Segunda-feira, 2 de Fevereiro de 2009

Monte do Castelo de Gaia

 


Em termos arqueológicos, Vila Nova de Gaia cedo mereceu o interesse de curiosos e estudiosos, num contexto oitocentista assaz propício à realização de escavações, em pleno despertar europeu para a jovem ciência arqueológica, que teve de igual modo entre nós uma expressão bastante promissora. Desde José Leite de Vasconcellos (1858-1941), passando por António Augusto Esteves Mendes Corrêa (1888-?) até Ricardo Severo da Fonseca e Costa (1869-1940), foram vários os nomes de todos quantos se dedicaram à investigação arqueológica da cidade e seu concelho desde finais do século XIX até ao apogeu do Estado Novo, quando se observou um certo declínio nos estudos entretanto realizados neste âmbito tão específico da cultura portuguesa, em grande parte decorrente da ausência do necessário investimento estatal ao seu incremento generalizado. Esta situação seria, contudo, ultrapassada, assistindo-se a um visível e amplo desenvolvimento da investigação arqueológica conduzida ao longo das últimas três décadas, durante as quais se tem vindo a conceder uma atenção muito especial aos vestígios medievos da cidade de Vila Nova de Gaia, e, mais propriamente, a toda a área ocupada pelo "Castelo de Gaia".

A referência mais antiga de que há conhecimento sobre o "Castelo" remonta a meados do século XVI e é da lavra do conhecido cronista João de Barros (1496-1570), para quem He tão antigo que dizem o fundou Caio Julio Cesar e dahi tomou o nome, uma tradição, aliás, retomada dois séculos depois, quando se referiu serem os muros do "Castelo" fabrica do tempo, e uso Romano. Na verdade, estas alusões não deverão surpreender, pois ilustram bem o contexto cultural vivido nas duas centúrias, mesmo com duzentos anos a separá-las: enquanto a Era de quinhentos revivia a Antiguidade Clássica através do seu Renascimento, setecentos deslumbrava-se com a descoberta de sítios tão paradigmáticos da cultura ocidental, como Pompeia, Herculano e Estábia, enquanto se embrenhava no movimento Neoclássico.

Entretanto, e apesar de as estruturas se encontrarem bastante derrubadas e os materiais fragmentados e misturados, as escavações realizadas na "Área do Castelo de Gaia" (sobretudo a partir de 1983, sob orientação de Armando Coelho Ferreira da Silva) permitiram, por um lado, confirmar a sua ocupação durante o período romano e, por outro, relançar a velha questão da localização de Cale e de um dos dois Portucale. Além disso, as investigações trouxeram à luz do dia vestígios (nomeadamente de cerâmica mamilar) daquele que terá sido um povoado fortificado do Bronze Final (embora alguns materiais pareçam indiciar uma anterior presença humana durante o Calcolítico , com reutilizações datáveis do século I d. C. e Baixo Império Romano, confirmadas, ademais, pela identificação de vários troços de uma monumental muralha romana e recolha de uma vasta série de fragmentos cerâmicos, sem que surgissem, contudo, os elementos identificadores de um castelo medieval no seu perímetro.

Foram, no entanto, encontradas determinadas estruturas pétreas (algumas em negativo) e elementos cerâmicos cronologicamente atribuíveis à Alta Idade Média, Idade Média e Baixa Idade Média  embora a grande concentração de materiais pareça apontar para uma presença humana mais constante no local entre os séculos V e VII. Mas, quanto ao castelo medieval, propriamente dito, não será de afastar a hipótese de as suas estruturas terem sido destruídas pela população durante a crise de 1383-1385, como registou o cronista-mor do reino, Fernão Lopes (1380 ?-1460?), na sua Crónica de D. João I.

Estamos, pois, em presença de uma sobreposição de níveis ocupacionais com reutilização de materiais, a atestar, no fundo, a importância estratégica do local.

