.
Passando ao lado dos grandes restauros medievalizantes dos meados do século XX, a igreja de São Pedro de Abragão conserva os principais elementos da sua história, em particular as marcas das duas épocas distintas que a compõem. No interior do Douro Litoral, e já inserida em núcleos de povoamento mais tardios, a sua capela-mor é bem um testemunho das vias estilísticas decadentes do Românico, mas também das muitas reminiscências que este estilo deixou pela arquitectura religiosa nortenha do século XIII.
Implantada junto à igreja paroquial, a igreja de São Gens de Boelhe é uma construção de época românica que remonta ao século XIII.
De planta longitudinal, desenvolve-se em nave única articulada com capela-mor, mais baixa, através de arco triunfal de volta perfeita.
A fachada principal caracteriza-se pelo portal em arco apontado, de três arquivoltas com quadrifólios, que assentam sobre impostas, e colunas com bases em forma de bolbo e capitéis decorados. Sobre o pórtico, abre-se uma fresta e à direita, sobre a empena, a sineira. Os volumes exteriores, percorridos por cachorrada (de motivos variados), reflectem o espaço interno, com a capela-mor mais baixa de forma a permitir a existência de um óculo de iluminação na parede fundeira da nave, sobre o arco triunfal. Em ambos os alçados laterais
o pano da nave é aberto por portas sobrepujadas por frestas.
No interior, impera a depuração, apenas havendo a assinalar o arco triunfal, com impostas salientes.
A posição dominante do pequeno planalto onde se ergue a igreja ilustra a importância estratégica do local, tutelar sobre este importante sector do curso do rio Douro. Desde a proto-história que o sítio foi, por isso, ocupado, restando troços de muralha de um castro e registando-se o aparecimento de cerâmica romana tardia. Na Alta Idade Média, Eja foi sede do território de Anégia, documentado desde o século IX e activo administrativamente até às vésperas da nacionalidade .
O actual templo românico é posterior a tudo isto e data presumivelmente do século XIII. Nesta altura, já há muito o centro decisório regional havia deixado Eja, o que explica, em parte, a modéstia da construção: templo de nave única e capela-mor quadrangular mais baixa e estreita que o corpo; alçados escassamente fenestrados e destituídos de pormenores decorativos relevantes; fachada principal de escassa volumetria, rasgada por portal de arco apontado a que se sobrepõe pequena fresta; arco triunfal igualmente apontado, decorado sumariamente com motivos geométricos e vegetalistas.
Aparentemente, os séculos da Baixa Idade Média e da Modernidade deixaram escassas marcas no monumento. Só no período barroco se noticia a renovação do altar, com colocação de um retábulo de talha dourada, de estilo nacional, seccionado por três arcos de volta perfeita. As obras de actualização estética continuaram na centúria seguinte, edificando-se o coro-alto e introduzindo-se os retábulos laterais.
No período áureo da intervenção patrimonial no nosso Românico (coincidente com a vigência do Estado Novo), a igreja foi objecto de um orçamento preliminar, mas não se chegou a consumar qualquer restauro. Este só se materializou na década de 80 do século XX, facto que motivou a preservação do património integrado / móvel da época moderna. Novas intervenções de conservação ocorreram na última década e o monumento faz parte integrante da Rota do Românico do Vale do Sousa, uma das escassas rotas turísticas medievais, de carácter temático-regional, do país.
As origens do Mosteiro de São Pedro de Ferreira não estão, ainda, devidamente esclarecidas. Ao que tudo indica, o local possui uma longa história de ocupação, que remontará à época romana, mas, até agora, o conjunto não foi alvo de uma desejada intervenção arqueológica, que permita esclarecer esta e outras dúvidas. De acordo com Manuel Luís Real, que mais e melhor estudou este monumento, Ferreira aparece referida na documentação desde o século X, sendo muito provável que, logo no chamado repovoamento de Afonso III, se tivesse edificado um primeiro estabelecimento.
Os vestígios materiais mais antigos reportam-se aos finais do século XI, ou inícios do seguinte, e possuem outros paralelos no Douro Litoral. Sabemos, assim, que antes do actual edifício, outro existiu, com características estilísticas comuns a diversas igrejas da região, em particular as primeiras fases de Paço de Sousa, Travanca ou Manhente. Desse núcleo fazem parte diversos fragmentos, como restos de frisos em bilhetes, aduelas de entrançados, capitéis, etc., que ajudam a compreender o âmbito artístico desta primeira obra românica.
