Foto: Paulo Almeida Fernandes (2006) - IPPAR
Mandado edificar em 1318 por D. Afonso Sanches (filho bastardo de D. Dinis) e sua mulher, D. Teresa de Menezes, o Convento de Santa Clara é um templo fundamental do Gótico português a Norte do Douro, não obstante as numerosas alterações a que foi sujeito ao longo dos séculos. O conjunto monumental domina o centro histórico da vila - edificando-se no local onde se pensa ter existido o castelo dos Condes de Cantanhede, senhores do burgo, com a igreja a ser secundarizada pelo majestoso corpo sul neoclássico, construído em 1777 pelo arquitecto Henrique Ventura Lobo, um dos mais importantes nomes do chamado ciclo neoclássico portuense.
Logo em 1319 os fundadores doaram o espaço às clarissas, tendo sido este braço feminino dos franciscanos o responsável pela construção do complexo, um processo que conferiu à igreja a configuração que ainda mantém e que significou um exemplo pioneiro de implantação mendicante na região, a par das conturbadas histórias de S. Francisco do Porto e de S. Domingos de Guimarães. A austeridade e monumentalidade exteriores lembram, em parte, os primeiros exemplos de arquitectura mendicante clarissa do país, especialmente a fachada ocidental, onde o único elemento é a rosácea radiante, inscrita num enorme muro compacto, delimitado por dois contrafortes. A organização interna, no entanto, difere substancialmente. Enquanto que, por exemplo, no Convento de Santa Clara de Santarém a construção clarissa marca o triunfo do discurso mendicante numa cidade fortemente urbanizada, explicando-se por isso o longuíssimo corpo de três naves, a de Vila do Conde apresenta somente uma nave, de tal forma pequena que a construção do coro ocidental (verificada na época moderna) provoca uma sensação de planta em cruz grega interna.
A cabeceira e a sua implantação num terreno irregular é outro aspecto interessante da igreja. Exteriormente, apresenta-se como uma fortaleza, com as janelas muito altas e a estrutura coroada por ameias, sugestão reforçada pela existência de poderosos contrafortes, que ajudam a vencer o desnível do terreno. Interiormente, porém, a rigidez formal é assumida de forma proporcional, com os absidíolos bastante mais baixos que a capela-mor.
A marcha das obras góticas do Convento revelou-se bastante demorada, não estando o conjunto terminado em 1354, altura em que D. Afonso Sanches pede ao seu filho, por testamento, que as conclua. Deste último período é o que resta da Sala do Capítulo, organizada de forma tripartida, como era usual, com porta axial ladeada por duas janelas (aqui tratadas de forma idêntica, com finos colunelos e pequenos capitéis vegetalistas que provam a sua tardia cronologia) e alçado coroado de ameias.
Muitas foram as alterações que se efectuaram no conjunto ao longo dos séculos seguintes. A mais importante verificou-se nos primeiros anos do século XVI, sob o impulso das abadesas D. Isabel de Castro e D. Catarina de Lima. A elas se deve a construção da capela dos fundadores, aberta por arco apontado de moldura inferior cairelada, e coberta por abóbada polinervada estrelada. No seu interior, as abadessas mandaram colocar os túmulos dos fundadores, refeitos para o efeito, de acordo com a estética do tempo manuelino. Dotados de jacentes ainda plenamente medievais, com D. Afonso a segurar a espada e com um leão aos pés e D. Teresa vestindo o hábito de clarissa, são das mais impressionantes obras de tumulária manuelina, saídas da oficina de Diogo Pires-o-Moço.
Outros enterramentos existem neste convento, que evidenciam a deliberada procura de alguns poderosos nomes da sociedade baixo-medieval por instituições mendicantes. De c. 1415 é o túmulo de D. Brites, decorado com motivos heráldicos, e da década de 40 de Quatrocentos é o moimento duplo dos Condes de Cantanhede, D. Fernando de Meneses e sua mulher, D. Brites de Andrade, obra claramente filiada no modelo inaugurado por D. João I e D. Filipa de Lencastre na Batalha.
Foto: Paulo Almeida Fernandes (2006) - IPPAR
Foto: Paulo Almeida Fernandes (2006) - IPPAR
Fundado no início do século XIV, a comunidade monacal de Santa Clara de Vila do Conde debateu-se desde o início da edificação do mosteiro com problemas relacionados com o abastecimento de água. Na época foi construído um tanque, uma “arca de água”, dentro da cerca do mosteiro, uma solução que se tornou insuficiente nas centúrias seguintes.
Em 1626 a abadessa do mosteiro, D. Maria de Meneses, deu início à construção de um aqueduto que transportaria as águas de uma nascente em Terroso até ao mosteiro. Os terrenos necessários à edificação foram adquiridos pela abadessa, e contrataram-se mestres pedreiros para darem início à fábrica de obras. No ano de 1636 estas eram interrompidas, devido a um problema de desnivelamento que inviabilizou todo o trabalho feito até então.
Em Dezembro de 1705 D. Bárbara de Ataíde, a nova abadessa, contratou o engenheiro militar Manuel Pinto de Villa Lobos e o capitão Domingos Lopes para delinearem um novo projecto para o aqueduto. A direcção das obras foi adjudicada a João Rodrigues, mestre pedreiro de Ponte de Lima. Algum tempo depois, o mestre abandonou as obras, por falência, pelo que as Clarissas entregaram a obra a Domingos Moreira, mestre de Moreira da Maia. Em Outubro de 1714 a água chegava pela primeira vez ao claustro do mosteiro.
O aqueduto era formado inicialmente por um conjunto de 999 arcos de volta perfeita, abrangendo uma extensão que ultrapassa o actual limite do concelho de Vila do Conde. No entanto, em 1794 um furacão destruiu parte da estrutura. Já no século XX, entre 1929 e 1932, quando a igreja de Santa Clara foi restaurada, alguns dos arcos foram intencionalmente deitados abaixo, para que se tivesse melhor vista sobre a abside do templo.
A estrutura subsistente apresenta uma arcada cuja altura e envergadura decrescem, apresentando nalguns troços fenestração no remate superior. A obra foi dedicada pelas freiras clarissas a Santo António, tendo sido colocada uma imagem do padroeiro no depósito do aqueduto.
Fonte: Catarina Oliveira - GIF/IPPAR/ 28 de Fevereiro de 2005
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