Texto: A Martins / IPPAR


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Quarta-feira, 21 de Janeiro de 2009

Capela de São Martinho – Vilar do Paraíso – Vila Nova de Gaia

Foto: DGEMN: DSID


A capela de São Martinho, situada numa pequena colina e rodeada por um adro arborizado, constituiu um dos mais importantes locais de culto da muito remota freguesia de Vilar do Paraíso.

A sua história é, no entanto, pouco conhecida. Não se sabe em que data foi edificada, mas a sua origem recua ao século XIV, época em que foi paroquial. A frontaria, barroca, remonta, muito possivelmente, à primeira metade do século XVIII. Nas Memórias Paroquiais de 1758 refere-se a existência de uma ermida dedicada a São Martinho "situada num monte no meio da freguesia", mas nada mais se acrescenta sobre o edifício. As restantes informações, acrescentadas pelo autor da transcrição, Francisco Barbosa da Costa, apenas dizem respeito às imagens que, em 1983, se veneravam na capela. No altar-mor encontrava-se a representação do padroeiro, São Martinho, acompanhado por São Miguel. Nos restantes altares, Santa Rita, Santo António, Santa Teresinha, Nossa Senhora das Dores do Sagrado Coração de Jesus, Nossa Senhora de Fátima e do Menino Jesus de Praga.

Já na década de 1990, a igreja foi objecto de uma profunda alteração, conservando-se apenas a fachada setecentista e a nave, pois os restantes volumes (capela-mor e sacristia) foram demolidos com o objectivo de ampliar o espaço da capela.

Assim, o elemento mais significativo deste conjunto é o alçado principal, revestido por azulejos de padrão azuis e brancos, contemporâneos, e flanqueado por pilastras, encimadas por pináculos. Ao centro, abre-se o portal, ladeado por duas janelas rectangulares, e encimado por frontão de aletas, interrompido por uma vieira. Sobrepõe-se-lhe um óculo quadrilobado e, sobre a empena, a torre sineira.

 

Texto: (Rosário Carvalho) / IPPAR


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Segunda-feira, 3 de Novembro de 2008

Afurada - Vila Nova de Gaia

 


Autor: Portojo


publicado por MJFSANTOS às 07:55
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Segunda-feira, 10 de Março de 2008

Biblioteca Municipal de Gaia

 

 


 

A Biblioteca Pública Municipal de V. N. de Gaia foi criada em 1933, a partir de um pequeno núcleo de livros, património de uma "Biblioteca Popular".

Ocupou diversas instalações, até que em 1977 ficou concluído o edifício mandado construir pela Câmara Municipal, que a viria a albergar passados dois anos, dando-se início a uma nova etapa na vida da Biblioteca, que viria a fazer dela um verdadeiro pólo de dinamização cultural do concelho.

Assim, a partir de 1979 a Biblioteca passou a funcionar num edifício construído de raíz exclusivamente para esse efeito o que, de uma forma primária e corajosa contrariou a tendência absurda de "aproveitar" conventos e casas senhoriais para nelas instalar bibliotecas ou museus.
A tendência verificada nos últimos anos de uma crescente afluência de leitores, a saturação de alguns dos seus serviços e a necessidade de diversificar os suportes de informação para além dos livros, estendendo-os à documentação audiovisual e multimédia, foram razões mais que suficientes para que surgisse a necessidade de ampliação e remodelação das instalações da Biblioteca.

Em 1987 a Autarquia avança com a 1ª fase do projecto de ampliação, projecto que viria a ser comparticipado mais recentemente pelo Instituto Português do Livro e das Bibliotecas, permitindo a conclusão da obra.

É esta Biblioteca remodelada e ampliada, dispondo de uma maior gama de serviços, que reabre ao público em 05/11/1997.

SERVIÇOS

Serviços disponiblizados nas instalações da Biblioteca :

Livre acesso às estantes para consulta local de documentos e empréstimo domiciliário.

Referência e informação para orientação dos utilizadores na Biblioteca e apoio nas pesquisas bibliográficas.

PLI - Posto Local Informático
Serviço que se destina à execução de trabalhos escritos em computador.