A actual igreja não foi começada antes dos finais do século XII. Em 1281, o mosteiro passou para a posse dos Beneditinos, que empreenderam, então, a construção que ainda hoje vemos. Apesar da datação relativamente tardia, e das proporções da sua igreja (que temos de considerar modestas), o conjunto constitui um dos nossos mais interessantes monumentos românicos, em especial pelos referentes regionais artísticos que confluíram no seu estaleiro. A marcha das obras terá sido bastante rápida, não se identificando rupturas no processo construtivo, o que poderá indicar uma situação de desafogo económico pouco comum na época.
Tipologicamente, trata-se de um templo de nave única, segmentado em quatro tramos, com capela-mor mais baixa que o corpo, dotada de duplo tramo, sendo o último semicircular. No exterior, manifesta-se, já, algum requinte construtivo, como o recurso a contrafortes nos pontos de apoio dos tirantes do telhado da nave (situação que se justifica pela sua grande altura), a utilização de bandas lombardas a todo o redor ou a disposição do portal principal, em desenvolvido e saliente gablete. No interior, sobressai a solução dada à capela-mor, com dois andares de arcarias, que integram três janelas fenestradas (em posição harmónica) e as restantes cegas, precedendo uma abóbada de cinco faces.
Manuel Real identificou três correntes essenciais para o singular produto aqui conseguido. As duas primeiras são uma constante da nossa arte românica e representam os dois principais focos de influência artística então em voga: Braga e Coimbra. À tradição bracarense deve-se o antigo tímpano (que seria idêntico ao de Unhão), mas também numerosos capitéis (em particular os do portal Sul), as impostas vegetalistas com cabeças humanas nos ângulos, ou os frisos cordiformes da ábside e do portal ocidental. À tradição conimbricense, por outro lado, atribui-se os capitéis exteriores da ábside e as arcaturas geminadas do interior da capela-mor, cujos toros, em alguns casos, diédricos, fazem com que as dominantes do românico coimbrão tenha chegado a Ferreira passando pela Catedral do Porto, onde sabemos terem trabalhado homens formados nos grandes estaleiros da cidade do Mondego.
Mas a Ferreira chegou um terceiro foco de realização: Zamora. As extremas semelhanças do portal principal da nossa igreja para com o Portal del Obispo da catedral zamorana (obra depois repetida em outras obras daquela região espanhola) denunciam a actividade de um mestre formado em Castilla la Mancha, ao mesmo tempo que outros canteiros de formação portuguesa laboravam no conjunto.
Terminada a obra, Ferreira foi também o ponto de partida para outro núcleo estilístico, baptizado de "Românico nacionalizado" por Manuel Monteiro, que caracterizará toda a primeira metade do século XIII no interior da região do Porto.
Fonte: IPPAR - PAF
O território abrangido na actualidade pelo município de Marco de Canaveses possui variados testemunhos da passagem de diferentes comunidades humanas ao longo dos tempos, certamente atraídas pelos excelentes recursos cinegéticos que sempre proporcionou à sua sobrevivência e fixação, como comprovam exemplarmente as escavações realizadas na "Área Arqueológica do Feixo". Disso são exemplo a fertilidade dos seus campos, irrigados por inúmeros recursos hídricos, que acabaria por ditar a principal actividade económica das populações neles residentes, ou seja, a agricultura. E foi a par desta característica, que a localização privilegiada da região lhe permitiu acolher algumas das mais importantes feiras medievais do território português, cuja realização era sobremodo facilitada pelas diferentes vias que atravessavam o seu termo.
Uma particularidade que enraizaria já em pleno período medieval, ao longo do qual se ergueram múltiplos edifícios, com destaque para os solares brasonados.
Mas foi também o caso de outras estruturas construídas antes do início do processo de formação da nacionalidade, assim como durante a sua consolidação, como testemunha a "Ponte do Arco" inscrita no românico da região.
De configuração simples, mas robusta, com tabuleiro de perfil horizontal e lajeado (embora posteriormente coberto por betão), com 30 metros de comprimento por três de largura, assente sobre arco apontado, a ponte ostenta contrafortes imponentes com talha-mar triangular e guardas de cantaria granítica.
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