Fotocópias em regime de auto-serviço.

Informação à comunidade, disponibilizando documentação sobre temas da actualidade e aspectos de interesse para a comunidade local.

Acesso às novas tecnologias de informação, com a disponibilização de PC's , de informação em disquetes, CDrom's e pesquisa na Internet.

Actividades de extensão cultural, assentes fundamentalmente em projectos que tenham por base a aquisição de hábitos de leitura e o prazer de ler, como exposições, encontros com autores, conferências, debates, etc.

Cooperação com as Escolas, através de visitas guiadas à Biblioteca, apoio às Bibliotecas Escolares e participação em actividades de animação.

ESPAÇOS

Átrio
Aqui poderá o utilizador obter todas as informações úteis sobre a Biblioteca e o seu funcionamento, fazer a sua inscrição como leitor, levantar e devolver as obras destinadas a empréstimo domiciliário, informar-se sobre todas as actividades culturais desenvolvidas pela Autarquia em geral e pela Biblioteca em particular, encontrar pequenas exposições/painéis ilustrativos de acontecimentos e temas que funcionarão como propostas ou sugestões para os utilizadores da Biblioteca

Livraria
Aqui poderá adquirir as publicações editadas pela Câmara Municipal e Departamentos dela dependentes, bem como as obras dos autores locais.

Sala de Exposições
Para além das exposições, aqui poderão ocorrer também outras actividades de animação cultural, como concertos, debates e reuniões de interesse para a comunidade.

Secção de Periódicos
Aqui podem ser consultados jornais diários, semanários e revistas de divulgação geral.

Bar
Destina-se a funcionários e utilizadores da Biblioteca, servindo de espaço para uma pausa da leitura, tomar um café ou beber um refresco.

Fundo Local e Regional | Sala Armando de Matos Homenageando o primeiro Director da Biblioteca, ilustre estudioso de temas de genealogia, espeologia e etnografia, recebeu esta sala o seu nome.
Aqui encontra-se reunida boa parte de documentação que respeita a Gaia e à sua região, não só a ligada a um património cultural e natural, mas igualmente a que de alguma forma reflecte o quotidiano desta comunidade. Encontra-se também nesta sala uma variada colecção de monografias regionais que quase cobre todo o território nacional e nela se sirva igualmente um espaço exclusivamente destinado a autores locais. Dispõe ainda de dois gabinetes para trabalhar em grupo, com possibilidade de utilização de PC's e de um serviço de informação à comunidade que recolhe e difunde um conjunto de informações relacionadas com assuntos de interesse geral para os cidadãos.

Sala de Leitura
Dispõe de uma variada colecção de livros organizados por assunto devidamente identificados, podendo ser consultados dicionários, enciclopédias e outras obras de referência.

Sala de Audiovisuais e Documentação Multimédia
Este espaço destina-se à audição de música e visionamento individual de videos e CDrom's. Dispõe de terminais de computadores com acesso à Internet e como documentação de apoio tem à disposição dos utilizadores um conjunto de obras de referência e publicações periódicas sobre espectáculos, música e cinema.

Auditório
Espaço multidisciplinar que permite a realização de diversas actividades nas mais variadas vertentes, desde o simples debate à videoconferência

Espaço Crianças
Este espaço pretende recriar ambientes ligados ao imaginário infantil. É constituído por uma sala de leitura e empréstimo, por "ateliers" de linguagem expressivas e por um pequeno sector de audiovisuais.

Fundo Documental
A Biblioteca tem à disposição dos utilizadores mais de 100.000 livros, documentos audiovisuais e publicações periódicas, que cobrem todas as áreas de conhecimento. Dispõe ainda de alguns documentos manuscritos e de uma importante colecção de Livro Antigo (séc. XVI-XIX).

 


 

Foto: CM-Gaia

Texto: Porto XXI

 


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Sábado, 8 de Março de 2008

Paço do Campo Belo - Santa Marinha - V N Gaia


O Paço de Campo Belo situa-se em Santa Marinha, a mais antiga freguesia do concelho de Gaia, cujos limites se estendem desde a ponte D. Maria II até muito próximo da foz do rio Douro, na Afurada. A sua implantação, na encosta da zona histórica, transforma os jardins do Paço num local privilegiado, que desfruta de ampla panorâmica sobre a cidade do Porto.
O imóvel, construído no século XVII, foi alvo de intervenções nas centúrias seguintes. Ainda que, muito possivelmente, a Casa tenha pertencido sempre à mesma família, o título de Campo Belo é mais recente, tendo sido criado pelo Rei D. Luís, em Fevereiro de 1887, para distinguir aquele que foi o seu primeiro titular - Adriano de Paiva de Faria Leite Brandão, natural de Braga (1847-1907), que se salientou na área da Física e Química.
A Casa apresenta uma configuração singular, que se desenvolve em planta em "U", onde se enquadra a habitação, a capela e a torre. Esta última remata um dos topos do conjunto, recordando o modelo medieval da denominada casa-torre, o "primeiro tipo evoluído da residência nobre portuguesa", que se manteve ao longo dos séculos, principalmente no norte do país. De três andares, a torre desenvolve-se em altura, contrastando vivamente com o restante imóvel também ao nível dos materiais.
Do lado oposto, a capela é uma construção de cariz barroco, onde se percebe já a influência rococó nos concheados das molduras e recortes dos vãos. A fachada, de dimensões reduzidas, é dominada pela composição central que engloba o portal, a janela superior e o brasão da família. A frontaria termina em frontão contracurvado, com cruz no eixo central e fogaréus laterais. O alçado lateral é rasgado por duas grandes janelas, e o oposto liga-se à casa através de uma secção reduzida, em ângulo recto com o corpo principal.
Este, em forma de "L", apresenta uma arcaria no piso térreo, cujo ritmo é interrompido pelas escadas exteriores de acesso ao andar nobre. Situação semelhante acontece ao nível do piso superior, onde se abrem múltiplos vãos, entre uma arcaria recta formada por colunas de capitel dórico, sendo a sua leitura quebrada pela porta principal, antecedida por um alpendre.


Foto: Ana Cristina Nunes Martins/IPPAR

Texto: IPPAR


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Quinta-feira, 6 de Março de 2008

Igreja Santa Marinha - Vila Nova de Gaia

 


A igreja de Santa Marinha, em Vila Nova de Gaia, resulta de uma campanha de obras setecentista, responsável pela remodelação integral de um templo do século XVI. Todavia, entre o final do século XVII e o primeiro quartel do seguinte, temos conhecimento de uma série de intervenções de âmbito decorativo, que dotaram a igreja de um retábulo-mor, e de um outro retábulo dedicado ao Senhor Jesus, para além de reformas de pedraria na capela-mor.
A grande campanha barroca viria a acontecer a partir de 1745, quando o cabido da Sé do Porto, responsável pela conservação da igreja, decidiu reformá-la, "escolhendo naturalmente o seu arquitecto preferido, Nicolau Nasoni, que era, aliás, o único candidato de verdadeira estatura que, nessa época, a cidade lhe oferecia". Nasoni chegara a Portugal cerca de 20 anos antes, exercendo no Porto e arredores a sua actividade de pintor-arquitecto, tornando-se, por isso, numa das personagens mais significativas da arquitectura barroca do Norte do país.
Todavia, o projecto desenhado em 1745 não encontrou condições financeiras favoráveis, demorando largos anos até estar concluído, doze dos quais esteve mesmo parado (SMITH, 1979, p. 108). A obra de pedraria ficou concluída em 1748, sendo os rebocadores os mesmo que já haviam trabalhado na igreja dos Clérigos, uma das arquitecturas mais emblemáticas do arquitecto italiano. Ao nível do interior do templo, sabe-se que o entalhador (Manuel Pereira, da Batalha) adaptou os antigos retábulos aos novos altares.
Depois da sacristia, cujas obras tiveram início em 1751, a construção do templo esteve parada até 1763, quando se começou a edificação na nova capela-mor, lageada em Julho de 1765. Mas um problema de difícil concerto aconteceu nesse mesmo ano de 1763, resultante da abertura de uma fenda na parede Sul do corpo da igreja. A solução encontrada, depois de várias consultas, foi bastante dispendiosa.
Muito embora se pense que a igreja estaria concluída na década de 70, não se sabe ao certo em que data foi terminada a fachada. Aliás, o plano original, que incluía duas torres de planta poligonal (semelhante à da capela do Solar dos Ferrazes, junto à igreja da Misericórdia, na Rua das Flores, no Porto), não chegou a ser construído, tendo-se erguido as torres apenas até ao nível da cornija. A torre que hoje conhecemos remonta ao século XIX, mais concretamente ao ano de 1894, de acordo com uma placa patente na fachada. Curiosamente, este género de planta é mais um dos elementos que aproxima o trabalho de Nasoni com o traçado de outras igrejas brasileiras (igreja da Ordem Terceira de São Francisco de Ouro Preto ou de São João d'El Rei), atribuídas a António Francisco Lisboa, mais conhecido por Aleijadinho.
A fachada, de linhas simples, concentra, ao centro, a sua decoração, materializada numa composição que engloba o portal principal, com frontão semicircular, a partir do qual se desenvolve o janelão superior, cuja forma oval é acentuada pela cornija saliente que o remata superiormente. Esta, interrompe o frontão triangular da fachada, coroado por uma cruz trilobada assente sobre uma peanha de dupla voluta, e ladeado por pináculos de secção piramidal.
No interior, a nave, muito longa, é coberta por abóbada de berço, e o ritmo dos panos murários é marcado por duplas pilastras dóricas. Os altares de talha revelam uma linguagem característica do denominado "estilo nacional", devendo, por isso, ter substituído, em época posterior, os da capela original. Já os azulejos são um acrescento do século XIX.
Uma última referência para um dos elementos mais significativos do conjunto - as portas laterais que se abrem na capela-mor, e cujo desenho sinuoso evoca outras obras de Nasoni, nomeadamente o Palácio de São João Novo.


Foto: Ana Cristina Nunes Martins/IPPAR

Texto: IPPAR


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Segunda-feira, 3 de Março de 2008

Casa Barbot - Vila Nova de Gaia

 

 


 

O fenómeno da Arte Nova no nosso país esteve longe de conhecer a importância e desenvolvimento que ocorreu nos restantes países europeus, nomeadamente, em França, na Bélgica, ou na Áustria. Na realidade, a perspectiva actual da História da Arte tende a concordar que este movimento não passou, "(...) entre nós, de um mero episódio sem coerência nem continuidade, muito embora traga consigo o germe de uma nova linguagem".
Nesta medida, se em algumas localidades podemos encontrar vários exemplos desta nova expressão, a Arte Nova, em Portugal, tende a manifestar-se, sobretudo, na decoração das fachadas em azulejo, embora apresente características próprias ao nível da arquitectura .
A Casa Barbot, em Vila Nova de Gaia, reflecte precisamente, este carácter efémero e, de alguma forma, isolado, das manifestações Arte Nova, pois é o único exemplo da cidade. Desconhecemos as razões que terão levado os seus proprietários a adoptar esta nova linguagem para a sua casa de habitação, edificada na segunda década do século XX. Certo é que o seu impacto na malha urbana da cidade não passaria despercebido. De facto, a configuração da Casa Barbot denota, talvez, um entendimento da Arte Nova que ultrapassa o plano decorativo, para se estender a um nível de cariz mais estrutural, destacando-se no seio da Avenida da República pelo carácter quase orgânico dos seus volumes, desenvolvidos em planos diferenciados.
Contudo, não podemos deixar de salientar o significativo ecletismo de todo o imóvel, bem presente nas formas de inspiração árabe (cobertura), nos azulejos de inspiração neoclássica, ou ainda nos elementos de gosto oriental. O que, em última análise, permite aproximar este edifício de um gosto francês de finais do século XIX.
A fachada virada para a Avenida apresenta duas varandas sobrepostas, de composição conjunta. No ângulo, encontra-se um uma outra varanda em consola, de planta circular, com uma espécie de baldaquino em forma de bolbo, que corresponde, no piso térreo, a um duplo arco. A outra fachada destaca-se pelo terraço superior, com cobertura hexagonal ao centro, cujo desenho se reflecte no piso inferior, e escadaria exterior de acesso ao portal, protegido por cobertura de ferro. Esta cobertura em mansarda com óculos denota, uma vez mais, a influência francesa da segunda metade do século XIX, nomeadamente do Estilo Imperial de Napoleão III (c. 1852-1870).
Trabalharam neste imóvel artistas como o escultor Alves de Sousa, ou o pintor Veloso Salgado, este último responsável pela composição das salas do interior.
Por sua vez, também os jardins se revestem de especial importância, desenvolvendo-se em consonância com a casa, com a qual forma um todo.
A Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia adquiriu, recentemente, o imóvel, com o objectivo de o recuperar para aí instalar alguns serviços camarários.


 

 


(Fonte: IPPAR)


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Domingo, 2 de Março de 2008

Antigo Convento Corpus Christi - Gaia

igreja, vilanovadegaia

 

 


 

 

Construída no século XIV (1345), a igreja do convento de Corpus Christi de Gaia, de religiosas dominicanas, conheceu uma degradação gradual provocada pelas constantes cheias do rio Douro, o que originou a edificação de um novo templo, desenhado pelo Padre Pantaleão da Rocha de Magalhães, na segunda metade do século XVII . Este arquitecto foi responsável por várias obras no Porto e arredores, a primeira das quais o Corpus Christi.
A nova igreja das dominicanas de Gaia, de planta centralizada octogonal (com capela-mor rectangular e profunda, e dois coros sobrepostos, do lado oposto), repete o modelo do templo lisboeta do convento do Bom Sucesso de Belém, concluído em 1670 e pertencente à mesma ordem. Esta opção planimétrica integra Corpus Christi no conjunto de igrejas de planta centralizada que tomaram um modelo "quase" abandonado desde a primeira metade do século XV e que conheceu grande fortuna a partir de 1640, principalmente nas obras directamente relacionadas com o círculo da Rainha D. Luísa de Gusmão. Por outro lado, denuncia a concepção centralizada, subjacente à edificação das igrejas das religiosas dominicanas entre o início do século XVI e o final do século XVII, e que Paulo Varela Gomes tem vindo a relacionar com a liturgia motivada pelo culto e devoção particular dos dominicanos ao Santíssimo Sacramento, ou ainda com a tipologia dos sacrários, a partir do Concílio de Trento colocados, preferencialmente, em lugar de destaque no altar-mor. À luz do exposto, a invocação do convento de Gaia "impunha" uma planimetria centralizada, plena de simbolismo e eficácia litúrgica.
O templo resultante do traço de Pantaleão da Rocha de Magalhães, cujas obras tiveram início em 1675 e se prolongaram até ao final do século, tem sido considerado uma interpretação menor do modelo lisboeta, uma vez que muitas das soluções revelaram alguns problemas, principalmente ao nível da ligação dos coros, de planta rectangular, a uma igreja poligonal. Esta questão acabaria por ser resolvida entre 1677 e 1680, mas pelo pedreiro Gregório Fernandes, responsável pelo alargamento das paredes do coro, que em planta sugerem uma tenaz a segurar o polígono da igreja. Num dos braços dessa tenaz encontra-se uma construção de três arcos, que veio solucionar o problema da regularização do pátio, e "esconder" a escadaria de acesso à divisão que liga a igreja aos coros.
No interior, destaque para o cadeiral do coro em talha, que remonta à segunda metade de Seiscentos, onde sobressai a expressividade de determinadas máscaras e animais. A pintura e a imaginária que decoram a igreja (tecto do coro alto, espaldar do cadeiral e retábulos), apresentam uma iconografia que se enquadra nas temáticas da Ordem. Representam santos dominicanos acompanhados de outros que não pertencem à Ordem, mas que se enquadram na espiritualidade da época, destacando-se três devoções principais - o Santo Rosário, o nome de Jesus e a Eucaristia.


IPPAR


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Sábado, 1 de Março de 2008

Sanatório Maritimo do Norte - V N Gaia

 

Foto: Manuel de Sousa

É numa zona relativamente isolada, nas proximidades da praia, que se erguem a "Clínica Heliântia" e o "Sanatório Marítimo do Norte", no meio do Pinhal de Francelos.

Entre finais do século XIX e princípios do século XX, a Europa assistiu a um movimento assaz inovador de construção de "sanatórios", preferencialmente edificados em zonas onde se pudesse vislumbrar uma Natureza ainda pouco transformada pelo desenvolvimento económico, designadamente junto ao mar, com base no conceito formulado pelo médico suíço, Arnold Rikli (1823-1906), segundo o qual "A Água é benéfica; o ar é ainda mais, mas a luz é melhor". Contudo, o início da 1.ª Guerra Mundial (1914-1918) provocaria um acentuado decréscimo na sua proliferação. Foi, no entanto, em pleno conflito bélico, e numa altura em que Portugal se envolvia directamente no seu desenrolar, em 1916, que se procedeu à construção do Sanatório Marítimo, concebido pelo arquitecto Francisco de Oliveira Ferreira (1884 - 1957) a quem, em 1909, se atribuíra o primeiro lugar no concurso para o monumento a erguer aos Heróis da Guerra Peninsular, na cidade de Lisboa.

E terá sido, precisamente, esta sua primeira incursão pelos meandros de uma arquitectura especializada na área da saúde pública que o motivou a examinar os principais modelos europeus da época nesta área, a fim de conceber um novo projecto para as proximidades do sanatório. Foi com essa finalidade que, juntamente com o Dr. Ferreira Alves, decidiu deslocar-se à Suíça, onde visitou as clínicas do Dr. Rollier (1874 - 1958), em Leysin, famosas pelas técnicas inovadoras que implementava ao nível da Helioterapia. É certo que a acção benéfica do Sol era conhecida há algum tempo, como comprovavam os trabalhos de cientistas do século XVIII, como Lazzaro Spallanzani (1729-1799), L. L. Loreti, Faure e Le Peyre e Comte, assim como de Christoph Wilhem Hufeland (1762-1836), do médico francês Bertrand, e de muitos outros que, ao longo de toda a centúria de oitocentos dissertaram sobre o assunto, assaz pertinente num século que vira aumentar o número de tuberculosos. Mas foi, sobretudo, no dealbar do século XX que a Europa assistiu a uma multiplicação de estabelecimentos de saúde consagrados à Helioterapia, nomeadamente para tratamento da tuberculose pulmonar, como a coxalgia, "Mal de Pott", peritonite tuberculosa, etc. E foi, assim, que, a par dos inaugurados em Saint Moritz (França) e em Veldes (Áustria), o sanatório helioterápico de Rollier obteria enorme sucesso, funcionado como verdadeiro protótipo de muitos outros construídos um pouco por todo o Continente europeu.

Reunidos todos os elementos indispensáveis à delineação de tão ambicionado projecto, F. de O. Ferreira iniciou a sua concepção em 1926, com base nos mais modernos conceitos da Helioterapia que aí visionara, e que deveria ganhar corpo em breve na praia de Valadares. Em 1930, inaugurava-se a "Clínica Heliântia", edificada segundo os parâmetros mais exigentes desta nova tipologia arquitectónica, onde o autor utilizou de modo arrojado e inovador alguns pormenores, tornando-se numa verdadeira fonte inspiradora para outros projectos nacionais.

De planta rectangular de quatro pisos com pé direito duplo e cobertura plana revestida com lajes de betão, toda a estrutura é ritmada pelas varandas abertas e separadas por pilares redondos e estriados; pela própria diversidade volumétrica, assim como através de outros elementos, como o escalonamento dos terraços e a presença do próprio solarium. Concebida em função da luz solar, as fachadas Nascente e Poente apresentam balcões sobrepostos verticalmente, enquanto os amplos degraus da fachada Sul recebem a luz solar sem qualquer interferência. No interior, ainda é possível observar a escadaria principal e as grades do antigo elevador, onde o principal elemento decorativo é assumido pelo girassol, presente nos demais recantos da clínica, como nos mosaicos dos pavimentos e nalguns candeeiros de tecto.

(Texto: IPPAR)


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Sexta-feira, 29 de Fevereiro de 2008

Igreja Serra do Pilar - Vila Nova de Gaia

igreja, vilanovadegaia

 

Foto: JohnnyMass


Iniciada a reforma da Ordem dos Agostinhos por ordem de D. João III, sob a direcção de Frei Brás de Barros, os monges de São Salvador de Grijó foram transferidos para a Serra do Pilar. Foi então iniciada em 1537 a construção de um novo mosteiro na serra de Gaia, segundo projecto da autoria de Diogo de Castilho e João de Ruão. Em 1542 trabalhava-se na edificação dos alicerces da igreja e do claustro, bem como das salas do capítulo e do refeitório. A primeira fase da obra estaria terminada em 1567 e em 1576 iniciava-se a construção do claustro circular, terminado nos primeiros anos da década de 80.
Em 1598 o prior D. Acúrsio de Santo Agostinho considerou a igreja do mosteiro "pequena e acanhada", pelo que decidiu refazer a estrutura do templo, consagrando-a a Santo Agostinho. A planta, de secção circular, adequava-se à estrutura do claustro, formando então os dois espaços um "infinito perfeito", destruído pela construção do retro-coro em 169. No entanto a estrutura circular da nova igreja, na "forma da [igreja] de Santa Maria Redonda de Roma", segundo os cronistas da ordem, foi com certeza inspirada no primeiro projecto da década de 30, uma vez que a planimetria empregue era não só desajustada ao gosto arquitectónico da época como "desadequada" às normas tridentinas então vigentes.
As obras do templo iriam arrastar-se por várias décadas, uma vez que foram interrompidas nos primeiros anos do século XVII, sendo terminada a edificação entre 1669 e 1672, data em que era finalmente inaugurada.
De planta centrada, circundado por capelas, o espaço interior da igreja é dividido por duplas pilastras corintizantes que se prolongam num entablamento até à cúpula. A estrutura circular da igreja é quebrada pela capela-mor, refeita em 1690, cujo arco triunfal destrói "deliberadamente a harmonia rítmica de todo o alçado".
É perceptível a semelhança deste templo com os de Grijó e de Moreira da Maia, podendo afirmar-se que em Santo Agostinho do Pilar se transpõe para uma planta circular o modelo daquelas igrejas. Pese embora a diferença de planimetria, é evidente a mesma concepção estilística e arquitectónica, evidenciando no tratamento dos elementos interiores o gosto estético dos Agostinhos.
Actualmente, a planta do claustro apresenta-se "torcida" em relação ao conjunto do edifício, facto que se deve à forma como este foi remontado em 1690, quando foi deslocado da sua localização original devido à construção do retro-coro. Inserido num quadrado regular, cujos cantos são ocupados por quatro capelas circulares, é dominado por uma colunata jónica e rematado superiormente por volutas e pináculos, elementos decorativos maneiristas de inspiração nórdica.
No panorama da arquitectura contra-reformada, no qual se apresenta como um projecto sem paralelo, o mosteiro de Santo Agostinho da Serra do Pilar é considerado "um dos mais notáveis edifícios da arquitectura clássica europeia de todos os tempos devido à sua igreja e ao seu claustro, ambos circulares e da mesma dimensão em planta"


igreja, vilanovadegaia

 

igreja, vilanovadegaia


Fonte: IPPAR


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